Aleida Guevara afirma que Trump "é produto da desesperação de um povo".

Guevara opina que os Estados Unidos "já não sabem o que fazer", e que Trump "é a consequência" dessa situação.

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Guía de Isora (Tenerife), 2 de fevereiro (EFE).- Aleida Guevara, filha de Che Guevara, considera que a eleição de Donald Trump como presidente dos EUA "é fruto da desesperança de um povo" e que representa "indiscutivelmente um perigo", embora isso não lhe "tire o sono".

Horas antes de participar em uma palestra do ciclo "Cruce de miradas: las izquierdas latinoamericanas", no Festival Internacional de Documentários MiradasDoc de Guía de Isora (Tenerife), Aleida Guevara comentou em uma entrevista com a Efe como vê seu país após a morte de Fidel Castro, e suas impressões sobre o que pode significar a chegada de Trump à Casa Branca.

Guevara opina que Estados Unidos "ya no sabe qué hacer", y que Trump "es la consecuencia" de esa situación, porque su antecesor, el demócrata Barack Obama, "tampoco resolvía los problemas reais do povo", pois "dizia coisas e não as fazia, como fechar Guantánamo".

No entanto, no caso do seu país, a filha do Che não acredita que a morte de Fidel Castro tenha gerado "nenhuma incerteza" sobre o futuro de Cuba. "Estamos bem, seguimos em frente", diz.

"Queríamos que Fidel nunca tivesse morrido, mas isso é uma questão fisiológica, ele era um homem comum e, é claro, há um sentimento de perda", acrescenta.

Aleida Guevara reconhece que, com Obama, "houve uma aproximação" entre os EUA e Cuba, uma vez que "a abertura das embaixadas foi importante", mas também afirma que "não há uma relação normal com um país que te bloqueia economicamente, é impossível".

A doutora cubana questiona também como podem ter "uma relação normal" com um país "que usurpou" uma parte de seu território, como Guantánamo, e "não a devolveu".

Exigimos que nos deixem em paz e tenhamos nosso próprio desenvolvimento social. É uma questão de decisão do povo e não de imposição, é o que temos defendido todos esses anos - destaca a filha mais nova de Che e de sua segunda esposa, Aleida March.

Guevara trabalha no Hospital Infantil William Soler, em Havana, e colabora com o Centro de Estudos Che Guevara.

Ela defende que Cuba "nunca quis deixar de ter relações com os EUA" - "nós não impusemos o bloqueio, eles é que o fizeram" - ao contrário do que aconteceu com Israel, com o qual o governo dos Castro rompeu "por respeito ao povo palestino", argumenta.

Também destaca que Cuba "foi um povo explorado e humilhado" como colônia espanhola por séculos e teve que conquistar a "soberania com sangue". "Mal tínhamos derrotado o exército espanhol, quando os EUA entraram e assumiram o controle. Fomos uma neocolônia por mais de 50 anos", afirma Aleida Guevara.

A doutora considera que o conflito com Washington reside no fato de que a América Latina sempre foi "o quintal dos EUA", que "usou os recursos dos seus países como quis".

Quando um país assume o controle de seus recursos para o povo, o governo dos EUA fica chateado porque perde riqueza" e "essa é a questão", sentencia Guevara, que exerceu a medicina em Angola, Equador e Nicarágua e é militante do PCC.

Em relação aos grafites que faziam referência a Fidel Castro após sua morte, que resultaram na detenção e posterior libertação de seu autor, "El Sexto", Guevara entende que "não é aceitável que ninguém pinte nas ruas sem autorização".

"Se a pessoa quiser pintar algo em sua casa, ela tem todo o direito, mas em um espaço público e sem permissão, não", esclarece.

Nesta linha, acrescenta que "o povo cubano não vai aceitar que haja um grafite que deprecie o líder da revolução, porque é uma falta de respeito".

Sobre a forma de governo em Cuba, alega que "é o povo que determina a base do governo", pois se este "quisesse que estivessem outro tipo de pessoas, o escolheria, desde a base". "Por que não propõem isso? É o povo que escolhe", argumenta.

Acerca da situação da Venezuela, e como autora do livro "Chávez, Venezuela e a nova América Latina", Aleida Guevara acredita que "se segue na mesma linha" com o presidente Nicolás Maduro.

O petróleo venezuelano está "hoje indo para escolas, hospitais, casas", serviços "gratuitos" e anteriormente, segundo ele, ia "para as famílias sustentadas pelos EUA".

A filha de Che Guevara defende que a Venezuela "está a semear solidariedade", embora reconheça que tem "graves problemas de abastecimento" que ela atribui a manobras para "desestabilizar o processo revolucionário".

A Venezuela "no teve tempo para amadurecer como processo", na opinião deles, já que "os EUA estiveram por cima desde o início", pois "prometeram não permitir outra Cuba na América Latina" e "a Venezuela escapou das mãos deles, foi um desastre, tinha muito petróleo ao alcance deles".

Guevara considera que a esquerda latino-americana está "sempre em crescimento", embora "haja momentos de retrocesso, como na Argentina ou no Brasil", mas "o movimento continua avançando na Bolívia, Venezuela, Equador..." "Estamos falando de resistência", acrescenta.

Por último, a destituição de Dilma Roussef como presidente do Brasil é, para Aleida Guevara, "uma falta de respeito ao que vocês chamam de democracia". "Como é que o mundo civilizado permite esse golpe de estado?, de que liberdade de expressão estamos falando?", questiona.

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