O professor Pedro Albert Sánchez recebeu em sua casa, neste 16 de janeiro, a visita de um agente da Polícia política cubana, que se apresenta como Major Denis. O militar da Segurança do Estado foi para lhe propor a troca de sua licença extrapenal, que é por um ano e vence em novembro de 2025, por uma liberdade condicional. "Não aceitei. Não assinei. Nem sequer li. Com mercadorias para tirar Cuba da lista do terrorismo, não vão me pegar".
Segundo explica o professor Albert, existem duas razões pelas quais ele não pode aceitar um acordo com a Polícia política do regime. A primeira delas seria aceitar que cometeu um crime por se manifestar em 11 de julho de 2021 "e isso não aconteceu", diz em um vídeo compartilhado na página do Facebook de sua esposa Ana Elvis Amaya.
O segundo motivo é que, se aceitar, isso poderia ser interpretado como "eles têm razão no que estão fazendo, que está bem feito e que defendem a justiça", acrescentou em referência à excarceration de 553 reclusos que o regime acertou com o Vaticano, coincidindo com o fim do mandato de Joe Biden e a retirada de Cuba da lista de países patrocinadores do terrorismo.
O professor Albert esclarece que se a Segurança do Estado tivesse passado por sua casa há vários dias, antes da retirada do regime de Díaz-Canel da lista de países patrocinadores do terrorismo, talvez ele tivesse aceitado, pois sua saúde vem se deteriorando progressivamente.
"No início, melhorei muito durante o primeiro mês (em liberdade), mas (minha saúde) tem se deteriorado novamente. Tanto que no Oncológico, não só preciso tratar a questão da próstata, que, por sinal, não há reagente para fazer o PCA nas últimas vezes que fui, como também preciso tratar a boca, que estou tendo dificuldades. Também consultei um especialista em cabeça e pescoço. Se eles tivessem vindo uns dias antes, eu acredito que, já na minha idade, com meu estado de saúde deteriorando-se progressivamente, eu teria talvez assinado, porque acho que já fiz o que pude e também acredito que outros terão que continuar fazendo o que eu já não posso fazer. Contudo, em troca de mercadorias para retirar Cuba da lista de terrorismo, não vão me pegar", apontou.
"Por isso é que não assinei. Por isso é que não vou assinar e por isso é que estou disposto a ir para a prisão mais uma vez e até a morte. Assim de fácil e de simples."
No obstante, Pedro Albert não julga as pessoas que aceitaram as condições que lhes foram apresentadas para ganhar a liberdade. "Eu sou muito respeitoso. Minha posição foi não aceitá-las. Já há pessoas que criticam Ferrer por ter aceitado ou não ter aceitado. Quando José Daniel Ferrer foi preso há tantos anos, eu estava criando meus filhos sem me buscar problemas. Por isso, tiro o chapéu para Ferrer uma e mil vezes e sinto uma enorme alegria por ele estar fora das prisões. Não sei quais condições ele aceitou ou se no caso dele foi sem condições. Amigos, irmãos e irmãs: é preciso estar um dia, outro e mais um dia atrás das grades para saber até onde a mente humana pode ir. Se eu tivesse 37 ou 40 anos e estivesse criando duas crianças pequenas, talvez eu tivesse aceitado. Por isso, não quero me colocar na pele de ninguém. Não quero colocar palavras na boca de ninguém. Estou dando minha opinião. Eu gostaria que outros, assim como eu fiz, fizessem o que eu fiz. É o que eu mais gostaria, mas não é o que peço."
Às pessoas que o elogiaram por sua coragem, Albert lembra que "quando se tem convicções, a coragem acontece. Estou bem disposto. Não vejam isso como uma grande coisa. Esta minha atitude não é a que todos devem assumir. Cada um deve ter seus critérios e adotar sua própria postura. E ser respeitosos com o que os outros fazem", concluiu.
O professor Pedro Albert Sánchez, de 67 anos, é portador de câncer de próstata e foi encarcerado por alguns meses devido à onda repressiva que se seguiu às protestas de 11 de julho em Cuba, nas quais ele participou. Em dezembro de 2023, foi novamente preso quando um tribunal revogou sua liberdade condicional (ele foi condenado a cinco anos). Durante sua última estadia na prisão, recusou-se a usar o uniforme de detento e declarou greve de fome na 1580, em San Miguel del Padrón. É reconhecido pela Anistia Internacional como um prisioneiro de consciência.
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