Em meio à sua ofensiva desesperada para captar divisas, o governo cubano abriu uma nova loja em Havana que opera em dólares, dedicada à venda de produtos de higiene e perfumaria.
O estabelecimento, cuja gestão está a cargo da empresa mista MCM Camacho S.A., está localizado no Bulevar de San Rafael, onde antes ficava a loja de eletrodomésticos Giralt e que, há alguns anos, vendia roupas recicladas.
Virgilio Arencibia Villa, tesoureiro da empresa, explicou que a loja começará inicialmente com a modalidade de perfumaria, mas que, conforme as possibilidades, será aberta uma área de mercado.
"Opera com cartões em USD, tanto internacionais quanto os que são oferecidos pela rede de CADECAS no país", disse.
Segundo Arencibia, a MCM Camacho surge da união do sócio cubano Albus e da contraparte espanhola Camacho, um fornecedor cujos produtos são muito conhecidos em Cuba. Em uma próxima etapa, incluirá o comércio atacadista.
"Há uma estabilidade nos abastecimentos, a produção nacional é da Camacho e os produtos que trazem são da Espanha, também importados pela Camacho, e têm uma qualidade muito boa", ressaltou.
O reportagens televisivo foi compartilhado no Facebook pelo portal Cubadebate, onde centenas de cubanos manifestaram seu descontentamento com a inauguração do local, que faz parte do processo de dolarização promovido pelo governo.
"Será que vão pagar em USD? Caso contrário, essas lojas não são para o povo", questionou uma engenheira.
"Agora é preciso se adaptar e aguentar que esfreguem na cara de um trabalhador que é necessário pagar o básico em dólares? Que descaramento!", protestou um jovem.
"Um passo mais em direção à soberania e à independência! A falta de vergonha deste governo é infinita!", afirmou um emigrante.
"Se o objetivo é captar divisas, por que não fazê-lo através dos bancos e casas de câmbio e implementar absolutamente todo o comércio interno em nossa 'soberana' moeda nacional? Incluindo serviços hoteleiros e extrahoteleiros, de igual forma para estrangeiros e nacionais, tudo em moeda nacional. Algumas lojas em MLC, outras com USD em espécie, outras vazias mas em CUP. Isso carece um pouco de sentido", apontou uma jovem.
"Captar divisas não é algo ruim, o que é ruim é obtê-las às custas das necessidades primárias das pessoas. Supostamente, em uma nação que prega ao mundo um equilíbrio social. E se de outra forma não se gera a divisa, não temos culpa de uma má gestão das direções", afirmou uma habanera.
Esta semana, um reportagem apresentada no programa Mesa Redonda informou sobre a inauguração de uma loja na movimentada interseção de 23 e C, em Havana, destinada à comercialização em dólares, com produtos nacionais de entidades estatais e de mipymes.
O estabelecimento, patrocinado pelo Ministério do Comércio Interior (MINCIN), opera com um serviço de vendas no atacado, e em uma segunda etapa permitirá a compra direta à população por meio de cartões em dólares. No futuro, prevê-se a incorporação do pagamento em dinheiro.
O MINCIN anunciou a abertura de 50 novas lojas dolarizadas, como parte de uma estratégia mais ampla de arrecadação de moeda estrangeira, em um contexto onde a oferta em moeda nacional continua sendo insuficiente.
A viceministra de Comércio Interior, Aracelys Cardoso Hernández, reconheceu na Mesa Redonda que a oferta em moeda nacional é deficiente devido à contração da produção e ao déficit de divisas, o que impede o reabastecimento do comércio interno.
Perguntas frequentes sobre a abertura de lojas em dólares em Cuba
Por que o governo cubano está abrindo lojas que operam em dólares?
O governo cubano está abrindo lojas em dólares como parte de uma estratégia para captar divisas estrangeiras e enfrentar a crise econômica. A abertura dessas lojas busca fortalecer o comércio em divisas devido à escassez de produtos em moeda nacional. No entanto, essa medida tem sido criticada por aprofundar as desigualdades econômicas no país, já que muitos cubanos não têm acesso a essas divisas.
Como a dolarização parcial da economia cubana afeta a população?
A dolarização parcial da economia cubana exacerba as desigualdades sociais ao limitar o acesso a produtos básicos para aqueles que não têm acesso a dólares. A maioria dos cubanos recebe seus salários em pesos cubanos, o que dificulta a compra em lojas que aceitam apenas dólares. Além disso, a crescente demanda por dólares elevou as taxas de câmbio no mercado informal, afetando ainda mais o poder de compra da população.
Quais críticas o governo recebeu pela abertura dessas lojas em dólares?
O governo tem sido criticado por priorizar a captação de divisas em detrimento das necessidades básicas da população. Muitos cidadãos consideram que essas lojas em dólares são uma zombaria para o povo trabalhador, uma vez que poucos cubanos têm acesso a dólares. As críticas também se concentram na crescente desigualdade e na falta de soluções reais para os problemas econômicos do país.
Como tem impactado a abertura de lojas em dólares no mercado informal de divisas?
A abertura de lojas em dólares aumentou a demanda por divisas, o que provocou um aumento nas taxas de câmbio no mercado informal. Isso dificultou ainda mais o acesso a dólares para os cidadãos, que veem suas remessas perderem valor devido à desvalorização do peso cubano.
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