Raúl Castro move peças: foi ele quem propôs eliminar o limite de idade para acessar à Presidência

Raúl Castro, aos 94 anos, impulsionou a eliminação do limite de idade para a Presidência de Cuba, aprovado de forma unânime pela Assembleia Nacional. Isso busca aproveitar a experiência de líderes mais velhos e responde a mudanças demográficas. A reforma não altera mandatos e sublinha o controle do regime em meio a tensões sociais e políticas.

A proposta partiu do próprio Raúl Castro, que anos atrás foi o impulsionador do limite que agora decide desmontarFoto © Cubadebate/Abel Padrón

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Raúl Castro, que em 2019 promoveu o limite de 60 anos para acessar pela primeira vez à Presidência da República, agora propôs a sua eliminação, e a Assembleia Nacional do Poder Popular (ANPP) aprovou a reforma constitucional em uma votação sem dissentimentos ou debate visível.

A iniciativa não veio do parlamento nem de um movimento popular. Foi o próprio Castro, de 94 anos, quem solicitou a mudança ao Buró Político do Partido Comunista, conforme revelou o presidente da ANPP, Esteban Lazo, de acordo com o portal oficialista Cubadebate.

Foi aprovada posteriormente pelo Conselho de Estado e, finalmente, apresentada ao plenário do órgão legislativo, onde os 440 deputados presentes em votação nominal disseram “sim”, sem objeção alguma.

A emenda suprime o segundo parágrafo do artigo 127 da Constituição, que estabelecia o limite de idade para se candidatar ao cargo pela primeira vez. Lazo explicou que o objetivo é não excluir pessoas “em pleno uso de suas faculdades” por razões etárias, especialmente em um contexto de envelhecimento populacional.

Em abril de 2016, durante o VII Congresso do PCC, Castro anunciou que seria estabelecido um limite de 60 anos como idade máxima para ingressar no Comitê Central do PCC e de 70 anos para exercer cargos de direção na organização.

Esses limites, juntamente com a proposta que fez no congresso comunista anterior (abril de 2011) para ocupar responsabilidades políticas apenas por um máximo de dois mandatos consecutivos, “garantirá desde a base o rejuvenescimento sistemático em todo o sistema de cargos partidários”, disse o então mandatário e primeiro secretário da organização diante do VII Congresso do PCC.

Luego, o anteprojeto de Constituição da República discutido em 2018 e finalmente aprovado em 2019, também introduziu a limitação de idade para o exercício do novo cargo de presidente da República, mas apenas para o primeiro mandato: nesse caso, deverá ter entre 35 e 60 anos.

Hoje, o argumento muda: a prioridade seria aproveitar a experiência de figuras mais velhas, desde que tenham demonstrado “fidelidade” à Revolução. Não foi proposta uma consulta popular para essa modificação, pois não afeta atribuições nem prazos de mandato, de acordo com o artigo 228 da Constituição.

Diputados como Edelso Pérez, Raúl Alejandro Palmero e Yaisel Peter Terry defenderam a “flexibilidade” da Carta Magna e justificaram a emenda por razões demográficas e políticas.

Isto não tem a ver com os mandatos do presidente nem com suas atribuições, mas sim com um requisito que, em 2019, era necessário. Na Cuba de hoje, o imprescindível é cumprir com um alto compromisso com a pátria e o povo. O apresentado não contradiz nenhum artigo constitucional”, afirmou Peter Terry, deputado por Ranchuelo, Villa Clara.

Por sua vez, Palmero, deputado por Arroyo Naranjo e primeiro secretário da UJC em Havana, ressaltou que os sistemas jurídicos e políticos devem se adaptar aos tempos atuais e que “agora, esta reforma favorece o acesso de um maior número de pessoas ao cargo”.

O discurso dominante girou em torno da necessidade de adaptação e continuidade. Insistiu-se que a reforma não contradiz princípios constitucionais, mas sim responde a “circunstâncias atuais”.

Desde 2019, o país reporta um decréscimo da população por registrar mais óbitos do que nascimentos, conforme informou em 2024 o primeiro-ministro Manuel Marrero Cruz.

