Régimen de Maduro expulsa de Caracas a delegação do PP espanhol convidada por candidatura opositora.

A decisão do regime de Maduro contrasta com a aprovação recebida por outros políticos espanhóis, como o ex-presidente socialista e partidário da chamada “revolução bolivariana”, José Luis Rodríguez Zapatero, ou o fundador do partido espanhol de extrema esquerda Podemos, Juan Carlos Monedero.


O regime de Nicolás Maduro negou a entrada na Venezuela a uma delegação do Partido Popular espanhol que viajou nesta sexta-feira a Caracas, convidada para as eleições presidenciais pela candidatura da oposição de Edmundo González e María Corina Machado.

Os políticos espanhóis que integravam a delegação do partido de centro-direita foram retidos no aeroporto de Caracas e receberam a ordem de voltar em outro voo com destino a Madri.

"Acabei de ser informado de que a delegação do PP formada por 10 deputados, senadores e eurodeputados está retida no aeroporto de Caracas pelo regime de Maduro. Exigo sua liberação imediata e que o Governo da Espanha coloque os meios necessários para tal fim", denunciou em suas redes sociais, Alberto Núñez Feijóo, presidente do Partido Popular espanhol.

A decisão do regime de Maduro contrasta com a aprovação recebida por outros políticos espanhóis, como o ex-presidente socialista e partidário da chamada "revolução bolivariana", José Luis Rodríguez Zapatero, ou pelo fundador do partido espanhol de extrema esquerda Podemos, Juan Carlos Monedero, propagandista e assessor do chavismo.

Ao chegarem ao Aeroporto Internacional de Maiquetía 'Simón Bolívar', o grupo de dez políticos conservadores espanhóis foi retido por cerca de duas horas, segundo o Libertad Digital. Pouco depois, foi confirmada a expulsão da delegação, em que a deputada Cayetana Álvarez de Toledo qualificou como “uma cena absolutamente grotesca e de ditadura de quarta”.

“Não se atreveram a colocá-los por escrito, embora tenhamos pedido”, revelou a representante popular. “Começaram dizendo que havíamos votado a favor das sanções a Venezuela, mas não eram ao país, e sim aos líderes do regime... e isso foi no Parlamento Europeu”, acrescentou.

Segundo Álvarez de Toledo, diante de sua pergunta se essa decisão “era compatível com umas eleições que o próprio regime declara que são livres e democráticas”, as autoridades do regime de Maduro responderam que sim, “que são livres e democráticas”.

"Eu disse a eles que isso era manifestamente incompatível com a expulsão de uma delegação convidada pela oposição", relatou a popular ao referido meio.

Para Miguel Tellado, porta-voz parlamentar do PP que integrou a delegação, “o fato de que nos tenham expulsado deixa claras as intenções [do regime] de manipular as eleições do próximo domingo”.

Em uma mensagem compartilhada em suas redes sociais, Tellado confessou que havia “ocorrido o que temíamos que poderia acontecer” e afirmou que “o tirano Maduro se comportou como o que é”.

Também Álvarez de Toledo publicou uma mensagem no X com um vídeo em que quis "transmitir toda a força e toda a esperança" aos venezuelanos que "se mobilizaram de uma maneira heroica e histórica lutando pela democracia em seu país".

Assim, disse ter se comunicado com María Corina Machado. “Disse a ela que, assim como ela não tem medo, tenho certeza de que milhões de venezuelanos também não têm.”

Nesse sentido, os convocou a “votarem em massa neste domingo para que este país abra as portas e as janelas e vocês sejam a nação livre e democrática, forte, próspera e vibrante que têm todo o direito de ser”.

Além da delegação do PP espanhol, o regime de Maduro impediu na sexta-feira a viagem a Caracas de quatro ex-presidentes latino-americanos que pretendiam atuar como observadores nas eleições de domingo, convidados pela oposição.

O voo CM-223 da companhia aérea panamenha Copa Airlines, que transportava quatro ex-mandatários para a Venezuela, não pôde decolar do aeroporto de Tocumen "devido ao bloqueio do espaço aéreo venezuelano", assegurou o presidente panamenho José Raúl Mulino no X.

