A polícia política transfere para Bayamo a mãe detida por protestar contra a fome em Río Cauto

Mayelín Carrasco Álvarez foi atendida nesta quarta-feira em um hospital após "desmaiar" durante um interrogatório. Seu círculo mais próximo não descarta que queiram "considerá-la louca". Nesta quinta-feira, ela foi levada "provavelmente" para o centro de operações provincial da Segurança do Estado, na capital de Granma, ou para alguma unidade da PNR


Mayelín Carrasco Álvarez, a mãe de três filhos que foi detida nesta quarta-feira em Rio Cauto (Granma), por protestar contra a fome, foi transferida pela Polícia política do regime de Miguel Díaz-Canel para Bayamo, conforme informado à CiberCuba pelo líder da União Patriótica de Cuba (Unpacu), José Daniel Ferrer, muito atento a este caso.

Pouco antes de ser enviada "provavelmente" ao centro de operações provincial da Segurança do Estado da capital de Granma, a mulher, de 47 anos e residente na localidade rural de Guamo Viejo (Río Cauto, Granma), precisou ser atendida após desmaiar durante o interrogatório ao qual foi submetida, depois de ter sido arrastada à força da parte superior da praça Ángel Fría, de Río Cauto, por um agente da Polícia política e um membro do governo provincial do Partido Comunista, segundo informações obtidas por esta plataforma.

Diante do primeiro traslado de Mayelín Carrasco Álvarez a um centro hospitalar, seu círculo mais próximo teme que a Polícia política pretenda "dizê-la louca" para justificar que não estamos diante de uma protesto pacífico contra a fome, mas sim de uma pessoa com problemas de saúde mental.

Mayelín Carrasco não protestou apenas pela falta de alimentos e leite, mas também pela escassez de combustível (gasolina e álcool) para cozinhar. "Estou em uma praça defendendo meus direitos", disse diante do olhar atento de dois homens que queriam tirá-la de lá sem saber exatamente como fazer isso, já que ao redor começaram a se reunir vizinhos que acompanhavam atentamente o discurso dessa mãe corajosa.

Ela afirmou de sua tribuna que tinha comentado com sua família que sabia que seus atos teriam consequências. "Hoje eu disse à minha mãe que sabia que iriam me levar para a prisão", comentou, ciente de que a repressão do Partido Comunista de Cuba não entende de direitos, de mães ou de fome.

"Nos tiraram os ovos. Nos tiraram tudo. Que parem com as mentiras e enganos. Quando eu descer daqui, vou para a prisão com a cabeça bem erguida", insistiu diante do olhar dos vizinhos de Río Cauto que ouviam, cochichavam, mas não se juntaram à protesto.

"Com fome não se trabalha e com fome não se vai à escola. Nos tiraram tudo. Eu vou embora daqui quando a Polícia vier me buscar. Eu tenho três filhos. Aqui estão. Onde está a revolução que Fidel deixou e a revolução que Raúl deixou? Já não há revolução porque tudo desmoronou", destacou.

E até aí chegou seu discurso porque a levaram arrastada. "Deixa ela falar"; "Ei, solta ela, isso é um abuso", gritavam os vizinhos enquanto a mulher era fortemente reprimida.

Para justificar o ocorrido, o governo de Rio Cauto assegurou nas redes sociais que a mulher recebeu uma moradia temporária de "tábua e zinco" e ofertas de trabalho estatal que ela recusou. Este organismo local não mencionou que o salário desses empregos não é suficiente para se alimentar nem mesmo durante uma semana do mês.

Na opinião dos funcionários do Partido Comunista nesse município de Granma, a protesto de Mayelín Carrasco é "inaceitável" porque foi-lhe atribuída uma hectare de terra em Guamo Viejo para cultivar e nunca se apresentou na Agricultura para aceitar a cessão da terra.

O vídeo da protesta demonstra que esta mãe cubana se manifestou verbal e pacificamente e que a única violência comprovada é a exercida pela Polícia política e pelo Governo local para detê-la.

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Tania Costa

(Havana, 1973) vive na Espanha. Ela dirigiu o jornal espanhol El Faro de Melilla e FaroTV Melilla. Foi chefe da edição de Murcia do 20 minutos e assessora de Comunicação da Vice-Presidência do Governo de Múrcia (Espanha).