As cinzas do jovem Darien Heredia, falecido na Rússia por uma suposta pneumonia bacteriana, foram espalhadas esta semana por sua família no mar, em um ato emocional realizado em Santiago de Cuba.
A despedida, marcada pela dor de seus entes queridos, simbolizou o último adeus a um jovem que emigrou em busca de um futuro melhor e que acabou morrendo sozinho, longe de sua terra.
"Não morreu em combate nem em um hospital cubano. Morreu na solidão do exílio, empurrado pela necessidade. E mesmo depois de morto, o sistema lhe deu as costas.", escreveu no Facebook o jornalista independente Yosmany Mayeta Labrada, fonte direta do caso.
Oriundo do bairro Vista Hermosa, Darien, como milhares de jovens cubanos, emigrou em busca de um futuro melhor, mas sua rota migratória terminou em tragédia. Para piorar, seu corpo não pôde ser repatriado.
“Sólo nos entregaram uma caixa com cinzas”, relatou um familiar.
Uma migração que empurra para a morte
O caso de Darien não é isolado. Faz parte da crescente onda migratória cubana que escolhe destinos tão diferentes como Rússia, Sérvia ou México para escapar da precariedade, da repressão e da falta de oportunidades na ilha.
“Nunca pudemos falar com um funcionário. Não houve ajuda do consulado. Apenas silêncio e burocracia”, denunciou outro familiar próximo.
A repatriação de corpos do exterior é um processo caro, lento e, em muitos casos, impossível para famílias humildes.
Sin assistência das embaixadas, a cremação costuma ser a única alternativa. Segundo o testemunho dos parentes, “a Embaixada de Cuba em Moscovo não ofereceu nenhum tipo de apoio.”
Mortes no exílio, invisíveis para o Estado
Embora o governo cubano não publique números oficiais sobre cubanos falecidos no exterior, organizações independentes documentaram dezenas de casos recentes de migrantes mortos em trânsito ou assentamento, vítimas de doenças, acidentes ou abandono.
“Para a Chancelaria cubana, os emigrados deixam de ser cidadãos assim que cruzam a fronteira”, lamentou um ativista pelos direitos dos migrantes em declarações a Mayeta.
Muchas famílias, como a de Darien, enfrentam o luto sem corpo, sem rituais tradicionais e sem sequer uma chamada de apoio institucional. A história se repete: jovens morrem sozinhos, os restos não retornam e as autoridades optam pelo silêncio.
Enquanto isso, o êxodo continua. A cada dia, mais jovens cubanos iniciam caminhos incertos com a esperança de sobreviver fora da ilha. Mas nem todos retornam. Alguns nem voltam, nem mesmo como cinzas.
O referido comunicador exigiu:
Que o Ministério das Relações Exteriores de Cuba estabeleça protocolos reais e acessíveis para assistir os familiares de cubanos falecidos no exterior.
Que as embaixadas e consulados garantam um mínimo de atenção humanitária, incluindo apoio para repatriações ou cerimônias dignas.
-Que a Assembleia Nacional e o regime cubano reconheçam o drama migratório como uma crise nacional, e não o silenciem sob discursos políticos triunfalistas.
"Suas cinzas flutuam hoje sobre o mar. Mas sua história —como a de tantos outros— permanece suspensa entre a memória de seu povo e o silêncio cúmplice de quem deveria protegê-lo", concluiu Mayeta Labrada.
O jovem Darien faleceu em maio e suas cinzas chegaram à ilha no final de junho.
Arquivado em:
