Governo retira lâmpada instalada para a visita de Díaz-Canel em Baire e os vizinhos explodem

A luminária foi colocada apenas para o ato do 130º aniversário do Grito de Baire e, uma vez terminado, a levaram embora, deixando a área às escuras


Vizinhos de Baire (Contramaestre, Santiago de Cuba) denunciou nas redes sociais que funcionários estaduais colocaram uma lâmpada em um poste na rua 15 dessa localidade para iluminar um ato que contou com a presença de Miguel Díaz-Canel e, após tirarem as fotos correspondentes, os mesmos operários retiraram a luminária e deixarão o bairro às escuras.

Ao ver uma escada apoiada na luminária, várias vizinhas começaram a gravar o que estava acontecendo e a protestar porque os deixaram novamente no escuro. Consideram "uma falta de respeito" que levem uma lâmpada para que Díaz-Canel veja que a rua está iluminada e, ao término do ato, a retirem.

Todo aponta que não é a primeira vez que a lâmpada é instalada e retirada após um ato político. Segundo explicou um responsável pela instalação, que afirmou ter relação com o Exército, isso ocorre sempre que há uma atividade do Partido Comunista porque não há luminárias no país e, portanto, a lâmpada de Baire não poderá ser acesa novamente até que novas luminárias entrem, supõe-se que do exterior, e isso, nas atuais circunstâncias de Cuba, é um fato bastante improvável.

"Uma tremenda falta de respeito! Aqui na rua 15, colocaram uma lâmpada na véspera do dia 24 de fevereiro e agora, após esses dias, estão tirando-a de novo! Isso já é demais!" escreveu uma usuária do Revolico Baire no Facebook, compartilhando o vídeo da reclamação das vizinhas ao operário da empresa elétrica.

O responsável pela brigada encarregada de deixar sem luz a rua 15 de Baire esclareceu que não iriam levar a lâmpada, mas sim "o que está dentro", ou seja, a luminária.

"Mas como é que nós vamos nos iluminar se tirarem essa lâmpada?" Segundo esclareceu o chefe de operações, eles mesmos determinaram que a lâmpada que estava anteriormente nesse canto tinha o transformador danificado.

A resposta oficial é que no país não têm luminárias. "As luminárias estão sendo utilizadas quando se vai realizar um evento. Foi explicado aos delegados que temos várias propostas e não há lâmpadas para reposição. Esta lâmpada vamos colocar agora em Los Negros e assim por diante. Infelizmente, estamos nessa situação. Temos que recolhê-la e colocá-la novamente em outro evento", destacou em tom conciliador.

"Sei que vocês não têm culpa, mas isso não está certo, meu amor. Quer dizer, só a colocaram para o ato e agora continuamos na total escuridão. Veja quantas crianças há neste bairro e temos que ficar no escuro. Tudo foi para que o Díaz-Canel visse que estávamos iluminados aqui. Agora o presidente vai embora e total escuridão", reclamou uma vizinha.

A lâmpada foi instalada na véspera da celebração no município do ato nacional pelos 130 anos do Grito de Baire, um acontecimento que marcou o reinício das guerras pela independência da Ilha, em 24 de fevereiro de 1895. A efeméride, comemorada pelo Partido Comunista de Cuba, contou com a presença de Díaz-Canel e Roberto Morales Ojeda, responsável pela Organização do PCC. Ambos desfilaram por toda a cidade, portando bandeiras cubanas. Naquele momento, não se sabia que, após esse ato, retirariam a lâmpada dos moradores.

"Com esta homenagem, o povo cubano evoca um dos capítulos mais gloriosos e transcendentes de sua história", escreveu o site oficialista Cubadebate, em tom propagandístico. Os vizinhos veem de outra forma: vieram, tiraram a foto, foram embora e levaram a lâmpada.

Embora em Cuba não haja dinheiro para comprar luminárias para os bairros, o regime não economiza em gastos para levar sua propaganda política a municípios remotos do país. Quatro dias após sua visita a Baire, Díaz-Canel percorreu Niquero com um forte despliegue de segurança, contrastando com a austeridade que seu governo prega. Em meio à crise econômica, a caravana do sucessor de Raúl Castro foi composta por sete veículos e um amplo dispositivo de segurança. Trata-se de uma tentativa de reforçar a liderança política de um mandatário em baixa.

Nessas mesmas datas, Díaz-Canel visitou o município de Calixto García, em Holguín, e as autoridades desse território tentaram impressionar o mandatário enchendo uma vaqueria “esquecida” pelo Estado, onde o sistema de ordenha mecânica não funciona há quatro anos; colocando quatro carros funerários em uma funerária; limpando o hospital; colocando um grupo de idosos em um ônibus para aparentar que eram de um círculo de avós... Fontes locais asseguraram à CiberCuba que o município ficou irreconhecível para a visita de Canel e depois voltou ao seu estado de abandono habitual.

Somente em Songo la Maya, um morador se atreveu a contar a Díaz-Canel o que acontece na véspera de sua visita. Isso ocorreu no dia 22 de março, quando um homem interrompeu o discurso que o governante cubano estava fazendo para perguntar se ele estava ciente das medidas populistas que são tomadas antes de sua chegada a localidades do país.

“Você sabia que, graças a sua presença hoje, pintaram La Maya há uma semana?”, disse-lhe no meio da multidão.

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Tania Costa

(Havana, 1973) vive na Espanha. Ela dirigiu o jornal espanhol El Faro de Melilla e FaroTV Melilla. Foi chefe da edição de Murcia do 20 minutos e assessora de Comunicação da Vice-Presidência do Governo de Múrcia (Espanha).