Régimen exonera Brenda Díaz, única mulher trans encarcerada por motivos políticos em Cuba

Após participar das protestas do 11J em Cuba, Brenda foi condenada a 14 anos de privação de liberdade e enviada a uma prisão masculina, onde sofreu abusos, agressões e celas de castigo, mas manteve-se firme denunciando os abusos do regime e de seus carcereiros.

Brenda Díaz (imagem de arquivo)Foto © Facebook /Ana Mary García

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No contexto das recentes libertações de prisioneiros políticos em Cuba, Brenda Díaz, reconhecida como a única pessoa trans identificada como prisioneira política no país, foi libertada neste sábado após passar mais de dois anos na prisão.

A ativista Marta María Ramírez confirmou a notícia por meio de um post em redes sociais, destacando que as condições de sua libertação ainda não estão claras e evitando mencionar o nome de nascimento de Brenda, conhecido como "deadname", por respeito à sua identidade.

Captura de tela Facebook / Marta María Ramírez

"Excarcelada Brenda Díaz, a única pessoa trans identificada como presa política, após as manifestações pacíficas do 11J em Cuba. Não sei as condições de sua excarcelamento nem compartilho o post original por ter seu nome de nascimento. As prisões cubanas estão cheias de mulheres trans, por Estado Peligroso, um tipo de prisão política", disse Ramírez no Facebook.

Um caso que representa a vulnerabilidade das mulheres trans em Cuba

Brenda foi presa e condenada a 14 anos de privação de liberdade em julho de 2021 após participar nas protestos pacíficos do 11J, onde milhares de cubanos foram às ruas exigir liberdade e melhorias nas condições de vida.

Desde a sua detenção, seu caso tem sido marcado por denúncias de abuso, discriminação e negligência por parte das autoridades penitenciárias.

Acusada de desordens públicos e desacato, Brenda enfrentou condições extremas durante seu tempo na prisão, incluindo agressões e confinamento em celas de castigo, segundo relatos coletados por organizações de direitos humanos e pela imprensa independente.

Reações internacionais e nacionais

A excarcerização de Brenda ocorre após uma intensa campanha de pressão internacional. Organizações como o Departamento de Estado dos Estados Unidos e a Human Rights Watch condenaram repetidamente sua prisão, apontando-o como um caso de represália política e discriminação por sua identidade de gênero.

Em agosto de 2022, foi negado um recurso de cassação que poderia ter revisado sua sentença, o que gerou indignação entre ativistas e figuras públicas.

Um contexto de excarcerlações mais amplas

A de Brenda se junta às recentes libertações de outros prisioneiros políticos em Cuba. Este gesto, que o regime cubano desvincula da decisão de Joe Biden de retirar Cuba da lista de países patrocinadores do terrorismo, foi anunciado como resultado de conversas entre Havana e o Vaticano.

Entre os liberados também se encontra José Daniel Ferrer, líder da União Patriótica de Cuba, detido durante as manifestações pacíficas do 11J.

Embora essas "liberações" tenham sido celebradas por alguns setores, críticos alertam que elas não representam uma solução estrutural para as violações de direitos humanos na ilha.

A luta de Brenda na prisão

Durante seu encarceramento, Brenda Díaz denunciou múltiplas agressões e a falta de reconhecimento de sua identidade de gênero dentro do sistema penitenciário cubano. Foi recluída em uma prisão masculina, onde foi exposta a constantes atos de violência física e psicológica.

Em janeiro de 2024, foi relatado que Brenda havia sido enviada a uma cela de punição após tentar defender seus direitos. Essa medida provocou uma nova onda de condenações por parte de organizações que exigem respeito aos direitos humanos em Cuba.

Além disso, em uma carta enviada da prisão em abril de 2023, Brenda afirmou: “não vou me render”, demonstrando sua determinação apesar das adversidades. Esta mensagem ressoou na comunidade LGBTQ+ e entre os exilados cubanos, que intensificaram as ações de visibilidade de seu caso.

A situação de Brenda também expôs as inconsistências no discurso oficial do governo em relação à diversidade e aos direitos LGBTQ+.

Mariela Castro, diretora do CENESEX e filha do ditador Raúl Castro, afirmou em maio de 2023 que Brenda estava “muito bem atendida” na prisão masculina, declarações que foram publicamente desmentidas pela mãe de Brenda e ativistas que denunciaram as precárias condições em que se encontrava.

A falta de implementação efetiva de as reformas prometidas pelo CENESEX, como o reconhecimento da identidade de gênero nos regulamentos penitenciários, tem sido apontada como um exemplo do descumprimento por parte das autoridades. Embora essas medidas tenham sido anunciadas em 2023, até a presente data não foram materializadas mudanças significativas.

A libertação de Brenda Díaz não representa uma solução estrutural para os problemas enfrentados pelas pessoas trans e pelos presos políticos em Cuba. As denúncias de abusos e a repressão do regime continuam, e a situação nas prisões cubanas permanece crítica.

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