Em meio à pior crise migratória da história da ilha, o regime cubano tentou manipular os alarmantes números do esvaziamento demográfico e de fenômenos tão preocupantes como a feminização da emigração, revelou o doutor em Ciências Econômicas e Demografia, Juan Carlos Albizu-Campos Espiñeira.
Em uma extensa entrevista com a revista independente El Estornudo, o especialista afirmou que Cuba perdeu 18% de sua população entre 2022 e 2023, um dado alarmante que muitos intuíam, mas não se atreviam a confirmar; e que finalmente teve que reconhecer o regime na semana passada.
Albizu-Campos –cujos análises concluíram que na ilha havia apenas 9,4 milhões de pessoas no final de 2023– observa que uma fonte anônima confirmou que na estatal Oficina Nacional de Estatísticas e Informação (ONEI) incomodaram seus cálculos.
O pesquisador afirma que a ONEI manipula os números demográficos para manter a população oficial acima de 11 milhões de habitantes até o censo de 2025, obedecendo a uma política de "não dar armas ao inimigo".
Isso é feito por meio da superestimação da população de 0 a 15 anos e da subestimação dos números de emigração, explicou.
Outro fenômeno que denuncia é a feminização da emigração, um fato que o governo cubano ainda não reconhece.
"Não reconheceram tudo, e até mentiram. Por exemplo, a ONEI disse que há uma paridade de sexo na emigração, quando a realidade é que, de acordo com o International Migrant Stock das Nações Unidas, 56,6 por cento dessa emigração são mulheres", expressou o pesquisador.
A esse respeito, explica que as autoridades estão tentando esconder a grave problemática de uma feminização da emigração e que, do total, 79,5 por cento são mulheres em idade reprodutiva e economicamente ativas, entre 15 e 59 anos.
Isto indica que "em Cuba está ocorrendo um processo de esvaziamento demográfico. E se essas coisas continuarem sendo encobertas, as autoridades jamais vão se informar sobre os padrões de comportamento reais da população nem sobre os problemas mais urgentes do país", ressalta Albizu-Campos Espiñeira.
Albizu-Campos, reconhecido com vários prêmios nacionais da Academia de Ciências de Cuba, concorda que a drástica diminuição da população é resultado de uma crise multifatorial marcada pelo aumento da pobreza infantil, queda da expectativa de vida, aumento da mortalidade materna e uma migração em massa.
Mas acrescenta que também é resultado "de um conjunto de crises não superadas que foram se sobrepondo" e que estão gerando uma "eclosão".
Estas iniciaram em uma data tão precoce quanto a década de sessenta, com a crise do modelo de financiamento orçamentário que se prolongou de 1968 a 1974, e seguiram com o estagnação do modelo de cálculo econômico, conhecido como o período de "retificação de erros" (1985-1990), menciona.
Agrega que às antes mencionadas seguiu-se o chamado «Período Especial em Tempos de Paz» (1991-1995); a desestruturação do setor açucareiro iniciada em 2022; e algumas outras entre as quais se encontra a crise combinada da pandemia de Covid-19, o fechamento do país e o «Ordenamento Econômico» desde 2020.
Afirma que a chamada Tarefa de Ordenamento, longe de resolver os problemas financeiros do país, resultou em uma inflação extraordinária e em uma economia não conversível, dependente da importação de divisas.
Na entrevista, Albizu-Campos Espiñeira destaca que a diminuição da natalidade e o aumento da emigração refletem uma desesperança generalizada na ilha: Em 2024, Cuba registrou 34.648 nascimentos até o dia 11 de julho, um total de 8.157 a menos (20%) do que no mesmo período de 2023, segundo relatórios oficiais.
Além disso, menciona estimativas da ONU, segundo as quais em 2100 residirão em Cuba pouco mais de 5,5 milhões de pessoas.
O especialista conclui que, se não forem abordadas as causas destas crises com transparência e reformas estruturais, as autoridades cubanas não poderão entender os padrões de comportamento da população nem os problemas mais prementes do país.
A emigração em Cuba atinge níveis alarmantes, com uma significativa feminização e manipulação de dados demográficos pelo regime. Conheça mais sobre este fenômeno e os números revelados pelo especialista Juan Carlos Albizu-Campos.
O que você acha?
COMENTARArchivado em: