Régimen cubano volta a ameaçar libertados em horário nobre na televisão

Em um segundo programa em menos de um mês, o apresentador Humberto López insistiu que as solturas são benefícios que possuem "requisitos muito claros e de cumprimento obrigatório", que podem ser revogados e o indivíduo pode ser reintegrado "ao estabelecimento prisional".


A Televisão Cubana utilizou o horário nobre para lançar uma ameaça pública aos presos políticos liberados nas últimas semanas, deixando claro que qualquer ação considerada como um descumprimento das condições impostas poderia levá-los de volta à prisão.

Em uma reportagem apresentada por Humberto López no programa oficialista Razones de Cuba, foi reafirmado que essas liberações não constituem uma anistia e que os libertados continuam sob estrita supervisão do regime.

"Os processos de libertação antecipada anunciados no dia 14 de janeiro passado constituem atos legítimos de um Estado soberano regulados de forma clara e detalhada na legislação em vigor", assegurou López no segmento televisivo.

Ao mesmo tempo, deixou claro que esses benefícios têm "requisitos que também são muito claros e de cumprimento obrigatório", e que o descumprimento destes levará à "revogação do benefício" e ao "reingresso ao estabelecimento penitenciário".

A mensagem do governo também atacou os ativistas e opositores que denunciaram o processo de libertações como um mecanismo de manipulação do regime para melhorar sua imagem internacional.

López acusou os ativistas - que qualificou de "terroristas do espaço digital" - de incitar os liberados a desafiar as condições impostas e provocar sua reincarceração. "Aqueles que ouvirem esses mandatos não poderão ter uma vida normal", advertiu o apresentador, em um tom que muitos interpretam como uma ameaça velada.

A reportagem também mencionou que a Lei de Execução Penal cubana permite revogar a liberdade condicional se o sancionado "quebrar algumas das obrigações estabelecidas ou for sancionado por um novo delito".

No caso da licença extrapenal, a reintegração à prisão seria justificada se o beneficiado "não observar uma boa conduta". A reportagem reafirmou que o processo de solturas tem sido realizado como um ato de "vontade política humanista" perante o Vaticano, no âmbito de um "Estado socialista de direito e de justiça social".

Esta intervenção na televisão nacional ocorre em um momento de crescente tensão, após o regime cubano ter interrompido repentinamente o processo de libertação de prisioneiros políticos, que se desenrolou nas primeiras semanas de liberdades, uma decisão que foi denunciada por organizações internacionais e da sociedade civil cubana.

A campanha de ameaças públicas contra os liberados reforça os argumentos dessas denúncias e coloca em dúvida a autenticidade das liberações, que em muitos casos foram acompanhadas de pressão e vigilância estatal.

Segunda emissão da mensagem em menos de um mês: Há medo no Palácio?

Esta é a segunda vez em menos de um mês que Humberto López transmite uma mensagem semelhante na televisão cubana, reforçando a posição do regime de que as excarcelacões não significam liberdade total para os presos políticos liberados.

Na sua primeira emissão, o apresentador também se dirigiu aos libertados e a seus familiares com advertências sobre o risco de reincarceramento em caso de descumprimento das condições impostas pelo governo.

O endurecimento do discurso do regime ocorre em um contexto de crescente pressão internacional. Os Estados Unidos denunciaram a perseguição contra líderes opositores como José Daniel Ferrer e insistiram que as libertações são insuficientes se não houver uma verdadeira abertura democrática em Cuba.

A embaixada dos Estados Unidos em Havana reiterou recentemente seu apelo pela libertação incondicional de todos os presos políticos.

As excarcelações anunciadas em 14 de janeiro foram enquadradas pelo regime como um ato de "vontade política", mas organismos de direitos humanos denuncíaram que se trata de uma estratégia para aliviar a pressão internacional sem realmente modificar a estrutura repressiva do governo.

O acima ficou patente após o retorno de Cuba à lista de países patrocinadores do terrorismo pela administração Trump, que reverteu a decisão da administração anterior, provocando a reação de Havana e a paralisação imediata do processo de excarcelamentos negociado com Joe Biden.

Dos 553 prisioneiros que o regime totalitário cubano prometeu liberar, apenas uma fração foi solta até o momento, e o processo foi interrompido sem explicações oficiais.

Em um dos seus últimos relatórios sobre o assunto, a organização não governamental Justiça 11J contabilizava um total de 145 presos políticos libertados, dos mais de 1.000 que denunciam organizações como Prisoners Defenders, Cubalex e o Observatório Cubano de Direitos Humanos (OCDH).

Paralelamente, meios independentes e ativistas alertaram sobre a vigilância e o assédio que enfrentam os liberados, que, segundo depoimentos, foram chamados para interrogatórios e advertidos sobre seu comportamento público. A iniciativa #TODOS, uma plataforma de jornalismo de dados, documentou esses casos e acompanha de perto a situação dos prisioneiros políticos liberados.

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Iván León

Licenciado em jornalismo. Mestrado em Diplomacia e Relações Internacionais pela Escola Diplomática de Madri. Mestrado em Relações Internacionais e Integração Europeia pela UAB.