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O recém-libertado José Daniel Ferrer gerou um intenso debate após propor uma "reconciliação" com o regime cubano, caso este decida iniciar um processo de transição.
Em uma entrevista com o meio independente El Toque, Ferrer afirmou: "Se eles decidirem, mesmo que seja de maneira tardia, começar um rápido processo de transição aqui em Cuba, estarei de acordo que esse processo comece a andar e que nos reconciliemos e tiremos Cuba para frente".
Esta postura suscitou reações diversas. Enquanto alguns elogiam sua coragem e clareza, outros o qualificaram de "traidor".
Ferrer, líder da União Patriótica de Cuba (UNPACU), consciente das críticas, enfatizou que sua trajetória na luta pela democracia e pelos direitos humanos em Cuba é prova suficiente de seu compromisso, afirmando que "os fatos falam mais que as palavras".
"A Valesa, a Gandhi, a Luther King e a outros que fizeram muito por seus povos e pela liberdade, também foram chamados de traidores... Portanto, não é raro que ataquem este humilde guajiro sem ódio em seu coração, mas também sem medo. Os fatos falam mais do que as palavras. Nada novo sob o sol, diz um texto bíblico. Aqueles que difamam, caluniam e tergiversam a realidade, aqueles que odeiam, a história lhes dá o lugar que merecem...", escreveu recentemente em suas redes sociais.
Na polêmica entrevista, o opositor comparou sua proposta com processos semelhantes em outros países, mencionando a Polônia e o Chile, onde se dialogou com as hierarquias ditatoriais para alcançar transições pacíficas.
"Lech Walesa não negociou com Jaruzelski...? Não acabaram acertando todo um processo? Não chegou o Solidariedade ao poder com o apoio do povo? Por que não vamos optar por esse caminho em Cuba?", questionou.
Ferrer, que foi preso em várias ocasiões por seu ativismo, enfatizou que sua luta se baseia em princípios de liberdade e justiça, desmentindo qualquer acusação de deslealdade. "Não há traição maior do que permanecer em silêncio diante da opressão e da miséria do nosso povo."
As palavras de Ferrer geraram reações tanto de apoio quanto de rejeição dentro e fora de Cuba. Um dos que se mostrou em desacordo com suas declarações foi o também opositor Manuel Milanés.
Em suas redes sociais, Milanés escreveu: “Ao contrário de José Daniel Ferrer, eu não vou ofendê-lo chamando-o de bêbado ou rato, como ele faz comigo em sua décima, mas dou minha palavra de homem que, se ele pactuar com a tirania do Partido Comunista, sem que haja punição para os criminosos, receberá o mesmo tratamento que um vil traidor”.
Ao longo de seu ativismo, Ferrer enfrentou múltiplas prisões e encarceramentos. Em 2003, durante a conhecida "Primavera Negra", foi detido e condenado a 25 anos de prisão por sua participação no Projeto Varela, uma iniciativa que buscava reformas democráticas em Cuba. Foi libertado em 2011 após uma mediação entre o governo cubano, a Igreja Católica e o Governo espanhol.
Em outubro de 2019, Ferrer foi preso novamente sob a acusação de "lesões" e "privação de liberdade". Após seis meses na prisão, foi condenado a quatro anos e meio de prisão domiciliar.
No entanto, em julho de 2021, durante os protestos antigovernamentais de 11J, foi preso novamente por tentar se juntar às manifestações em Santiago de Cuba.
Desde então, permaneceu na prisão de Mar Verde em condições denunciadas como desumanas, incluindo isolamento extremo e falta de atendimento médico.
El 16 de janeiro de 2025, após quase três anos e meio na prisão, José Daniel Ferrer foi liberado como parte de um acordo entre o governo cubano, os Estados Unidos e o Vaticano, que previa a liberação gradual de 553 prisioneiros políticos.
A sua saída, Ferrer instou os cubanos a não temerem lutar por uma Cuba livre e próspera, enfatizando que "o opressor está cada vez mais assustado".
A despeito de sua liberação, Ferrer expressou críticas à administração do ex-presidente Joe Biden e ao Vaticano pela forma como o acordo foi gerido, apontando que não sente gratidão por negociações que considera indignas e que poderiam beneficiar o regime cubano.
Ha reafirmado seu compromisso em continuar a luta pacífica pela liberdade e democracia em Cuba, apesar das adversidades e possíveis represálias.
Perguntas Frequentes sobre José Daniel Ferrer e a Situação em Cuba
Por que José Daniel Ferrer foi qualificado de "traidor" por alguns?
José Daniel Ferrer tem sido chamado de "traidor" por alguns devido a sua proposta de "reconciliação" com o regime cubano, caso este inicie um processo de transição para a democracia. Ferrer afirma que sua trajetória na luta pela democracia e pelos direitos humanos é prova suficiente de seu compromisso com o povo cubano. Em suas declarações, ele comparou sua proposta com processos de transição em outros países, como Polônia e Chile.
Qual é a postura de José Daniel Ferrer em relação à sua libertação?
José Daniel Ferrer expressou críticas em relação ao acordo que levou à sua libertação, apontando que não sente gratidão por processos que considera indignos e que poderiam beneficiar o regime cubano. Ferrer afirmou que prefere morrer na prisão a dever sua libertação a uma negociação indigna. Além disso, tem reafirmado seu compromisso de continuar a luta pacífica pela liberdade de Cuba.
Qual é a proposta de José Daniel Ferrer para o futuro de Cuba?
José Daniel Ferrer pediu ao governo cubano que realize "eleições livres e plurais" e que inicie um processo de "reconciliação nacional". Ferrer defende uma Cuba livre e democrática, amiga do Ocidente, e o fim do terrorismo de Estado e das privacões que o povo cubano enfrenta. Em suas declarações, ele enfatizou a necessidade de unidade entre os cubanos para alcançar a liberdade e os direitos humanos na nação.
Como tem sido a experiência de José Daniel Ferrer na prisão?
José Daniel Ferrer descreve sua experiência na prisão como um "inferno", apontando que viveu em condições desumanas, incluindo isolamento e agressões. Ferrer denunciou que o regime cubano o submeteu a torturas físicas e psicológicas, e que foi brutalmente agredido durante seu encarceramento. Apesar das dificuldades, Ferrer se manteve firme em seu compromisso com a luta pela democracia em Cuba.
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