Guerra comercial em andamento: China responde a Trump com tarifas sobre produtos-chave

Nesta terça-feira, o Ministério das Finanças da China anunciou novas tarifas sobre certas importações dos Estados Unidos.

XI Jinping (i) e Donald Trump (d)Foto © Wikimedia - Flickr/Gage Skidmore

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O enfrentamento comercial entre a China e os Estados Unidos atingiu um novo nível de tensão com a imposição de tarifas de Pequim sobre produtos americanos, em retaliação às recentes medidas da administração de Donald Trump.

Este terça-feira, o Ministério das Finanças da China anunciou novas tarifas sobre certas importações dos Estados Unidos, incluindo petróleo bruto, máquinas agrícolas e gás natural liquefeito.

Esses impostos são estabelecidos como resposta às tarifas de 10% que Washington impôs sobre os produtos chineses que entram no mercado americano.

As tarifas de retaliação impostas pela China incluem uma taxa de 15% sobre determinados tipos de carvão e gás natural liquefeito, bem como um imposto de 10% sobre petróleo bruto, máquinas agrícolas, automóveis de grande cilindrada e caminhonetes.

Estas medidas entrarão em vigor no próximo dia 10 de fevereiro.

O Ministério do Comércio e a administração aduaneira da China também implementaram novos controles de exportação sobre dezenas de produtos metalúrgicos e tecnologias relacionadas, entre eles o tungstênio, um mineral chave em aplicações industriais e de defesa, assim como o telúrio, utilizado na fabricação de células solares.

"China é o principal produtor de concentrados de tungstênio, representando mais de 80% da produção mundial", segundo estimativas do governo dos Estados Unidos.

Adicionalmente, Pequim incluiu duas empresas americanas, a empresa de biotecnologia Illumina e o varejista de moda PVH Group (proprietário da Calvin Klein e Tommy Hilfiger), em sua lista de "entidades não confiáveis".

Segundo o governo chinês, essas empresas "violavam os princípios normais de comércio do mercado".

Investigação contra o Google e ação perante a OMC

Em um comunicado separado, a Administração Estatal de Regulação do Mercado da China informou sobre a abertura de uma investigação contra o Google por supostas violações da lei antimonopólio do país.

Embora o motor de busca do Google não opere na China, a empresa mantém algumas atividades no território.

Pequim reforçou sua postura contra as medidas dos Estados Unidos, levando o conflito à Organização Mundial do Comércio (OMC).

"A prática dos Estados Unidos prejudica gravemente o sistema de comércio multilateral baseado em normas, a cooperação econômica e comercial entre a China e os Estados Unidos, e a estabilidade da cadeia industrial e de suprimentos global", declarou o Ministério do Comércio chinês.

Antecedentes e reações

O novo episódio de tensões comerciais surge após a administração Trump impor uma tarifa de 10% sobre as importações chinesas, uma medida anunciada no sábado anterior.

Pequim respondeu imediatamente com uma declaração de condenação e a promessa de "defender resolutamente seus direitos".

As medidas da Casa Branca se inserem dentro de uma estratégia mais ampla que também afeta o México e o Canadá, países que Trump responsabiliza pela crise de imigração ilegal e pelo tráfico de fentanilo para os Estados Unidos.

No entanto, após conversas com os líderes desses países, Trump concordou em "pausar imediatamente" as tarifas para o México e o Canadá.

Trump também manifestou sua intenção de falar com o presidente chinês Xi Jinping nas próximas 24 horas, embora Pequim ainda não tenha confirmado nenhuma ligação.

O fator fentanilo e a possibilidade de um acordo

O comércio de fentanil tem sido um fator chave nas negociações entre os dois países. As autoridades americanas acreditam que diversas entidades chinesas fornecem os precursores químicos usados para fabricar essa droga, que depois é processada em laboratórios no México e nos Estados Unidos.

Pequim, por sua vez, argumenta que tomou medidas para frear a exportação desses produtos.

Apesar da escalada de tensões, as tarifas de 10% impostas por Trump são inferiores às tarifas de 60% que ele havia prometido durante sua campanha, o que indica a possibilidade de uma margem de negociação.

O presidente norte-americano também indicou que poderia reconsiderar essas tarifas se ambas as nações alcançarem um acordo mais amplo sobre comércio e segurança global.

Impacto econômico das medidas chinesas nos EUA.

As represálias chinesas parecem estar projetadas para afetar setores específicos da economia americana sem gerar um impacto devastador.

A China, por exemplo, é um importador relativamente menor de gás natural liquefeito estadunidense, adquirindo apenas 2,3% do total exportado pelos EUA.

O setor automotivo dos Estados Unidos também não será severamente afetado, uma vez que as principais importações de automóveis na China vêm da Europa e do Japão.

Isso sugere que Pequim pode estar aplicando essas medidas como uma estratégia de pressão antes de futuras negociações.

O atual conflito entre a China e os Estados Unidos remete à guerra comercial de 2018, durante o primeiro mandato de Trump, quando ambos os países impuseram tarifas sobre centenas de bilhões de dólares em produtos.

No entanto, o governo de Joe Biden manteve muitas dessas tarifas e até as aumentou em setores chave, como os semicondutores e os veículos elétricos.

Apesar das tensões, as economias de ambas as nações continuam profundamente interconectadas. Durante os primeiros 11 meses do último ano, a China exportou produtos no valor de 401 bilhões de dólares para os Estados Unidos, enquanto as importações americanas para a China totalizaram 131 bilhões de dólares.

Segundo Laura Bicker, correspondente da BBC em Pequim, "essas medidas calculadas podem ser apenas um tiro inicial de Pequim, uma forma de adquirir um pouco de poder de negociação antes de qualquer diálogo, mas ainda persiste o risco de que isso marque o início de uma guerra comercial de troca e contra-troca".

O panorama ainda é incerto, mas o que está claro é que as relações entre a China e os Estados Unidos continuarão a ser marcadas pela competição econômica e tecnológica nos próximos meses.

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