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A imprensa oficialista cubana volta a demonstrar sua desconexão com a realidade nacional.
Enquanto os cubanos enfrentam uma inflação devastadora, salários que mal atendem às necessidades básicas e um mercado desabastecido, TV Yumurí, canal estatal de Matanzas, dedicou espaço para alertar sobre o aumento dos preços nos Estados Unidos.
O meio provincial compartilhou um artigo do Los Angeles Times onde se comenta que a inflação americana ficou em 2,9% em agosto, seu nível mais alto desde janeiro.
O texto explicava que o aumento dos preços foi impulsionado pela elevação do preço da gasolina, dos alimentos, da habitação e das passagens aéreas, e detalhava que, sem contar alimentos e energia, a inflação subjacente permaneceu em 3,1%, cifra superior à meta de 2% estabelecida pelo Federal Reserve.
Um problema alheio que serve de distração
O artigo enfatizava os dilemas da Reserva Federal, submetida a pressões políticas para reduzir as taxas de juros.
No entanto, em vez de falar sobre os apagões intermináveis, a escassez de alimentos, os preços exorbitantes após o "Ordenamento" ou o colapso da moeda nacional, a imprensa matancera preferiu direcionar a atenção de seus leitores para o exterior.
O contraste na boca do povo
A publicação em Facebook de TV Yumurí desencadeou um vendaval de críticas entre os cubanos, tanto dentro quanto fora da Ilha.
Uma professora na Flórida lembrou que, apesar da inflação, um trabalhador nos Estados Unidos com salário mínimo pode pagar aluguel, enviar alimentos básicos para sua família em Cuba, carregar o celular e até economizar para ir visitá-los.
Um matancero foi ainda mais direto: "Já estamos a par. Agora falem da inflação em Cuba depois do desordenamento monetário, onde uma cerveja que custava 25 pesos agora custa mais de 500. E vocês falando de inflação nos EUA."
Outra residente da província ironizou: "Ainda bem que a inflação é nos Estados Unidos. Estamos olhando com um telescópio e não vemos o desastre de país em que vivemos".
As críticas se multiplicaram. Um idoso enfatizou que "não há um comentário que aplauda o insolente artigo" e acusou a hipocrisia do governo de olhar "o cisco no olho do outro e não a viga no seu próprio".
Jovens em Miami concordaram que a imprensa cubana deveria falar sobre a corrupção e o desastre dentro da Ilha antes de apontar para outros países.
"É preciso ter vergonha em criticar os Estados Unidos e ter um país inteiro morrendo de fome e necessidade", afirmou uma.
Velha estratégia, mesma hipocrisia
Não é a primeira vez que o oficialismo recorre a este recurso.
En 2022, el periódico Granma abriu manchetes com alarmes sobre a inflação nos Estados Unidos, que rondaba entonces el 7,5 %, mientras en Cuba el entonces ministro de Economía, Alejandro Gil, reconocía que los precios en la Isla habían subido más de un 70 % en un solo año.
Esse mesmo ano, o diário oficial também se escandalizava com imagens de "prateleiras vazias" em supermercados americanos, manipulando uma nota da CNN para justificar o desabastecimento crônico em Cuba.
O contraste era grotesco: enquanto os cubanos passavam meses sem leite em pó, a imprensa do PCC falava de "pânico de escassez" no país do norte por um problema temporário de fornecimento.
A realidade cubana que não se conta
Em Cuba, após a Tarefa de Ordenamento, os preços dispararam de uma forma nunca vista.
A moeda se desvalorizou, os salários ficaram pulverizados e a inflação real supera em muito qualquer cifra oficial. Uma cerveja custa vinte vezes mais do que há alguns anos, uma dúzia de ovos equivale ao salário de vários dias e os apagões transformam a vida cotidiana em um calvário.
Mas, enquanto isso, os meios de comunicação estatais continuam a projetar uma imagem catastrófica dos Estados Unidos, ignorando que naquele país - mesmo com a inflação - os cidadãos ainda têm acesso a bens e serviços básicos que em Cuba são um luxo.
A reação dos próprios cubanos nas redes sociais deixou claro o que o Governo tenta ocultar: o povo já não se deixa distrair.
Perguntas frequentes sobre a desconexão da imprensa cubana e a inflação
Por que a imprensa cubana se concentra na inflação dos EUA em vez da de Cuba?
A imprensa oficialista cubana costuma utilizar problemas externos como uma distração das crises internas, desviando a atenção dos problemas econômicos e sociais que a população cubana enfrenta, como a inflação descontrolada e a falta de abastecimento. Isso é percebido por muitos como uma estratégia para evitar críticas ao governo cubano e sua gestão.
Como a inflação afeta os cubanos em sua vida diária?
A inflação em Cuba devastou os salários e disparou os preços dos produtos básicos, o que faz com que muitas famílias não consigam acessar alimentos essenciais ou serviços básicos. A situação se agrava com apagões frequentes e uma moeda desvalorizada, piorando a qualidade de vida dos cidadãos.
Qual é a reação dos cubanos em relação à cobertura da imprensa sobre a inflação nos EUA?
A publicação da TV Yumurí sobre a inflação nos EUA provocou uma onda de críticas entre os cubanos, que consideram que a imprensa deveria se concentrar nos problemas internos que afetam diretamente o povo, em vez de se preocupar com problemas externos que não impactam suas vidas cotidianas.
Quais desafios a população de Matanzas enfrenta em meio à crise atual?
Os matanceros enfrentam apagões prolongados, escassez de água potável e desabastecimento de alimentos, o que torna a vida diária uma luta constante pela sobrevivência. A falta de serviços básicos e a censura das vozes dissidentes agravam a situação, gerando um ambiente de resignação e descontentamento.
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