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A comunidade artística cubana em Miami está de luto após a morte de "Mariloly" (nascido como Danilo Domínguez), uma das figuras mais emblemáticas do transformismo no exílio.
Seu falecimento ocorreu neste domingo em um centro de reabilitação no sul da Flórida, conforme confirmaram meios de comunicação citando como fonte amigos e pessoas próximas da comediante e transformista.
Domínguez havia sido internada após sofrer uma queda e, nas últimas semanas, sua saúde se deteriorou rapidamente. Pessoas que a visitaram em seus últimos dias relataram que ela mal conseguia reconhecer aqueles que a acompanhavam.
“Eu sempre quis ser artista e Miami me deu a oportunidade de estar em cima de um palco”, declarou Mariloly em entrevista com a jornalista Daysi Ballmajó.
En essa mesma entrevista, revelou que seu pai foi encarcerado em 1962 como prisioneiro político, o que deixou ele, sua mãe e seu irmão em uma situação precária.
Em Cuba, também sofreu muitos anos de perseguição devido à sua orientação sexual.
Segundo relatou, a polícia o manteve retido em uma estação por três ou quatro horas e dizia: “Você tem que andar bem, não pode andar como você anda porque assim não anda um homem”.
“Eles queriam que eu saísse com um bigode e um cigarro e isso não ia acontecer”, disse Mariloly.
Finalmente, em 1980 -no meio da conjuntura migratória de El Mariel- Danilo chegou a uma delegacia de polícia vestida de mulher e disse que queria ir embora.
Segundo contava, quando lhe perguntaram o nome, respondeu: "Helena de Troia". E assim chegou a Miami, onde se tornou "Mariloly".
Da repressão ao estrelato em Miami
Uma vez em Miami, Mariloly consolidou sua presença nos principais teatros e clubes noturnos da cidade, conquistando a admiração do público cubano exilado e da cena LGBTQ+.
Além de brilhar no cabaré, seu talento lhe permitiu participar de produções teatrais, televisão local e até em agrupações líricas, demonstrando sua versatilidade.
“Em Cuba, deixava um rastro de humilhação e discriminação inculcada pelo Comunismo de Fidel Castro, onde, em seus discursos homofóbicos, ouviu-se dizer que, 'Em Cuba não mudam essas Degenerações', enfatizando a Comunidade Gay da ilha Caribenha”, recordou o jornalista Yosmany Mayeta ao comentar a notícia de seu falecimento.
O legado de Mariloly na cena do transformismo e da comédia em Miami é profundo. Ela se tornou uma mestra e referência para as novas gerações de artistas trans e drag, que a reconhecem como uma pioneira do transformismo cubano no exílio.
O homenagem de Alexis Valdés
O comediante e ator cubano Alexis Valdés foi um dos artistas que lamentou publicamente a perda de Mariloly, destacando sua genialidade e a importância de sua obra.
“Me disseram que Mariloly nos deixou. Que grande tristeza e que grande perda para a comédia na cidade de Miami. Uma pessoa dotada de uma graça e energia tremendas. Uma capacidade de improvisação e uma coragem de interagir com o público únicas”, escreveu Valdés em suas redes sociais.
O humorista recordou com carinho a primeira vez que viu Mariloly sobre um palco.
“Foi a primeira vez que a vi no Ashé. E fiquei impressionado. Não via ninguém fazer algo assim desde os tempos de Juana Bacallao. Foi brutal o domínio cênico e as risadas que provocou”, escreveu em sua emotiva recordação.
Valdés também destacou a força e a habilidade da artista, forjadas “em muitas noites de teatro e cabaré”, em uma época sem redes sociais, onde o talento precisava se impor diretamente diante do público.
“Ela era uma mestre nisso. Em várias ocasiões, eu a convidei para trabalhar nos sketchs do meu show e nós morríamos de rir”, acrescentou o também comediante, que concluiu sua homenagem com palavras cheias de afeto e reconhecimento.
“Obrigado pelas risadas e pelo encanto, Mariloly. O mundo será menos divertido sem você”, concluiu.
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