México contrata migrantes cubanos para fumigar por menos do que o salário mínimo: “Não volto para meu país”

Centenas de migrantes, incluindo cubanos, se juntam a brigadas de fumigação em Chiapas com salários baixos e sem benefícios. Embora precário, o emprego lhes permite se manter e buscar alternativas legais.

Fumigação (Imagem de referência)Foto © Governo do México

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Em um esforço para conter doenças transmitidas por mosquitos, como a dengue, a malária, o zika e a chikungunya, as autoridades do estado de Chiapas, no México, contrataram centenas de migrantes, incluindo cubanos, para participar de brigadas de fumigação e saneamento.

Os trabalhadores recebem um salário de 2.300 pesos quinzenais, abaixo da média local de 3.350 pesos que outros operários da região recebem, reportou o portal de notícias 14 y Medio.

Além disso, os migrantes também não possuem benefícios sociais como serviços médicos, fundo de poupança ou pagamento de participação nos lucros, destacou o meio citado.

No entanto, para o cubano Yaniel, que faz parte das brigadas, o emprego, embora insuficiente, lhe permite se sustentar enquanto aguarda uma resolução para seu status migratório.

O habanero de 28 anos, que atualmente reside em Tapachula, Chiapas, destacou que sua prioridade é não retornar a Cuba e buscar alternativas no México ou em outros países da região.

“Estou com o trâmite junto à Comissão Mexicana de Ajuda a Refugiados (Comar) e tenho uma consulta marcada para maio. Confio que me concederão o refúgio, pois se não for no México, busco em Guatemala, mas não volto a Cuba”, confessou à 14 y Medio.

Além disso, destacou que, embora o pagamento seja baixo, pelo menos é “seguro”.

Jaiver Urdaneta, de origem venezuelana e outro dos migrantes envolvidos nas brigadas de fumigação, explicou que conheceu o trabalho por recomendação de um amigo e decidiu aceitá-lo para cobrir suas necessidades básicas enquanto permanece em Tapachula.

O programa, além de realizar a fumigação, inclui tarefas de “descacharrização”, que consiste na remoção de lixo e objetos abandonados que poderiam se tornar criadouros de mosquitos.

Embora os trabalhadores enfrentem desafios devido à precariedade do trabalho e à ausência de benefícios, muitos consideram essa oportunidade como um alívio temporário enquanto buscam se estabelecer de forma mais estável no México.

Uma fonte da secretaria de Saúde municipal informou à 14 y Medio que “os migrantes se juntam às brigadas especializadas em controle de vetores e zoonoses”.

Segundo o meio citado, no final de janeiro, as autoridades de saúde intensificaram a supervisão na região fronteiriça de Chiapas, pois os números oficiais indicaram que no ano passado os casos de dengue aumentaram 34% e os de malária 84%.

Nos primeiros dois meses do ano, foram registrados 600 casos de malária em migrantes, destacou Omar Gómez Cruz, secretário de Saúde estadual.

"Há um risco de que essas doenças se espalhem", comentou Gómez Cruz em meios de comunicação locais, destacando que conseguiram controlar a situação e fornecer tratamento a todas as pessoas afetadas, que vinham de países como Venezuela, América Central e Panamá.

Por outro lado, María Amalia Toriello Elorza, secretária para o Desenvolvimento da Fronteira Sul, afirmou que entre os migrantes foram identificados médicos que poderiam contribuir significativamente para o sistema de saúde pública de Chiapas, o que representaria uma excelente oportunidade para os cubanos retidos no país.

Toriello assegurou que estão trabalhando nos requisitos legais necessários para que esses profissionais possam exercer formalmente no estado.

Ao designá-los para áreas onde seus conhecimentos possam ser mais úteis, não apenas a população local se beneficiará, mas também lhes será permitido exercer sua profissão de maneira digna e regulada, enfatizou.

Segundo AP, a partir de janeiro de 2025, o salário mínimo diário aumentou em 12%, situando-se em 279 pesos, cerca de 13,75 dólares por dia.

A administração anterior aumentou o salário mínimo em porcentagens um pouco maiores do que os governos anteriores, mas ainda assim continua sendo notavelmente baixo, especialmente se comparado aos 7,25 dólares por hora que é o salário mínimo federal dos Estados Unidos, destacou a agência de notícias.

Além disso, destacou que o salário de 2024, de 249 pesos diários, equivalia a 14,25 dólares quando foi anunciado em dezembro de 2023, mas no último ano o peso perdeu cerca de 18% de seu valor em relação ao dólar americano, o que significa que o aumento representa, na verdade, uma leve redução em dólares constantes.

Nos primeiros meses de 2025, a crise migratória levou muitos cubanos no México a reconsiderar seu destino. Embora tradicionalmente o país tenha sido um ponto de trânsito rumo aos Estados Unidos, as novas políticas migratórias do governo de Donald Trump complicaram a travessia da fronteira, fazendo com que muitos optassem por se estabelecer em território mexicano.

Ante essas restrições, as oficinas de asilo no sul do México têm enfrentado um transbordamento de solicitações, especialmente em Tapachula, onde milhares de migrantes, incluindo cubanos, têm sobrecarregado os trâmites de refúgio. Esse cenário tem gerado incerteza para famílias como a de Daelmis Nodarse, uma mãe cubana presa no México com suas três filhas, após o cancelamento de sua consulta com o CBP One.

Apesar desses desafios, alguns cubanos encontraram oportunidades no México e destacam as vantagens de viver no país. O youtuber Michel Crónicas compartilhou sua experiência, ressaltando as liberdades e facilidades que o México oferece em comparação com Cuba, o que levou um número crescente de migrantes a considerar a nação asteca como um destino viável em vez de um mero trânsito.

Segundo relatos, cada vez mais migrantes estão decidindo se estabelecer no México, adaptando-se à cultura local e buscando alternativas para seu futuro. A mudança de percepção sobre o México como destino final pode marcar uma nova etapa na migração cubana, em meio a um contexto global de endurecimento das políticas migratórias.

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Equipe Editorial da CiberCuba

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