Académicos oficialistas reconheceram o aumento de a brecha de desigualdade em Cuba devido à policrise que o país enfrenta nos últimos cinco anos.
Três sociólogos cubanos disseram à EFE em uma entrevista conjunta que as desigualdades sociais se ampliaram ao longo das fracturas econômica, racial, territorial, etária e de gênero.
A desigualdade é o principal efeito da policrise, afirmou Enrique Gómez Cabezas, coordenador do Grupo de Política Social e Desigualdades.
Gómez Cabezas e outros especialistas do estatal Centro de Investigaciones Psicológicas y Sociológicas (CIPS) reconheceram que esse fenômeno gera tensões em um país caracterizado durante décadas por um grande igualitarismo e pela responsabilidade do governo em buscar novas soluções para superá-lo.
"Tem crescido o reconhecimento da migração como uma alternativa de melhoria econômica", acrescenta Gómez Cabezas.
Este sociólogo estatal acredita que o regime deve atualizar suas políticas sociais, que atualmente se mostram insuficientes para a realidade da ilha.
“Embora sejam políticas universais, não são suficientes para impedir que as desigualdades se reproduzam. Existem setores que estão em melhores condições e vão monopolizar para si as melhores oportunidades. E outros setores ficarão relegados, o que reproduz e amplia essas desvantagens”, justifica.
"É preciso reconhecer a desigualdade existente", conclui.
Para Mirlena Rojas Piedrahita, coordenadora da Rede de Estudos Sociológicos do Trabalho, o que ela chama de “policrise” é um “traço de época” que “imprime uma característica fundamental na sociedade cubana atual”
“Às vezes, a palavra resiliência me parece muito pequena. Ainda não encontro a palavra que se possa usar diante de estratégias de sobrevivência”, questiona a socióloga.
Rojas Piedrahita afirma ainda que esse contexto gera uma “incerteza” que “produz e reproduz” estados de estresse.
“Há quem tenha conseguido acessar o setor privado mais dinâmico e melhor remunerado, quem pode se permitir um gerador para os apagões,... e quem tem os recursos para emigrarem para outro país”, acrescenta.
Por sua parte, Jusmary Gómez Arencibia, coordenadora da Rede cubana de Economia Social e Solidária e Responsabilidade Social Empresarial, afirma que o “deterioro” da educação e da saúde se tornou outro motivo para migrar.
Para os especialistas oficialistas entrevistados pela EFE, as desigualdades começaram a partir de 2011 com as reformas de Raúl Castro, a chamada “atualização”.
Os especialistas apontam que o coeficiente de Gini, principal indicador de desigualdade social, passou de 0,25 (sobre um máximo de 1) em 1989 para entre 0,4 e 0,5 atualmente, de acordo com os dados do governo.
Dessa forma, Cuba se colocaria, se acreditarmos nas cifras do regime, na média dos países latino-americanos.
Mas para esses especialistas do governo, a ilha não pode ser comparada aos países latino-americanos. "Estamos nos aproximando de algumas realidades, mas ainda estamos distantes", afirmam.
Pobreza em Cuba
El ano passado, o Observatório Cubano de Direitos Humanos (OCDH) afirmava em um relatório que “89% das famílias cubanas sofrem de pobreza extrema”
Uno de seus dados mais significativos é o que ressalta que “7 em cada 10 cubanos deixaram de tomar café da manhã, almoçar ou jantar, devido à falta de dinheiro ou à escassez de alimentos”.
Em 2023, além disso, Cuba foi classificada como o país com a economia mais miserável do mundo, segundo o Índice Anual elaborado pelo economista americano Steve H. Hanke, professor da Universidade Johns Hopkins.
A ponto de que o próprio regime se viu obrigado a reconhecer a miséria em que vive sua população.
Segundo admitiu a ministra do Trabalho e Segurança Social, Marta Elena Feitó Cabrera, na frente de Miguel Díaz-Canel, em fevereiro de 2024, em Cuba existem, até essa data, 1.236 comunidades que vivem na miséria
Perguntas frequentes sobre a desigualdade e a crise em Cuba
Por que a desigualdade aumentou em Cuba nos últimos anos?
O aumento da desigualdade em Cuba se deve a uma policrise que afetou o país nos últimos cinco anos. Segundo acadêmicos oficialistas, a desigualdade se ampliou em aspectos econômicos, raciais, territoriais, de idade e de gênero. Este fenômeno gerou tensões em uma sociedade que historicamente se caracteriza por um grande igualitarismo. Além disso, as reformas econômicas implementadas desde 2011 não conseguiram mitigar as desigualdades, mas criaram setores em melhores condições que acumulam as melhores oportunidades, enquanto outros ficam relegados.
Qual é o papel da migração na economia cubana atual?
A migração tem sido reconhecida como uma alternativa para a melhoria econômica em Cuba. Diante da escassez de oportunidades e do deterioro de serviços como educação e saúde, muitos cubanos optam por emigrar em busca de melhores condições de vida. Esse fenômeno tem sido destacado por especialistas como Enrique Gómez Cabezas, que indica que a migração é vista como uma solução viável frente à crise econômica do país.
Como a crise econômica está afetando os serviços básicos em Cuba?
A crise econômica deteriorou significativamente a educação e a saúde em Cuba. Jusmary Gómez Arencibia, coordenadora da Rede cubana de Economia Social e Solidária, aponta que a deterioração desses serviços básicos é uma das razões que leva os cubanos a buscarem melhores oportunidades no exterior. A falta de investimento e a má gestão contribuíram para que esses serviços deixassem de ser acessíveis e de qualidade para a população.
Quais são as consequências da "atualização" econômica de 2011 em Cuba?
A "atualização" econômica de 2011 contribuiu para o aumento da desigualdade em Cuba. As reformas promovidas por Raúl Castro tinham como objetivo melhorar a eficiência econômica, mas resultaram em uma ampliação das disparidades sociais. O coeficiente de Gini, que mede a desigualdade, aumentou, colocando Cuba na média dos países latino-americanos em termos de desigualdade. No entanto, os especialistas oficialistas argumentam que Cuba não pode ser comparada diretamente com outras nações da região devido às particularidades de seu sistema econômico e social.
Arquivado em:
