
Vídeos relacionados:
O presidente Donald Trump propôs excluir os imigrantes indocumentados do censo dos Estados Unidos, com o objetivo de modificar a distribuição do poder político em favor do Partido Republicano.
De acordo com a agência AP, Trump instruiu o Departamento de Comércio a mudar a forma como o Escritório do Censo coleta dados, afirmando que se baseará em “números atuais” e nos resultados das eleições presidenciais de 2024.
Através da sua rede Truth Social, o mandatário disse que as mudanças eliminarão da contagem as pessoas que se encontrem “ilegalmente em nosso país”.
Especialistas e constitucionalistas apontaram que o plano de Trump poderia ser inviável do ponto de vista legal e logístico, uma vez que a realização de um novo censo requer a aprovação do Congresso e é regulamentada pela Lei do Censo e pela Constituição, informou AP.
Além disso, o censo serve para distribuir mais de 2,8 trilhões de dólares em fundos federais.
“A Constituição estabelece que deve ser contado o número total de pessoas em cada estado”, lembrou Terri Ann Lowenthal, ex-assessora legislativa especializada em questões censitárias.
“Trump não pode ordenar unilateralmente um novo censo. É uma ideia mal elaborada”, sublinhou a fonte citada.
O anúncio faz parte de um padrão em que Trump tentou moldar a seu favor indicadores chave como o emprego e a distribuição dos distritos eleitorais.
Neste caso, busca que estados controlados por republicanos, como Texas, Indiana ou Missouri, redesenhem seus mapas congressionais antes do previsto, algo que poderia resultar em mais cadeiras para seu partido nas eleições de meio mandato de 2026.
A proposta também revive a sua tentativa frustrada de 2019, quando quis incluir uma pergunta sobre cidadania no censo de 2020, lembrou AP.
A Corte Suprema bloqueou essa medida após avisos de que milhões de imigrantes e latinos poderiam ficar sem contagem, distorcendo os resultados.
A última tentativa séria de excluir os indocumentados das estatísticas oficiais também fracassou nos tribunais inferiores.
A Suprema Corte evitou se pronunciar a fundo após a derrota eleitoral de Trump em 2020, deixando o tema em suspenso legal.
Enquanto isso, a nova ofensiva sobre o censo já está gerando tensões entre democratas e republicanos e pode resultar em novas ações judiciais.
O governador republicano Ron DeSantis voltou a questionar o censo de 2020 e propôs redistribuir distritos em seu estado antes das eleições legislativas de 2026, insinuando que o crescimento populacional não foi corretamente refletido.
Durante um evento em Tampa, disse que a Flórida deveria ter mais representação no Congresso, uma vez que, segundo ele, o censo de 2020 subestimou o crescimento real do estado.
As declarações foram coletadas pelo meio especializado Florida Politics, que reportou os detalhes do encontro na Hillsborough Academy of Math and Science.
DeSantis denunciou o que qualificou como "malapportionment" —desequilíbrio na representação— resultado de uma contagem interrompida em abril de 2020, quando começava a pandemia de COVID-19.
Segundo ele afirmou, alguns funcionários da administração Trump comentaram que, se o censo tivesse sido realizado corretamente, a Flórida teria ganho entre três e cinco cadeiras adicionais na Câmara dos Representantes.
Embora não tenha apresentado nenhuma análise técnica que sustente essa afirmação, DeSantis reiterou que sua administração está explorando vias legais e legislativas para promover uma nova redistribuição de distritos, mesmo sem um novo censo, e que observaria “com bons olhos” qualquer esforço do Congresso estadual nesse sentido.
O governador também acusou os chamados “estados azuis” —de maioria democrata— de terem inflado artificialmente sua população ao incluir imigrantes indocumentados na contagem do censo, algo que, segundo afirmou, é “inconstitucional”.
“Não ia usar dinheiro do contribuinte para isso”, sentenciou, referindo-se à sua negativa em financiar processos semelhantes na Flórida.
Em outro momento, DeSantis sugeriu que esse desfasamento na representação nacional poderia ter potencialmente alterado o equilíbrio do Colégio Eleitoral em 2024.
Disse que, se o suposto erro não tivesse sido corrigido, Kamala Harris poderia ter ganho com apenas três estados do chamado "Rust Belt", o que —na sua opinião— teria causado uma “crise constitucional” porque “com um censo correto, Trump teria ganhado também, mesmo perdendo esses estados”.
Também citou o secretário de Comércio, Howard Lutnick, que —segundo DeSantis— compartilha a ideia de que “o censo foi defeituoso” e que a Flórida não recebeu as cadeiras que devia.
Perguntas frequentes sobre a proposta de Trump de excluir imigrantes indocumentados do censo
O que Trump busca ao propor excluir imigrantes indocumentados do censo?
Donald Trump propõe excluir os imigrantes indocumentados do censo com o objetivo de modificar a distribuição do poder político a favor do Partido Republicano. Isso permitiria que estados controlados pelos republicanos redesenhassem seus mapas congressionais, o que poderia resultar em mais assentos para seu partido em futuras eleições.
É legal a proposta de Trump sobre o censo?
Especialistas e constitucionalistas apontaram que a proposta de Trump pode ser inviável do ponto de vista legal e logístico, uma vez que a realização de um novo censo requer a aprovação do Congresso e está regulamentada pela Lei do Censo e pela Constituição dos Estados Unidos, que estabelece que deve ser contado o número total de pessoas em cada estado.
Como a exclusão de imigrantes indocumentados do censo poderia afetar a distribuição de fundos federais?
O censo é uma ferramenta fundamental para a distribuição de mais de 2,8 trilhões de dólares em fundos federais. Excluir os imigrantes indocumentados poderia distorcer a distribuição desses recursos, afetando comunidades que dependem desses fundos para serviços essenciais como educação, saúde e transporte.
Qual é o impacto histórico das tentativas de Trump de modificar o censo e o sistema eleitoral?
Trump já tentou, sem sucesso, incluir uma pergunta sobre cidadania no censo de 2020, medida que foi bloqueada pela Suprema Corte. Além disso, ele assinou ordens executivas para reformar o sistema eleitoral, buscando limitar o voto de estrangeiros e garantindo que apenas cidadãos americanos possam participar das eleições. Essas tentativas fazem parte de um padrão de políticas que buscam alterar a representação política em nível federal.
Arquivado em: