A CUJAE alugará espaços para negócios privados, mas o processo levanta suspeitas

A Universidade Tecnológica de Havana “José Antonio Echeverría” (CUJAE) abriu licitação para espaços dentro de seu campus para negócios privados, incluindo pontos de venda de comida, um salão de beleza e até mesmo uma serralheria. Não há clareza sobre os critérios de avaliação e o breve tempo disponível gera dúvidas.

Locais para mipymes na CUJAE: sem regras claras e com o tempo contraFoto © Mesa Redonda

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A Universidade Tecnológica de Havana “José Antonio Echeverría” (CUJAE) abriu convocatórias para arrendar espaços dentro do campus a negócios privados, que incluem dois centros gastronômicos (um em Arquitetura e outro no Refeitório de Bolsistas), um quiosque móvel de alimentos, uma serralheria, um salão de beleza e um ponto de venda de produtos agrícolas.

O Comedor de Becas concentra a maioria das oportunidades, com quatro espaços destinados a áreas diversas: um centro gastronômico, a serralheria, o salão de beleza e um ponto de venda de produtos agrícolas.

Captura do Facebook/Universidad Tecnológica de La Habana “José Antonio Echeverría”

Enquanto isso, na Faculdade de Arquitetura, está sendo licitado um espaço para outro centro gastronômico, e em outra área do campus, um quiosque móvel "para a venda de alimentos leves, confeitaria e outros".

O perfil em Facebook da Universidade Tecnológica de Havana anunciou o processo de licitações na noite de 18 de junho. A convocação menciona que as solicitações serão recebidas de 12 a 25 de junho, no horário das 9:00 às 16:30, na Direção Geral de Logística da instituição.

Oportunidade ou processo manipulado?

No entanto, alguns dos que comentaram na publicação chamaram a atenção para o prazo incomum de apenas sete dias para apresentar propostas, desde a data em que foi publicada (18 de junho à noite) até o dia 25. Para alguns, o curto tempo sugere que o processo estaria desenhado para favorecer candidatos previamente selecionados.

Hoje é 19 de junho e vocês publicam o anúncio para apresentar um projeto de licitação quando a campanha já começou e vai fechar dentro de uma semana. Quem faz e apresenta um bom projeto em uma semana? A correria com improvisação não permite que as coisas funcionem bem, a menos que já se sabia disso e tem nomes e sobrenomes”, questionou o usuário Yorch Louis.

Al responderle, Bryan Pérez coincidiu nessa apreciação: “Porque já tem nome e sobrenome de quem vão ceder os locais”, insinuando que as bases poderiam estar manipuladas.

Perfil no Facebook/Universidade Tecnológica de Havana “José Antonio Echeverría”

As dúvidas aumentam diante da falta de informações públicas sobre os critérios de avaliação. Segundo as informações, a abertura dos envelopes ocorrerá entre 26 de junho e 2 de julho, e os resultados serão anunciados em 9 de julho. As bases não detalham os critérios de seleção nem os valores de referência, deixando em aberto o modelo econômico por trás dessas adjudicações.

Nem todos veem o processo com ceticismo. Luis Suárez Castañeda recordou com nostalgia a variedade de serviços que antes existiam no campus. “Seria bom que essas ofertas retornassem”, disse.

Incluso Suárez sonha que a Casa Estudantil, “um lugar tão belo que foi vítima de pilhagem e abandono”, e hoje “entre o mofo e a sujeira”, possa ser recuperada por “alguma mipyme ou o Escritório do Historiador da Cidade”.

No entanto, esse entusiasmo colide com a realidade de um processo acelerado e opaco, onde o fantasma dos “acordos secretos”, na opinião de alguns, parece ser mais forte do que as boas intenções.

Em meio à profunda crise que afeta a estrutura estatal de serviços em Cuba, o governo cubano aprovou medidas para que a administração de alguns estabelecimentos passe a mãos privadas, uma iniciativa voltada para dinamizar o comércio interior diante da incapacidade do Estado.

