A imprensa oficialista de Matanzas está preocupada com a inflação nos EUA.

"Falem da inflação em Cuba após o desmantelamento monetário, onde uma cerveja que custava 25 pesos agora custa mais de 500", disse um cubano.

Mercado nos EUA (Imagem referencial)Foto © Pixabay

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A imprensa oficialista cubana volta a demonstrar sua desconexão com a realidade nacional.

Enquanto os cubanos enfrentam uma inflação devastadora, salários que mal atendem às necessidades básicas e um mercado desabastecido, TV Yumurí, canal estatal de Matanzas, dedicou espaço para alertar sobre o aumento dos preços nos Estados Unidos.

O meio provincial compartilhou um artigo do Los Angeles Times onde se comenta que a inflação americana ficou em 2,9% em agosto, seu nível mais alto desde janeiro.

O texto explicava que o aumento dos preços foi impulsionado pela elevação do preço da gasolina, dos alimentos, da habitação e das passagens aéreas, e detalhava que, sem contar alimentos e energia, a inflação subjacente permaneceu em 3,1%, cifra superior à meta de 2% estabelecida pelo Federal Reserve.

Um problema alheio que serve de distração

O artigo enfatizava os dilemas da Reserva Federal, submetida a pressões políticas para reduzir as taxas de juros.

No entanto, em vez de falar sobre os apagões intermináveis, a escassez de alimentos, os preços exorbitantes após o "Ordenamento" ou o colapso da moeda nacional, a imprensa matancera preferiu direcionar a atenção de seus leitores para o exterior.

O contraste na boca do povo

A publicação em Facebook de TV Yumurí desencadeou um vendaval de críticas entre os cubanos, tanto dentro quanto fora da Ilha.

Captura do Facebook / TV Yumurí

Uma professora na Flórida lembrou que, apesar da inflação, um trabalhador nos Estados Unidos com salário mínimo pode pagar aluguel, enviar alimentos básicos para sua família em Cuba, carregar o celular e até economizar para ir visitá-los.

Um matancero foi ainda mais direto: "Já estamos a par. Agora falem da inflação em Cuba depois do desordenamento monetário, onde uma cerveja que custava 25 pesos agora custa mais de 500. E vocês falando de inflação nos EUA."

Outra residente da província ironizou: "Ainda bem que a inflação é nos Estados Unidos. Estamos olhando com um telescópio e não vemos o desastre de país em que vivemos".

As críticas se multiplicaram. Um idoso enfatizou que "não há um comentário que aplauda o insolente artigo" e acusou a hipocrisia do governo de olhar "o cisco no olho do outro e não a viga no seu próprio".

Jovens em Miami concordaram que a imprensa cubana deveria falar sobre a corrupção e o desastre dentro da Ilha antes de apontar para outros países.

"É preciso ter vergonha em criticar os Estados Unidos e ter um país inteiro morrendo de fome e necessidade", afirmou uma.

Velha estratégia, mesma hipocrisia

Não é a primeira vez que o oficialismo recorre a este recurso.

En 2022, el periódico Granma abriu manchetes com alarmes sobre a inflação nos Estados Unidos, que rondaba entonces el 7,5 %, mientras en Cuba el entonces ministro de Economía, Alejandro Gil, reconocía que los precios en la Isla habían subido más de un 70 % en un solo año.

Esse mesmo ano, o diário oficial também se escandalizava com imagens de "prateleiras vazias" em supermercados americanos, manipulando uma nota da CNN para justificar o desabastecimento crônico em Cuba.

O contraste era grotesco: enquanto os cubanos passavam meses sem leite em pó, a imprensa do PCC falava de "pânico de escassez" no país do norte por um problema temporário de fornecimento.

A realidade cubana que não se conta

Em Cuba, após a Tarefa de Ordenamento, os preços dispararam de uma forma nunca vista.

A moeda se desvalorizou, os salários ficaram pulverizados e a inflação real supera em muito qualquer cifra oficial. Uma cerveja custa vinte vezes mais do que há alguns anos, uma dúzia de ovos equivale ao salário de vários dias e os apagões transformam a vida cotidiana em um calvário.

Mas, enquanto isso, os meios de comunicação estatais continuam a projetar uma imagem catastrófica dos Estados Unidos, ignorando que naquele país - mesmo com a inflação - os cidadãos ainda têm acesso a bens e serviços básicos que em Cuba são um luxo.

A reação dos próprios cubanos nas redes sociais deixou claro o que o Governo tenta ocultar: o povo já não se deixa distrair.

Perguntas frequentes sobre a desconexão da imprensa cubana e a inflação

Por que a imprensa cubana se concentra na inflação dos EUA em vez da de Cuba?

A imprensa oficialista cubana costuma utilizar problemas externos como uma distração das crises internas, desviando a atenção dos problemas econômicos e sociais que a população cubana enfrenta, como a inflação descontrolada e a falta de abastecimento. Isso é percebido por muitos como uma estratégia para evitar críticas ao governo cubano e sua gestão.

Como a inflação afeta os cubanos em sua vida diária?

A inflação em Cuba devastou os salários e disparou os preços dos produtos básicos, o que faz com que muitas famílias não consigam acessar alimentos essenciais ou serviços básicos. A situação se agrava com apagões frequentes e uma moeda desvalorizada, piorando a qualidade de vida dos cidadãos.

Qual é a reação dos cubanos em relação à cobertura da imprensa sobre a inflação nos EUA?

A publicação da TV Yumurí sobre a inflação nos EUA provocou uma onda de críticas entre os cubanos, que consideram que a imprensa deveria se concentrar nos problemas internos que afetam diretamente o povo, em vez de se preocupar com problemas externos que não impactam suas vidas cotidianas.

Quais desafios a população de Matanzas enfrenta em meio à crise atual?

Os matanceros enfrentam apagões prolongados, escassez de água potável e desabastecimento de alimentos, o que torna a vida diária uma luta constante pela sobrevivência. A falta de serviços básicos e a censura das vozes dissidentes agravam a situação, gerando um ambiente de resignação e descontentamento.

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Equipe Editorial da CiberCuba

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