A expulsão de observadores e testemunhas: Um clássico eleitoral do regime chavista

Em maio de 2018, a União Europeia (UE) anunciou que as eleições nas quais Maduro foi reeleito com um alto nível de abstenção não atenderam aos padrões internacionais.

A alta representante da UE para a Política Externa, Federica Mogherini, denunciou irregularidades e assegurou que os países que integram a União "considerarão a adoção de medidas adequadas".

Em um comunicado divulgado, a União Europeia destacou que "as eleições presidenciais e regionais (na Venezuela) foram realizadas sem um acordo nacional sobre um calendário eleitoral e sem cumprir com os padrões internacionais mínimos para um processo crível".

"Grandes obstáculos à participação dos partidos políticos de oposição e seus líderes, uma composição desequilibrada do Conselho Nacional Eleitoral, condições eleitorais tendenciosas, numerosas irregularidades relatadas durante o dia das eleições, incluindo a compra de votos, obstacularizam umas eleições justas e equitativas", enumerou Mogherini.

Em dezembro de 2019, o regime de Maduro comunicou seu desacordo com que a Organização dos Estados Americanos (OEA) observasse o processo eleitoral de 2020 no país sul-americano.

“Eu suspeito que toda a oposição vai concordar que a OEA não vá”, disse em entrevista coletiva o então vice-presidente venezuelano de Comunicação, Turismo e Cultura, Jorge Rodríguez Gómez.

“Na mesa de diálogo chegamos a uma série de acordos sobre auditorias no sistema eleitoral e revisão do registro de votos na Venezuela e sobre observação internacional”, explicou o dirigente chavista.

“Que seja o mais amplo possível, que observe as Nações Unidas, a União Europeia, Espanha. Acusaremos convite a todos os organismos que de boa-fé queiram assistir como observadores às eleições parlamentares”, apontou.

Por outro lado, para o vice-presidente venezuelano, a OEA não era uma organização multilateral dos países das Américas, mas sim voltada para agredir outros povos. “É responsável direta pelo golpe de Estado perpetrado na Bolívia, que acabou de maneira violenta com o governo de Evo Morales (…) Avaliza qualquer agressão contra qualquer povo da região que decida ser livre”, declarou.

A finais de junho de 2020, Maduro deu 72 horas para que a representante da UE em Caracas deixasse o país, em uma expulsão anunciada após sanções a um grupo de funcionários venezuelanos por parte do bloco comunitário.

Meses depois, Maduro ordenou a expulsão da nova embaixadora da União Europeia, Isabelle Brilhante, a quem deu 72 horas para abandonar o país, em retaliação contra as novas sanções do bloco a 19 funcionários do governo venezuelano.

A finais de setembro de 2021, a UE anunciou o desdobramento de uma missão de observação eleitoral para as eleições regionais de 21 de novembro, a primeira em 15 anos.

A presença de uma missão de observação eleitoral da UE não era registrada desde 2006 e acontecia em um momento em que a oposição havia aceitado participar nas eleições de governadores e prefeitos, após ter estado ausente nas eleições presidenciais de 2018 e nas parlamentares de 2020, argumentando que não havia garantias eleitorais suficientes.

"Após anos de tensões e polarização, as próximas eleições são um possível passo importante em direção à busca por uma solução pacífica e democrática para a crise na Venezuela", disse a parlamentar Isabel Santos, chefe da missão de observação eleitoral.

Apesar de ter se declarado disposto a aceitar a UE como observador, o regime de Maduro qualificou de "pretensão ingerencista" a missão para as eleições que o país realizava em novembro.

Após assegurar que a missão da UE era a maior garantia para a oposição nas eleições de 21 de novembro, a chancelaria venezuelana respondeu que não aceitaria "ingerência alguma, e que uma Missão de Observação eleitoral com as características descritas pelo senhor Borrell não será aceita por nosso país".

Finalmente, a missão foi implantada no terreno, mas Maduro acusou seus membros de serem "espiões" e acrescentou que seu relatório preliminar buscava "manchar" as eleições.

"Buscaram em um relatório cheio de improvisações e mal redigido, tentaram manchar o processo eleitoral e não conseguiram. Uma delegação de espiões, não eram observadores, andava pelo país livremente espiando a vida social, econômica e política do país", disse Maduro em uma transmissão da televisão estatal sobre a observação da União Europeia.

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