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Enquanto Cuba enfrenta uma prolongada crise de habitação e escassez de materiais de construção, em Pinar del Río aposta-se em uma alternativa ancestral: construir com terra, cal e argila, que além disso –afirmam os especialistas– é capaz de resistir a furacões.
Uma capacitação prática liderada por especialistas mexicanos, com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), mostrou a técnicos, pedreiros e estudantes da província como levantar telhados abobadados utilizando materiais locais.
“Queremos resgatar sistemas construtivos tradicionais que já demonstraram ser úteis e resistentes”, destacou Ramón Aguirre, arquiteto mexicano e diretor do Instituto de Bóvedas Mexicanas e Tecnologias Regionais (IBOMEX), um dos formadores.
Durante a semana de formação, foram levantadas estruturas de abóbada de pechina e de canhão, utilizando tijolos feitos à mão e argamassas elaboradas sem cimento, por meio de misturas de cal, terra e argila.
Participaram trabalhadores do sistema de habitação, estudantes do Instituto Politécnico Pedro Téllez e produtores locais.
Também foi incluído um módulo sobre a produção de tijolos maciços de argila, sob a responsabilidade de um mestre da província de Guantánamo.
O objetivo: diversificar a produção local de materiais de construção diante da persistente escassez e da dependência de insumos importados, como cimento e aço, cuja ausência no mercado cubano desacelera a recuperação habitacional, já precária por si só.
O pano de fundo que dá sentido a esta iniciativa – visivelmente um esforço desesperado do regime – é a passagem do furacão Ian em 2022, que causou danos severos no estoque habitacional de Pinar del Río, cujas marcas ainda estão presentes na geografia dessa província.
Quase dois anos depois, muitas famílias ainda não conseguiram recuperar suas moradias, e diante desse cenário, essas técnicas surgem como uma resposta possível, embora limitada, a uma problemática estrutural que o Estado não conseguiu resolver.
“Hoje é muito importante gerar esses conhecimentos e utilizá-los nas habitações que estão sendo reconstruídas”, disse Jesús Nilo Soca Muñiz, coordenador de programas do Governo Provincial.
O projeto, implementado com o apoio da Defesa Civil, do Ministério da Construção e de fundos da União Europeia, faz parte de uma estratégia maior para fortalecer as capacidades locais de resposta a desastres.
No entanto, além do entusiasmo institucional, fica evidente a precariedade que obriga a olhar para o passado em busca de soluções no presente.
Embora técnicas como essas possam representar uma via prática e contextualizada para certas comunidades rurais, não substituem uma política pública abrangente de habitação, nem resolvem a falta de recursos que continua a afetar milhares de famílias cubanas.
Mas, é a primeira vez que o regime incentiva esse tipo de práticas? Por mais inusitado que pareça, a resposta é não.
Em 2022, em meio à crise habitacional que predominava no país naquela época –e ainda persiste atualmente–, em Trinidad, na província de Sancti Spíritus, promovia-se a construção de moradias com barro.
"Oneida Ortiz, resident of the town of San Pedro, sees her adobe house being built thanks to the hands of many Cuban and foreign friends who are attending the 20th Ibero-American Seminar on Architecture and Earth Construction in Trinidad, Cuba," shared on Facebook a journalist from Radio Trinidad.
Esse mesmo ano, em Pinar del Río, foi retomada a construção de habitações com telhados de arco como uma “alternativa” diante da aguda escassez de materiais de construção em Cuba.
Mais recentemente, em 2025, o regime começou a impulsionar vários projetos que incluem edificações a partir de contêineres marítimos, como parte de suas propostas para atenuar o déficit de habitações na província de Holguín.
O pano de fundo de todas essas "iniciativas" é um só: o setor da construção de habitações em Cuba atravessa uma longa e profunda crise.
A profunda queda na construção de habitações em Cuba é um sinal inequívoco da debacle econômica e social que atravessa o país: em 2024 foram construídas menos casas do que nos piores anos do Período Especial, o que evidencia o colapso sustentado da capacidade do Estado para atender uma das necessidades mais básicas da população.
Outro dado revelador é que o déficit habitacional em Cuba supera as 800.000 moradias, mas o regime mal consegue construir uma fração mínima: a falta de materiais, o colapso da indústria local e a má gestão estatal agravam uma crise estrutural que afeta diretamente a qualidade de vida de centenas de milhares de cubanos.
Perguntas frequentes sobre a construção de habitações com técnicas ancestrais em Cuba
Por que estão sendo utilizadas técnicas ancestrais para a construção de habitações em Pinar del Río?
A utilização de técnicas ancestrais em Pinar del Río deve-se à escassez de materiais de construção modernos em Cuba e à necessidade de encontrar alternativas sustentáveis que possam resistir a fenômenos naturais como os furacões. Esta iniciativa é um esforço para diversificar a produção local de materiais diante da dependência de insumos importados.
Que materiais estão sendo usados nessas construções alternativas?
Earth, lime, and clay are used to build structures such as vaulted roofs and handmade bricks. These materials are locally available and do not require cement, which is critically scarce in Cuba.
Quais organismos apoiam o projeto de construção com técnicas tradicionais em Cuba?
O projeto conta com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), do Ministério da Construção, da Defesa Civil e de fundos da União Europeia. Além disso, a capacitação é liderada por especialistas mexicanos do Instituto de Bóvedas Mexicanas e Tecnologias Regionais (IBOMEX).
Estas técnicas de construção realmente podem resistir a furacões?
Segundo os especialistas, as técnicas ancestrais de construção com terra, cal e argila são capazes de resistir a furacões. A intenção é retornar a métodos que historicamente se mostraram úteis e resistentes, adequados para enfrentar desastres naturais na região.
Qual é o contexto da crise habitacional em Cuba?
Cuba enfrenta uma profunda crise habitacional devido à escassez de materiais de construção, como o cimento, à falta de investimento e a uma gestão ineficaz do governo. Projetos como o uso de contêineres marítimos e técnicas ancestrais são tentativas do regime para amenizar o déficit de moradias, embora não substituam uma política integral de habitação.
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