Processam revendedores e coleros em servicentro de Havana

As autoridades anunciam mais operações contra revendedores de gasolina, culpando os cidadãos pelos problemas sistêmicos de corrupção e má gestão estatal em meio a uma crise energética.

Servicentro de La Habana (Imagem de referência)Foto © Facebook / Corporación Cimex.SA Oficial

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Em uma tentativa de demonstrar controle e responder ao descontentamento popular, as autoridades cubanas realizaram um "debate de bairro" no conselho popular Santo Suárez, em Havana, para discutir a luta contra as ilegalidades e a corrupção na atividade de venda de combustível, um problema que o próprio governo tem fomentado com sua gestão econômica inadequada.

Segundo o relatório do jornal Tribuna, funcionários da Promotoria e da Polícia informaram sobre a recente detenção de um grupo de cidadãos que estavam acumulando e revendendo gasolina, ou cobrando por turnos - os chamados "coleros" -, para acessar o servicentro Alameda, localizado em Santa Catalina e Poey.

O fiscal chefe do município, Rolando López Merino, afirmou que os envolvidos no mercado negro de combustíveis serão severamente punidos, uma vez que cometeram seus crimes em um momento em que o país enfrenta uma aguda crise energética, o que constituirá um agravante durante o julgamento.

No entanto, seu discurso ignorou as causas estruturais do problema, derivadas da má administração governamental, da corrupção dentro das empresas estatais e da falta de transparência na distribuição dos recursos.

No encontro, também foi informado sobre uma operação policial que desativou uma casa de armazenamento com uma quantidade considerável de gasolina destinada à revenda.

Por sua parte, a procuradora-chefe de Havana, Lisnay María Mederos Torres, anunciou que nos próximos dias serão realizadas novas operações em outros postos de gasolina, e que os responsáveis pelos delitos poderão enfrentar acusações de malversação e corrupção.

Também antecipou que funcionários da CUPET, CIMEX, do Ministério do Interior e do Governo participarão dos programas de televisão "Buenos Días" e "Hacemos Cuba" para explicar as medidas organizacionais que serão adotadas para regular o fornecimento de combustível na cidade.

Denunciar os pequenos enquanto os grandes continuam impunes

Em uma nova tentativa de incentivar a delação entre os cubanos, os diretores que presidiam o debate de bairro insistiram com os moradores que denunciassem esses delitos e disponibilizaram os números de telefone do posto de comando da Polícia local.

Enquanto o governo endurece as punições contra os revendedores, a impunidade dos altos funcionários que gerenciam o combustível e outros produtos essenciais se mantém, facilitando a corrupção dentro do próprio aparelho estatal.

Não é a primeira vez que são organizadas essas reuniões de propaganda, nas quais se culpa cidadãos comuns por um problema sistêmico que tem suas raízes na ineficácia da gestão governamental e em um modelo econômico fracassado.

Crise, repressão e discurso vazio

Enquanto o governo inunda os meios de comunicação com discursos sobre a batalha contra as ilegalidades, os cubanos continuam enfrentando uma inflação descontrolada, um mercado negro em ascensão e uma economia em queda livre. A falta de combustível, a escassez de alimentos e a precariedade dos serviços básicos são sintomas de uma crise que não se resolve com operações policiais nem com reuniões comunitárias.

Os chamados debates de bairro não são mais do que uma tentativa de desviar a atenção da ineficácia do próprio Estado, responsabilizando cidadãos desesperados por sobreviver em um país onde os produtos essenciais se tornaram um luxo inacessível. Enquanto isso, os verdadeiros responsáveis pela crise permanecem intocáveis, sem assumir qualquer responsabilidade pelo colapso que enfrenta Cuba.

Perguntas frequentes sobre a repressão e corrupção em Cuba

Que medidas está tomando o governo cubano contra os revendedores e coleros em Havana?

O governo cubano realizou detenções de revendedores e "coleros" em Havana, levando-os a julgamento e prometendo sanções severas. Essas ações fazem parte de uma tentativa de demonstrar controle e responder ao descontentamento popular, embora não abordem as causas estruturais do problema, como a má gestão governamental e a corrupção.

Como a crise de combustível está afetando a população cubana?

A crise de combustível em Cuba tem causado longas filas nos postos de gasolina, com motoristas esperando até seis dias para conseguir gasolina. Além disso, aumentou a inflação e o descontentamento social, com os preços da gasolina no mercado negro chegando a até 700 pesos por litro. Essa situação agrava a precariedade da vida cotidiana na ilha.

Qual é o impacto da corrupção e das detenções no sistema econômico de Cuba?

A corrupção e as detenções deterioraram ainda mais o sistema econômico de Cuba, gerando um ambiente de desconfiança e repressão. Enquanto pequenos revendedores são perseguidos, os altos funcionários responsáveis pela gestão ineficiente e pela corrupção dentro do estado permanecem impunes, perpetuando um sistema econômico falido.

Que papel desempenham os coleros na atual crise de Cuba?

Os coleros são um sintoma da escassez e da crise econômica em Cuba. Eles se dedicam a vender filas para acessar serviços e produtos básicos, como gasolina e dinheiro em caixas eletrônicos. Embora lucrem com a situação, o problema de fundo é a falta de abastecimento e a má gestão governamental que cria essas condições.

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