Al cierre de 2024, 25,7% da população cubana tinha 60 anos ou mais, de acordo com os últimos dados publicados pela Oficina Nacional de Estadística e Informação (ONEI).

A isso se soma que mais de 250.000 cubanos abandonaram a ilha em 2024, segundo cifras oficiais da ONEI, em um ano marcado também pelo menor número de nascimentos em seis décadas, um aumento no número de mortes e um decréscimo populacional sustentado em relação a 2023.

A população residente em Cuba tem diminuído de forma alarmante nos últimos anos e, segundo um estudo independente do reconhecido economista e demógrafo cubano Juan Carlos Albizu-Campos, já estaria abaixo de oito milhões de pessoas, o que representa uma queda de 24% em apenas quatro anos, uma cifra que o autor compara a cenários de guerra.

Sin embargo, a mudança deixa claro quem continua ditando o ritmo das decisões do Estado. Castro não apenas promoveu o limite que impôs em 2019, mas agora promove a sua revogação, sem que ninguém questione a mudança na ANPP, definida como o “órgão supremo do poder do Estado”, que “representa todo o povo e expressa sua vontade soberana”, conforme o artigo 102 da Constituição da República.

Este sexta-feira, o encerramento das sessões do quinto período ordinário da ANPP foi marcado por um show protagonizado pelo próprio Castro, gritando em apoio ao presidente Miguel Díaz-Canel.

A cena foi compartilhada em um post oficial da Presidência de Cuba, que qualificou as sessões como “uma autêntica Assembleia do povo”.

Díaz-Canel, de pé atrás do ex-mandatário, respondeu com um “¡E viva Raúl!”, completando um espetáculo político que buscou reafirmar publicamente a unidade na liderança do regime cubano, em meio a uma semana marcada por polêmicas.

Estas sessões legislativas também foram marcadas pelo escândalo da agora ex-ministra do Trabalho, após suas polêmicas declarações assegurando que em Cuba não há mendigos, mas sim “pessoas disfarçadas” de pobres.

Uma das comissões do parlamento aplaudiu as declarações de Marta Elena Feitó, sem direcionar-lhe nenhuma observação, mas quando seu discurso foi para os meios de comunicação, uma onda de críticas se desatou nas redes sociais. Isso obrigou Díaz-Canel a se pronunciar contra a funcionária que, finalmente, foi expulsa de seu cargo.

Castro aproveitou o fechamento da Assembleia para manifestar publicamente seu apoio ao atual mandatário, em um gesto que muitos interpretam como um sinal de controle diante das turbulências sociais, econômicas e políticas que a ilha enfrenta.

Perguntas frequentes sobre a reforma constitucional em Cuba e a eliminação do limite de idade presidencial

Por que foi eliminado o limite de idade para ser presidente em Cuba?

Raúl Castro propôs eliminar o limite de idade de 60 anos para acessar pela primeira vez à Presidência de Cuba, argumentando que é necessário aproveitar a experiência de figuras mais velhas em um contexto de envelhecimento populacional. Esta proposta foi aprovada pela Assembleia Nacional do Poder Popular sem consulta popular.

Qual é o impacto de eliminar o limite de idade na política cubana?

A eliminação do limite de idade permite a líderes mais velhos, como Raúl Castro e Miguel Díaz-Canel, continuar no poder ou serem reeleitos. Esta medida reforça a continuidade do regime sem alternância geracional, em um contexto de crise econômica e social em Cuba.

Foi realizada uma consulta popular para esta reforma constitucional?

Não foi realizada uma consulta popular para esta modificação constitucional. De acordo com o regime, a reforma não afeta as atribuições nem os prazos de mandato, por isso não exigia um referendo segundo o artigo 228 da Constituição.

Quais argumentos foram utilizados para justificar a reforma do limite de idade presidencial?

Os argumentos apresentados incluem a valorização da experiência de pessoas mais velhas e a adaptação às circunstâncias atuais do envelhecimento populacional. Foi ressaltada a necessidade de não excluir pessoas em pleno uso de suas faculdades por razões de idade e de manter um alto compromisso com a pátria e o povo.

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