Para Lisandra e Wilson, um casal cubano, a vida se desenrola em pouco mais de 30 metros quadrados no México, com ventilador, cozinha, camas compartilhadas e a gratidão por uma nova oportunidade.
“Não é o sonho americano, mas para mim é um sonho bonito”, diz Lisandra, enquanto exibe orgulhosamente seu CURP, o documento que comprova sua permanência legal no país.
Ambos fazem parte do êxodo de mais de 300.000 cubanos que abandonaram a ilha entre 2023 e 2024, e que, em vez de continuar até os Estados Unidos, optaram por buscar refúgio no México.
A chegada de Donald Trump à presidência em janeiro de 2025 marcou um ponto de inflexão para muitos migrantes.
“Estávamos conscientes de que vínhamos para cá”, afirma Lisandra.
Sua história foi divulgada em um vídeo publicado no TikTok pela Azteca Noticias, onde são mostrados depoimentos de vários migrantes que decidiram se estabelecer no México.
As imagens revelam a precariedade, mas também a determinação daqueles que preferem segurança e legalidade a viver na clandestinidade, e, acima de tudo, a sobreviver em Cuba.
Lisandra trabalha fazendo limpeza em uma casa e recebe um pagamento diário, enquanto Wilson ganha 2.800 pesos quinzenais em uma pequena praça, mas eles precisam pagar 5.000 pesos de aluguel mensal.
“Nos restam 600 pesos”, admite, e apesar de estarem abaixo do salário mínimo, valorizam a tranquilidade que têm agora.
“Já não tenho medo”, diz ela, ao recordar os dias em que caminhava com temor.
Em Tapachula, cidade fronteiriça de Chiapas, o fenômeno é visível. Cubanos como Jordan já não sonham com os EUA: “Nah, eu já quero ficar aqui no México”, diz, embora sua meta seja chegar a Cancún.
Tapachula, antes considerada apenas uma porta de entrada, se torna para muitos o único destino possível.
A Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR), responsável por proteger pessoas deslocadas devido a conflitos ou perseguições, estima que em 2024 foram recebidas cerca de 80.000 solicitações de asilo no México. As nacionalidades mais frequentes são Cuba, Haiti, Venezuela, Honduras e Nicarágua.
Enquanto alguns já trabalham, outros como Dixie ainda aguardam uma resposta da Comissão Mexicana de Ajuda a Refugiados (Comar), após meses de ter iniciado o processo. “Até aqui já é a esperança”, diz resignada.
O cubano Yaimer, que trabalha com madeira na rua, resume assim: “A gente fala do sonho, mas na vida real a gente saiu do seu país para melhorar. E aqui não vai mal para a gente... Tendo trabalho, aqui se vive”.
Para milhares de migrantes, o México não é um destino dos sonhos, mas sim uma terra onde, pelo menos, é possível recomeçar.
No entanto, as dificuldades para conseguir um emprego fazem parte do dia a dia. Uma cubana denunciou a complexidade de acessar o mercado de trabalho no México, onde a discriminação e a falta de documentos atualizados são barreiras constantes.
Apesar disso, outros encontram formas criativas de seguir em frente. Um jovem transformou sua vida tornando-se palhaço de festas, uma alternativa que lhe permitiu se sustentar financeiramente e ganhar espaço na comunidade local.
A incerteza legal também é uma constante. Vários cubanos denunciaram atrasos e obstáculos em seus processos de asilo, e até mesmo a falta de assessoramento jurídico adequado. Essas demoras não apenas afetam a estabilidade emocional dos solicitantes, mas também limitam suas oportunidades de inserção no mercado de trabalho e na educação.
Ainda assim, há quem consiga pequenas vitórias. Um migrante cubano compartilhou sua alegria por ter conseguido emprego, descrevendo esse momento como “o dia mais feliz” de sua vida.
Perguntas frequentes sobre a mudança do "sonho americano" para o "sonho mexicano" para os migrantes cubanos
Por que os cubanos estão optando pelo "sonho mexicano" em vez do "sonho americano"?
O endurecimento das políticas migratórias nos Estados Unidos sob a administração de Donald Trump levou muitos cubanos a considerar o México como um destino mais viável. A segurança, a possibilidade de legalizar seu status e a oportunidade de trabalhar e se estabelecer no México são fatores que estão influenciando essa decisão.
Quais são os desafios enfrentados pelos migrantes cubanos no México?
Os migrantes cubanos enfrentam desafios econômicos e sociais, como o alto custo de vida e os baixos salários, especialmente em locais como Tapachula. Além disso, os escritórios de asilo estão saturados, o que provoca longas esperas e processos incertos para obter refúgio. Esses desafios complicam a estabilidade econômica e social dos migrantes cubanos no México.
Como a política migratória de Donald Trump está impactando os fluxos migratórios para os Estados Unidos?
A política migratória de Donald Trump resultou em uma queda histórica nos cruzamentos de fronteira para os Estados Unidos, especialmente de cubanos. Em fevereiro de 2025, foram registrados apenas 150 entradas de cubanos, o que contrasta drasticamente com os números anteriores. Isso forçou os migrantes a repensar suas rotas e considerar outros destinos, como o México.
Quais opções têm os migrantes cubanos no México para regularizar sua situação?
Os migrantes cubanos podem solicitar asilo ou refúgio através da Comissão Mexicana de Ajuda a Refugiados (COMAR). No entanto, o processo é lento e pode ser caro se for necessária assessoria jurídica. Apesar das dificuldades, muitos cubanos optam por regularizar sua situação no México devido à impossibilidade de avançar para os Estados Unidos.
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