Cubano, em centro de deportação na Rússia: "Vão para outro país, aqui há coleta de imigrantes."

O matancero, de 46 anos, vivia em Sochi (Krasnodar) há seis anos, é pai de três crianças russas e foi entregado à Polícia pela sogra por não ter status legal no país


Yoel Gallart Villalobos (19 de junho de 1979) está detido desde 12 de março em um centro de deportação em Gulkévichi, na região de Krasnodar, na Crimeia invadida, agora território russo. Ele foi entregue à Polícia pela sogra para ser enviado de volta a Cuba após seis anos vivendo na Rússia. Aos que estão pensando em voar de Havana a Moscovo, em busca de um futuro melhor, ele adverte: "Vão para outro país, aqui estão detendo imigrantes".

Gallart não tem status legal nesse país, mas lá nasceram seus três filhos. Segundo explicou em uma entrevista concedida à CiberCuba desde o centro de deportação, as crianças estão sendo criadas pela avó porque sua ex-parceira tem um grave problema de dependência do álcool e mal cuida dos menores, que têm dois anos e meio, quatro e cinco anos.

Nos seis anos em que estiveram juntos como casal, a mulher de Gallart não quis regularizar a situação do pai de seus filhos, e isso acabou deteriorando e rompendo o relacionamento. Após a separação, ele decidiu continuar morando no mesmo prédio onde havia residido com sua ex-mulher para poder ver seus filhos.

Os vizinhos, afirma, são testemunhas disso e foram eles que o têm ajudado, enviando-lhe dinheiro para o centro de deportação, já que ao ser detido, as autoridades russas cancelaram o seu cartão bancário e, neste momento, ele não possui nenhum tipo de documentação que comprove que é cubano ou que tem filhos na Rússia.

Ele só pede para não se separar dos filhos. Quer estar com eles em Cuba ou em Sochi, a cidade russa onde seus filhos nasceram e onde ele viveu todo o tempo que permaneceu de forma ilegal na Rússia, trabalhando como carpinteiro ou em qualquer coisa que surgisse em uma cidade turística, onde é impossível se regularizar como imigrante. O único salário que entrava na casa da sogra era o dele e ele se preocupa com o que seus filhos podem precisar neste momento.

Natural de Matanzas, Gallart não recomenda a outros cubanos que viajem à Rússia neste momento, pois assegura que estão realizando uma perseguição constante aos imigrantes ilegais. De fato, no centro de deportação para o qual foi transferido e onde não recebeu nem atendimento consular por parte das autoridades cubanas nem assistência legal por parte de um advogado de ofício russo, também há um grupo de oito cubanos que foram enviados para esse lugar após serem detidos em Krasnodar (Crimeia).

Além dos cubanos, há imigrantes do Vietnã, Afeganistão, árabes e de várias partes do mundo. No seu caso, ele preferiria não ser deportado para Cuba, mas se isso acontecer, reivindica a custódia de seus filhos, pois entende que após cinco anos de separação imposta pela expulsão do país, a relação com seus filhos poderia ser gravemente prejudicada.

Embora não lhe tenham oferecido ir para a guerra na Ucrânia em troca da regularização de seu status migratório na Rússia, ele sabe de outros imigrantes a quem fizeram essa oferta. No momento, ele não sabe qual futuro o aguarda. A única coisa que tem clara é que quer estar com seus filhos, na Cuba ou na Rússia, mas com eles.

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Tania Costa

(Havana, 1973) vive na Espanha. Ela dirigiu o jornal espanhol El Faro de Melilla e FaroTV Melilla. Foi chefe da edição de Murcia do 20 minutos e assessora de Comunicação da Vice-Presidência do Governo de Múrcia (Espanha).