Economista critica a dolarização em Cuba: "Falam em corrigir distorções quando estão amplificando-as."

Pedro Monreal lembra ao governo que o importante não é captar divisas, mas sim gerá-las. E alerta que a dolarização para captar remessas não resolve a crise estrutural.

Tienda de produtos Vima em Infanta e Santa Marta, La HabanaFoto © CiberCuba

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O economista cubano Pedro Monreal criticou a dolarização em Cuba e questionou o regime por afirmar que pretende corrigir distorções na economia quando, na verdade, as está amplificando.

Em um longo fio em sua conta no X, Monreal analisou a recente Mesa Redonda dedicada ao tema, a qual, em sua opinião, incluiu os "quatro cavaleiros do Apocalipse" da comunicação oficial em Cuba: a falta de autocrítica, a tergiversação, a opacidade e a insolência.

"A falta de autocrítica se manifesta na utilização de retruques como 'situação da economia' e 'projeções para corrigir distorções e reimpulsionar a economia' para se referir a uma crise estrutural e a uma sequência de medidas mal conectadas", apontou.

Al especialista chama a atenção o fato de que um alto funcionário do país - referindo-se a Mildrey Granadillo de la Torre, primeira vice-ministra de Economia e Planejamento - não entenda o processo que está explicando. Ou que, se entende, tente enganar o público. "Claro que a dolarização parcial não é o que disseram. Essa 'definição' acabaram de inventar", sublinhou.

Para Monreal, a dolarização responde a incertezas econômicas e políticas, e em Cuba o que as divisas estrangeiras fazem é substituir as funções básicas do dinheiro que o peso cubano não desempenha bem. "É essencialmente sobre substituir por divisas, não é para 'captar' divisas", esclareceu.

As recentes medidas de dolarização levaram a um aumento da moeda estrangeira no mercado informal desde dezembro. A abertura de lojas que operam em USD e a venda de carros em divisas resultaram em uma maior demanda de dólares por parte da população, enquanto a Moeda Livremente Convertível (MLC) mostra uma tendência de queda.

Segundo explicou Monreal, a dolarização parcial tende a dificultar a gestão macroeconômica, pois aumenta o risco de uma crise de liquidez (o Banco Central não pode atuar como emprestador de última instância em moedas estrangeiras).

"Outra tergiversação é a insistência em 'captar' divisas, quando o que é crucial é 'gerar' divisas. São duas coisas distintas. Dolarizar para 'captar' remessas não resolve um componente básico da crise estrutural: um modelo falido de especialização internacional", ressaltou.

O especialista também comentou sobre a importância das remessas para modificar - e não apenas dinamizar - a estrutura produtiva, desde que sejam direcionadas para o investimento. E questionou o governo por não informar sobre o destino das remessas em Cuba.

"Se enuncia de maneira nebulosa um suposto programa de governo para 'avanços em direção a uma desdolarização da economia', mas sem explicá-lo. O dado conhecido é que a dolarização está se ampliando. O que a desdolarização poderia ser não está claro", apontou.

Monreal pediu às autoridades que avaliassem as razões para o peso cubano ser menos eficaz que o dólar no cumprimento das funções do dinheiro internamente.

Por último, acusou os funcionários do Estado de insolência, pois retomam velhas promessas que não funcionaram e não oferecem explicações para o fracasso, e lembrou os episódios com os CUC e os 'corralitos' dos bancos cubanos.

"Resumindo: o governo cubano exagera os supostos benefícios e a relevância de uma 'dolarização parcial' sem aparente conexão com uma reforma estrutural da economia, ao mesmo tempo em que se vangloria de um programa de desdolarização que não explica", concluiu.

No final do ano passado, o economista criticou o anúncio do regime de um suposto "novo regime cambial", e destacou que não há fundamentos para ser considerado como tal.

Segundo ele disse, a mudança proposta não representa uma transformação significativa do esquema cambial vigente, mas, em essência, mantém um tipo fixo com variações em seu componente secundário para o "setor população e não estatal".

O acadêmico criticou o desempenho econômico de Cuba em 2024 e questionou os avanços no reimpulso da economia e na estabilização macroeconômica anunciados pelo governo.

Monreal alega que o país enfrenta uma grave "estanflacão", caracterizada por um estancamento econômico combinado com uma elevada inflação, que piora o nível de vida das famílias.

Em sua opinião, o governo distorce seu discurso, pois não se pode falar em um "reimpulso da economia" quando esta teve uma queda em quatro dos últimos seis anos. Além disso, o PIB a preços constantes em 2024 foi inferior ao de 2019, agravado pelo impacto de um sistema eletroenergético disfuncional.

Perguntas frequentes sobre a dolarização e a economia em Cuba

Qual é a crítica de Pedro Monreal sobre a dolarização em Cuba?

Pedro Monreal critica que a dolarização em Cuba amplifica as distorções econômicas em vez de corrigi-las. Ele argumenta que a dolarização parcial limita a efetividade da política monetária e aumenta o risco de uma crise de liquidez, além de ser uma estratégia mais focada em captar do que em gerar divisas.

Como a dolarização afeta o peso cubano?

A dolarização afeta o peso cubano ao substituir suas funções básicas por moedas estrangeiras, devido à menor efetividade do peso no mercado interno. Isso enfraquece a moeda nacional e dificulta a gestão macroeconômica, exacerbando as desigualdades econômicas na população.

Por que a política de dolarização em Cuba é considerada problemática?

Monreal considera que a política de dolarização é problemática porque perpetua um modelo econômico desigual, beneficiando apenas aqueles que têm acesso a divisas. Além disso, não aborda os problemas estruturais do sistema monetário cubano, como a devaluação do peso e a falta de transparência no uso de remessas e divisas.

Qual é a relação entre o investimento em turismo e a crise econômica em Cuba?

A investimento em turismo é criticada por desconsiderar setores essenciais como a saúde e a agricultura. Apesar dos significativos investimentos no setor, o turismo não alcançou as metas esperadas, o que questiona sua sustentabilidade e a abordagem do governo em priorizá-lo em detrimento de outras necessidades críticas do país.

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