Cubano inicia em Guantánamo reclamação à ETECSA para anular o aumento tarifário

Solicita a nulidade dos novos preços porque foram anunciados pelo primeiro-ministro quando deveria fazê-lo a ministra de Comunicações, não foram publicadas as novas tarifas na Gaceta Oficial, como determina a lei, nem foram informados os clientes da companhia com 30 dias de antecedência. O Decreto 124 remete ao Código Civil, que prevê que os atos realizados sem cumprir os formalismos administrativos são nulos de pleno direito

Tania Velázquez, presidente da ETECSA, ao lado do cubano Manuel López Harrison, que solicitou a anulação da aumento tarifárioFoto © CiberCuba

O cubano Manuel López Harrison apresentou nesta quinta-feira em Guantánamo uma reclamação dirigida à presidenta executiva da ETECSA, Tania Velázquez, pedindo a anulação do aumento de tarifas imposto pelo regime por meio de fatos consumados.

No documento apresentado, solicita a nulidade das novas tarifas e medidas comerciais implementadas a partir de 30 de maio de 2025. Conforme explica, estas foram anunciadas pelo primeiro-ministro Manuel Marrero Cruz e afetam o acesso a serviços móveis e Internet, incluindo limites na recarga nacional e novas condições para adquirir planos de dados.

López Harrison argumenta que tais ações se sustentam no direito constitucional de reclamações e pedidos, assim como o estabelecido na Lei No. 167 e no Decreto No. 124, que reserva à ministra de Comunicações —não ao primeiro-ministro— a aprovação das tarifas máximas de acesso à Internet. De fato, o Ministério de Comunicações deveria ter enviado a proposta ao Ministério de Finanças e Preços para que este procedesse a publicá-la na Gazeta Oficial da República, e nem uma coisa nem outra foi feita, segundo a presidenta da ETECSA para não gerar ansiedade.

No caso do Decreto 124, este remete ao Código Civil cubano, que prevê que os atos que são executados sem cumprir os formalismos administrativos são nulos de fato.

La reclamação explica que a implementação das medidas sem aviso prévio contraria o Contrato de Serviço de Telefonia Celular Pré-pago, que exige notificação com 30 dias de antecedência. Nesse sentido, denuncia também a ilegalidade e inconstitucionalidade do procedimento, que não foi publicado por meio de resolução ministerial no Diário Oficial e lembra que tanto o Código Civil cubano quanto o princípio da legalidade socialista afirmam que são nulos os atos realizados sem cumprir os requisitos legais estabelecidos. Finalmente, exige a retroatividade das tarifas anteriores a 30 de maio de 2025 como medida para restabelecer os direitos do consumidor e a legalidade violada.

López Harrison iniciou o processo para testar os limites de uma decisão política que viola as próprias leis cubanas elaboradas sob medida pelo governo, que as ignora com o objetivo de arrecadar divisas à custa do exílio, a quem confia a sobrevivência do monopólio de telecomunicações na Ilha. A dolarização da ETECSA limita drasticamente as recargas em pesos cubanos, pois permite apenas compras de 360 pesos (menos de um dólar), enquanto oferece pacotes em dólares para aqueles que pagam do exterior.

Harrison apresentou em Guantánamo, não sem dificuldades, um documento redigido pelo prestigiado advogado Julio Alfredo Ferrer Tamayo, o homem que em 2020 fez uma denúncia contra o presidente Miguel Díaz-Canel por propagador de epidemias, depois que ele apareceu na televisão, em plena pandemia, sem máscara, durante um ato político, apesar de estar em vigor em Cuba uma legislação que previa multas de 2.000 pesos para aqueles que retirassem a máscara em lugares públicos.

Ferrer é o mesmo advogado que processou o porta-voz do regime Humberto López por difamação na televisão à artista cubana Tania Bruguera, agora vinculada à Universidade de Harvard, em um exercício de assassinato de reputação sem precedentes, patrocinado pela televisão alinhada ao Partido Comunista de Cuba.

Em entrevista com a CiberCuba, Julio Ferrer explicou como fazer a reclamação à ETECSA e ofereceu o documento a todos os cubanos que desejam exercer seu direito de reclamar a nulidade do aumento de tarifas pelas vias que o próprio regime estabelece para isso.

Hay que lembrar que a imposição do tarifazo pela via de fatos consumados levantou polêmicas entre os universitários cubanos que protestaram porque os novos preços limitam seu acesso à informação e afetam seu desempenho acadêmico e sua competitividade em um mundo hiperconectado. A Polícia política reagiu com assédio, interrogatórios, atendimentos de advertência e presença nas faculdades.

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Tania Costa

(Havana, 1973) vive na Espanha. Ela dirigiu o jornal espanhol El Faro de Melilla e FaroTV Melilla. Foi chefe da edição de Murcia do 20 minutos e assessora de Comunicação da Vice-Presidência do Governo de Múrcia (Espanha).