Deputado cubano defende que não haja confrontos na Assembleia Nacional: “Essa não é a nossa ética”

O deputado cubano Danhiz Díaz defende a falta de confrontação na ANPP, gerando críticas por justificar a ausência de debate. Cidadãos exigem mais discussão e prestação de contas.

Cidadãos denunciam que essa “ética” tem servido para encobrir fracassos políticosFoto © Cubadebate/Captura de vídeo do Facebook Arnaldo Rodríguez

O deputado cubano Danhiz Díaz Pereira defendeu em uma recente intervenção que na Assembleia Nacional do Poder Popular (ANPP) não deve haver enfrentamento nem conflito, aludindo que essa não é “a ética” do parlamento cubano.

Segundo o engenheiro industrial e representante do município habanero de Marianao, o consenso e o diálogo são as bases do funcionamento legislativo, e sugeriu que os debates confrontativos são “caricaturas” improdutivas que afastam das soluções.

A seu ver, o órgão legislativo cubano deve permanecer longe de parecer-se “a essas caricaturas de parlamentos que mostram confrontação” porque “há uma ideia no imaginário popular de que se não há conflito não há democracia”, ressaltou durante sua intervenção, um dos fragmentos foi compartilhado em seu perfil de Facebook pelo músico e também legislador Arnaldo Rodríguez.

A reação pública não se fez esperar. Na própria publicação, muitos cubanos criticaram duramente o discurso do deputado. Apontaram que essa postura justifica a ausência de debate crítico dentro do parlamento e reforça a submissão frente a figuras do poder.

Comentários como os de Andy Giovel Domínguez evidenciam a percepção de que na ANPP não há verdadeiro intercâmbio de ideias, mas aplausos automáticos e falta de questionamentos reais. “Não há consenso onde apenas a posição oficial prevalece”, sentenciou.

Outros usuários lembraram que sem debate não pode existir consenso genuíno. “O debate não é conflito”, escreveu Michel Roque, ressaltando que discordar é uma parte essencial de qualquer processo democrático.

As críticas mais severas apontaram para a falta de resultados concretos das estratégias do governo e para uma “ética não confrontativa” que, em vez de resolver os problemas, os perpetua.

Alguns comentários foram ainda mais diretos. "Claro que à ditadura não gosta do confronto", escreveu Yoendris Lambert, que acusou os deputados de manterem discursos vazios para preservar privilégios sem melhorar a situação do país.

Alina M Menéndez foi incisiva: “Qualquer proposta de confiança deve ser comprovada com resultados. Divergir não é afastar-se da solução.”

Vários usuários associaram a falta de debate a decisões desastrosas do passado, como a implementação do reordenamento econômico, e responsabilizaram a ANPP por aplaudir funcionários que negam a realidade do país.

Daynet Castañeda questionou diretamente o deputado: "Deve rever a noção de confrontação no pensamento marxista."

As críticas também apontaram para a legitimidade do próprio parlamento. Embora o deputado tenha afirmado que não são designados por um partido, mas eleitos pelo povo, comentários como os de Claudio Gaitán desconstruem essa narrativa

“Embora não sejam 'formalmente' eleitos pelo partido, eles são selecionados e aprovados por estruturas controladas pelo PCC (as chamadas Comissões de Candidatura), e não existe uma competição eleitoral genuína”, argumentou.

O discurso do jovem deputado Díaz, longe de acalmar os ânimos, evidenciou o crescente desencanto com um órgão legislativo que muitos já não consideram representativo. As denúncias cidadãs mostram uma exigência clara: mais debate real, mais prestação de contas, menos simulacro de pluralismo.

El Partido Comunista de Cuba (PCC) tem tentado se defender das críticas às nomeações de candidatos a deputados da ANPP argumentando que democracia não significa multipartidarismo.

Embora o PCC insista em defender a "democracia" cubana, apelando para um sistema eleitoral que, segundo eles, favorece o acesso do povo ao poder, seu sistema de partido único não permite que indivíduos não filiados a esse partido tenham acesso a uma representação diferente.

Em julho de 2024, o mandatário Miguel Díaz-Canel fez uma defesa do sistema político cubano e da aprovação de suas leis por unanimidade na ANPP, algo que considerou característico de uma “rara ditadura” como a cubana, guiada e “movida pelos interesses do povo”.

No discurso de encerramento do terceiro período ordinário de sessões da X Legislatura da ANPP, o também primeiro secretário do Partido Comunista de Cuba (PCC) justificou o procedimento de ratificação de leis do parlamento cubano, ao qual tantas vezes se critica a “unanimidade” exibida, sem oposição aberta nem votos contrários, próprio das farsas democráticas apresentadas pelos regimes totalitários.

Meses depois, em dezembro, o governante designado pelo general do Exército Raúl Castro afirmou novamente que a ANPP é "a mais representativa do mundo".

Até o momento, a deputada Mariela Castro, filha de Raúl Castro e sobrinha do ditador Fidel Castro, foi a única mão levantada no parlamento cubano para votar “não” contra o projeto de Código de Trabalho, por considerar que não protegia suficientemente as pessoas com identidades de gênero não convencionais ou com HIV.

A votação ocorreu em dezembro de 2013 a portas fechadas, mas foi revelada meses depois por ativistas, destacando-se como um ato sem precedentes, pois até aquele momento nunca antes um legislador havia rejeitado abertamente uma norma na ANPP, mesmo em casos polêmicos como a reforma da segurança social.

Perguntas frequentes sobre o funcionamento da Assembleia Nacional do Poder Popular em Cuba

Por que o deputado Danhiz Díaz Pereira defende a ausência de confrontos na Assembleia Nacional de Cuba?

O deputado Danhiz Díaz Pereira argumenta que a falta de confrontos na Assembleia Nacional é parte da "ética" do parlamento cubano, apontando que o consenso e o diálogo são as bases do funcionamento legislativo. Segundo ele, os debates confrontativos são "caricaturas" improdutivas. No entanto, essa postura tem sido criticada por cidadãos que veem a ausência de debate crítico como uma justificativa para a submissão ao poder.

Qual é a percepção pública sobre o debate na Assembleia Nacional do Poder Popular?

A percepção pública é que na Assembleia Nacional do Poder Popular não há uma verdadeira troca de ideias, mas sim um aplauso automático às decisões do governo. Muitos cidadãos criticam a falta de questionamentos reais e veem a ética não confrontativa como um perpetuador de problemas em vez de um solucionador.

Como são eleitos os deputados na Assembleia Nacional de Cuba?

Embora o governo cubano sustente que os deputados são eleitos pelo povo, a realidade é que são selecionados e aprovados por estruturas controladas pelo Partido Comunista de Cuba. Não existe uma competição eleitoral genuína, já que as Comissões de Candidatura, que são controladas pelo PCC, desempenham um papel fundamental no processo.

Quais reações as declarações de Díaz-Canel sobre a democracia em Cuba geraram?

As declarações de Miguel Díaz-Canel, onde afirma que Cuba é mais democrática que os Estados Unidos, foram recebidas com rejeição e zombarias por muitos cubanos. As críticas se concentram na falta de eleições livres e na repressão política, e muitos cidadãos veem essas afirmações como uma manipulação flagrante da realidade.

Arquivado em:

Equipe Editorial da CiberCuba

Uma equipe de jornalistas comprometidos em informar sobre a atualidade cubana e temas de interesse global. No CiberCuba, trabalhamos para oferecer notícias verídicas e análises críticas.