Luis Manuel Otero Alcántara celebra hoje mais um aniversário, marcado pelas grades que o separaram do mundo exterior e de seus entes queridos. Este dia especial não é apenas uma oportunidade para recordar sua vida e obra, mas também para destacar sua coragem, seu comprometimento com a liberdade de expressão e sua luta inabalável desde o encarceramento.
Nascido em San Isidro, um dos bairros mais emblemáticos de Havana Velha, Luis Manuel Otero Alcántara se consolidou como uma das figuras mais importantes da arte contemporânea cubana. Sua obra, profundamente crítica e repleta de simbolismos, tem se concentrado na luta contra a repressão, a censura e as injustiças sociais que os cubanos enfrentam. Por meio de instalações, performances e ações públicas, Luis Manuel tem desafiado as narrativas oficiais e utilizado a arte como uma ferramenta de resistência.
Entre seus trabalhos mais destacados está "Drapeau", uma performance na qual utilizou a bandeira cubana como segunda pele durante 30 dias consecutivos. Esse ato artístico, que questionava a apropriação dos símbolos patrióticos pelo regime, o tornou alvo da Segurança do Estado. Outro exemplo é a série de intervenções urbanas que realizou como parte de seu ativismo no Movimento San Isidro (MSI), nas quais reivindicou a necessidade de liberdade e o fim da repressão em Cuba.
Em 2018, Luis Manuel foi um dos fundadores do Movimento San Isidro, um coletivo de artistas, intelectuais e ativistas que se opõe pacificamente ao autoritarismo. O MSI tem defendido a liberdade de expressão, os direitos culturais e a participação cidadã em uma sociedade democrática. Sua luta ganhou notoriedade internacional em novembro de 2020, quando realizaram uma greve de fome e sede em protesto pela detenção arbitrária de Denis Solís, outro membro do movimento.
Esta ação culminou em um violento despejo policial, mas também atraiu o apoio de centenas de cubanos e figuras internacionais. A repressão contra o MSI e seus integrantes, no entanto, não parou, e Luis Manuel se tornou um símbolo da resistência pacífica diante de um regime intolerante.
Em 11 de julho de 2021, Luis Manuel foi preso enquanto tentava se juntar às históricas manifestações que eclodiram por toda a ilha. Acusado de "desordens públicas", "ultraje aos símbolos pátrios" e "desacato", foi condenado a cinco anos de prisão em um julgamento que organizações como a Anistia Internacional qualificaram de arbitrário e politizado.
Desde então, foi transferido para a prisão de máxima segurança de Guanajay, onde sofreu múltiplas violações de seus direitos humanos, incluindo períodos de incomunicação e falta de atendimento médico adequado. Apesar de tudo, Luis Manuel não deixou de criar. Na prisão, continua a fazer desenhos e obras que foram retiradas clandestinamente e expostas em eventos internacionais, demonstrando que a arte pode transcender qualquer barreira física.
Hoje, Luis Manuel celebra seu aniversário em condições que nenhum ser humano deveria enfrentar, muito menos por expressar suas ideias e sua arte. Este aniversário é um lembrete da dívida que a sociedade cubana e internacional tem com aqueles que, como ele, arriscam tudo para defender os direitos fundamentais.
Desde sua cela, Luis Manuel enviou recentemente uma mensagem na qual reafirma seu compromisso com a liberdade e sua arte: “Nada tem lapidado os dons da criação. Luto para que, ao fechar os olhos em profundo sono, minha alma saia a caminhar junto aos meus entes queridos”.
Neste dia, não celebramos apenas a sua vida, mas também o seu espírito indomável. Luis Manuel Otero Alcántara é um testemunho vivo da resistência e do poder da arte como forma de luta. Seu legado, já inscrito na história contemporânea de Cuba, nos inspira a continuar exigindo a sua libertação e a de todos os presos políticos na ilha. Que este aniversário seja um lembrete de que a sua voz, embora silenciada temporariamente, continua a ressoar nos corações de todos que anseiam por uma Cuba livre e justa.
Feliz aniversário, Luis Manuel! Sua luta é também a nossa, e sua arte nos lembra a cada dia a importância da liberdade.
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