A Empresa de Gestão do Patrimônio S.A., pertencente ao grupo empresarial do Escritório do Historiador de Havana, abriu há algumas semanas uma licitação pública para arrendar espaços estatais de forma temporária no litoral do Malecón.

Embora tenha sido apresentado como uma "oportunidade única" para atrair propostas de gastronomia, comércio varejista, atividades culturais e recreação, o anúncio gerou mais perguntas do que entusiasmo.

De um lado, alguns usuários nas redes sociais questionaram a viabilidade desses espaços, localizados em uma faixa costeira frágil e altamente exposta, enquanto a ideia de reativar o Malecón por meio do esforço privado, enquanto o Estado se esquiva das responsabilidades de manutenção urbana, foi interpretada por outros como uma delegação encoberta do dever institucional.

Em maio, foi notícia o anúncio do aluguel de espaços para festas, reuniões, feiras e eventos de todo tipo, por até 28.000 pesos por dia, na Tribuna Antiimperialista José Martí, construída em frente à embaixada dos Estados Unidos em Havana como vitrine do discurso oficial em tempos da Batalha de Ideias.

A poucas horas de o site oficialista Cubadebate anunciar isso em uma publicação patrocinada, o site retirou o anúncio, despertando questionamentos sobre se o governo cubano recuou ou está tentando reformular discretamente a polêmica proposta.

Em março de 2023, a estatal Empresa de Grabaciones y Ediciones Musicales (EGREM) de Santiago de Cuba começou a licitação de locais comerciais nessa província.

Assim, o aeroporto internacional Antonio Maceo, na cidade oriental, abriu licitações de seus espaços gastronômicos para empresas privadas cubanas, com o objetivo de melhorar "a satisfação dos clientes externos e internos, aumentando os serviços gastronômicos".

Em junho de 2022, ficou conhecido que o governo licitaria pela primeira vez 300 estabelecimentos da rede de gastronomia. Naquele momento, a ministra do Comércio Interior, Betsy Díaz Velázquez, reconheceu que o comércio interior cubano precisava de uma transformação que o Estado não conseguia realizar, e que as unidades comerciais com maior autonomia e concessões funcionam melhor e contribuem para a estabilidade das vendas.

Perguntas frequentes sobre o arrendamento de espaços na CUJAE e o contexto cubano

Por que a CUJAE decidiu arrendar espaços para negócios privados?

A CUJAE optou por alugar espaços para negócios privados como parte de uma iniciativa para dinamizar o comércio interno diante da incapacidade do Estado de sustentar certos serviços. Esta medida se alinha com uma tendência mais ampla em Cuba, onde o governo começou a transferir a administração de alguns locais para as mãos privadas a fim de melhorar a eficiência e a oferta de serviços.

Quais são as suspeitas em torno do processo de licitação na CUJAE?

As suspeitas em torno do processo de licitação na CUJAE concentram-se no breve prazo concedido para a apresentação de propostas, o que sugere favoritismo em relação a candidatos pré-selecionados. Além disso, a falta de transparência nos critérios de avaliação e a ausência de detalhes sobre os valores de referência contribuem para a percepção de que o processo pode estar manipulado.

Como essa situação se relaciona com a repressão estudantil na CUJAE?

A situação de arrendamento na CUJAE ocorre em um contexto de repressão estudantil, onde alunos denunciaram assédio por parte da Segurança do Estado. Os estudantes expressaram seu descontentamento em relação às medidas do governo, o que gerou um clima de tensão e desconfiança em relação às ações do governo e das instituições acadêmicas estatais.

Qual é o impacto da crise econômica nas decisões de locação de espaços públicos em Cuba?

A crise econômica em Cuba levou o governo a alugar espaços públicos para privados, na tentativa de dinamizar a economia e melhorar a oferta de serviços. Esta estratégia reflete a incapacidade do Estado de manter certas infraestruturas e serviços, delegando assim sua gestão ao setor privado na tentativa de reativar a economia.

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