A esposa do governante cubano Miguel Díaz-Canel, Lis Cuesta Peraza, tocou no tema da Primeira-Dama em Cuba, um cargo protocolar que, embora insista em rejeitá-lo, continua a representar em múltiplas viagens oficiais ao exterior e em eventos de Estado que seu esposo assiste, o que gerou críticas sobre seu papel não reconhecido, mas evidente, dentro do governo cubano.
Em uma recente entrevista concedida ao canal Alma Plus TV, da Universidade de Havana, Cuesta se aprofundou em seu papel ao lado de Díaz-Canel e defendeu sua participação na esfera pública.
Não temos Primeira Dama, é uma estrutura não apenas burguesa, veja, é uma estrutura patriarcal e eu sou muito feminista e, portanto, estou completamente contra isso, mas nós entendemos como casal que eu também não preciso ficar atrás da porta, são outros tempos”, afirmou Cuesta, que é apresentada como diretora de eventos do Ministério da Cultura da Ilha.
Desde a chegada de Díaz-Canel à presidência em 2018, Cuesta tem mantido um perfil público ativo, participando de atos protocolares e promovendo eventos culturais na ilha. Em suas declarações, enfatizou as dificuldades que enfrentou ao acompanhar o mandatário cubano, descrevendo seu trabalho como “uma das coisas mais difíceis” de sua vida.
“Creo que meu papel como professora, como trabalhadora da cultura, como pesquisadora do ICCP (Instituto Central de Ciências Pedagógicas), no mundo acadêmico, eu consegui desempenhar e me coube acompanhá-lo em outras funções e em outras tarefas que também foram igualmente desafiadoras, mas das quais também me sinto orgulhosa. Aprendi, não foi fácil, mas aprendi, e fiz isso lado a lado com meu companheiro, sempre olhando com absoluto respeito para este povo”, afirmou Cuesta.
Argumentou que seu esposo não tentou que ela se ocultasse e que, ao contrário, sempre contou com seu apoio nas diversas funções que desempenha. Também assegurou que recebeu o apoio de figuras como Dalia Soto del Valle, viúva do ditador Fidel Castro, de Asela de los Santos, viúva de José Ramón Fernández e falecida em janeiro de 2020, além da filha do militar aposentado Raúl Castro e de Vilma Espín, Mariela Castro Espín, que a ajudaram a lidar com seu papel.
Sobre seu esposo, Cuesta destacou viver orgulhosa de seu trabalho. “Acredito que Díaz-Canel, como governante, ama profundamente o povo cubano. Vem de uma origem humilde, é filho de uma professora de uma escola rural e de um trabalhador químico em uma fábrica. Seu respeito pela história de Cuba, seu respeito pela nossa geração histórica, pelas nossas lutas e batalhas… lhe permitiu olhar para o povo de Cuba com respeito, com um respeito infinito, mas acima de tudo com orgulho. Está sempre muito orgulhoso de todas as batalhas que o povo de Cuba vai vencendo e eu vivo orgulhosa dele.”
As declarações de Cuesta, que são percebidas como uma tentativa de vitimização da sua figura na política cubana, surgem em um contexto de crescente descontentamento social e crise econômica no país, onde a figura de Díaz-Canel tem sido duramente criticada por sua gestão.
A ativa presença nas redes sociais e sua participação em eventos oficiais têm sido objeto de escrutínio público, como aconteceu em 2022, quando Cuesta gerou controvérsia ao se referir ao esposo como "o ditador do meu coração" em uma publicação no Twitter, o que desencadeou uma onda de memes e comentários críticos pelo uso do termo "ditador" em um contexto afetivo.
Esse mesmo ano, durante uma crise energética que provocou apagões em toda a ilha, Cuesta expressou no Twitter que tinha "o coração em modo esfregão", o que foi percebido por muitos como uma falta de empatia em relação à difícil situação que atravessava a população cubana.
Por outro lado, seu filho, Manuel Anido Cuesta, fruto de um relacionamento anterior, tem estado no centro da atenção da mídia recentemente.
Graduado em Direito, Anido Cuesta tem acompanhado seu padrasto, o governante Díaz-Canel, em várias viagens internacionais, o que gerou críticas por possíveis casos de nepotismo e acesso a privilégios dentro do círculo de poder em Cuba.
A relação sentimental de Anido Cuesta com a atriz cubano-espanhola Ana de Armas, revelada em novembro de 2024, também gerou controvérsias.
A dupla foi vista em Madrid, o que gerou críticas à atriz por se associar a alguém próximo ao regime cubano em meio à crise econômica e às denúncias de violações dos direitos humanos na ilha.
Estas situações contribuíram para a percepção de que, embora Lis Cuesta não ostente oficialmente o título de primeira-dama, sua influência e a de sua família na esfera pública cubana são significativas, gerando debates sobre a transparência no governo da Ilha.
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