A Assembleia Nacional abordará os problemas apresentados durante o fantasmagórico processo de "prestação de contas"

Muitos cidadãos denunciam que o "processo" se revelou o mesmo simulacro de sempre, marcado mais uma vez pela presença policial, a baixa participação e uma crise energética que comprometeu as assembleias municipais.

Asamblea Nacional, votación unánime, 20 de julio 2024 © X / @PresidenciaCuba
Assembleia Nacional, votação unânime, 20 de julho de 2024Foto © X / @PresidenciaCuba

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O Quarto Período Ordinário de Sessões do Parlamento cubano, correspondente à X Legislatura, será realizado de 18 a 20 de dezembro, conforme anunciou o Secretário da Assembleia Nacional do Poder Popular (ANPP) e do Conselho de Estado, Homero Acosta Álvarez, durante sua recente participação no programa televisivo Mesa Redonda.

O evento ocorrerá em um contexto de profunda crise econômica, caracterizada pela inflação, apagões diários, massivos e prolongados, e um crescente descontentamento social. Segundo Acosta Álvarez, na reunião serão discutidos temas de impacto para a nação e serão levadas em conta as preocupações e críticas levantadas pela população durante as reuniões realizadas a nível municipal para a "prestação de contas do delegado aos seus eleitores".

“Será apresentada uma agenda centrada nos principais problemas que afetam a população e nas ações que estão sendo realizadas pelo órgão legislativo para contribuir com a sua solução”, comentou o dirigente.

Além disso, Acosta Álvarez afirmou que o Parlamento analisará temas relacionados à economia, ao orçamento estatal para 2025, à luta contra a corrupção e ao acompanhamento de acordos anteriores. Também serão discutidos assuntos como a atualização do Código do Trabalho, o incentivo à investida estrangeira e a implementação do processo de bancarização das operações financeiras.

Processo de prestação de contas em tempos de crise

De acordo com o meio oficialista Cubadebate, o secretário da ANPP afirmou que, após dois anos sem prestar contas, em todo o país os delegados prestaram contas aos seus eleitores, “com resultados satisfatórios” nos meses de outubro e novembro.

No entanto, são muitos os cidadãos que denunciaram que o processo se revelou o mesmo simulacro de sempre, novamente marcado pela presença policial, pela baixa participação, pelas consignes e por uma “contingência energética” que comprometeu a inexiste capacidade de prestação de contas.

No espaço televisivo, Acosta Álvarez mencionou que o processo se desenvolveu "em meio a uma conjuntura econômica complexa, marcada além do recrudescimento do bloqueio, pelas tensões dos últimos meses, nas quais surgiram dificuldades com o Sistema Elétrico Nacional e impactos devido a fenômenos naturais".

No entanto, relatórios independentes indicaram múltiplos cancelamentos de reuniões e limitações operacionais. Em 2023, as sessões foram suspensas devido à falta de combustível e problemas organizacionais.

Em setembro de 2024, o processo foi retomado em meio a protestos e uma crise energética persistente. As assembleias municipais enfrentaram constantes interrupções devido a problemas técnicos e logísticos, e algumas chegaram a ser realizadas em meio a apagões, problemas de abastecimento de água e coleta de lixo, além de atrasos na distribuição de alimentos.

A Marcha do Povo Combatente ao final das sessões

O anúncio do novo período legislativo ocorre em meio a uma situação socioeconômica crítica. A economia cubana enfrenta severas contrações devido à diminuição das exportações, à queda do turismo e à redução das remessas.

A isso se soma a instabilidade energética que tem causado apagões prolongados, afetando o cotidiano de milhões de cubanos. No entanto, para Acosta Álvarez, o processo fantasmagórico de prestação de contas resultou em um “exercício de democracia que reafirmou a confiança dos cubanos em seu sistema político e no legislativo”.

O país enfrenta uma inflação desenfreada, com escassez de alimentos, preços nas alturas e salários fixados em um período de "ordenamento econômico e monetário" reconhecido como um fracasso. O país está à beira do colapso: uma catástrofe humanitária ocorre em uma pitoresca ilha tropical, sem serviços públicos, e com cidadãos sobrevivendo sem direitos nem liberdades, mas "confiantes em seu sistema político".

Um regime que constrói semelhante "legitimidade", onde os "exercícios de democracia" conduzem a ratificações unânimes de sua "ordem revolucionária", não pode deixar de selar as sessões da ANPP com uma Marcha do Povo Combatente, convocada por Miguel Díaz-Canel para denunciar, em frente à embaixada dos Estados Unidos, a política hostil e o embargo que ele responsabiliza pela situação do país.

Parlamento sem verdadeira representação cidadã

Desde sua criação, a Assembleia Nacional tem sido um instrumento do Partido Comunista de Cuba (PCC) para consolidar o controle estatal. Não há eleições livres nem multipartidarismo, e todos os deputados são selecionados pelo próprio regime.

A suposta “prestação de contas” é vista como um exercício simbólico, sem impacto real na formulação de políticas públicas. O caráter unipartidário e autoritário do regime cubano limita qualquer possibilidade de debate plural.

A Assembleia Nacional, totalmente controlada pelo PCC, atua como um mecanismo de validação de políticas governamentais previamente decididas, sem espaço para a representação genuína da sociedade civil.

O próprio Díaz-Canel defendeu em julho de 2024 o papel do Parlamento, assegurando que a votação unânime é o resultado "de longas e intensas jornadas de trabalho, de debate e de busca de consenso em função do interesse coletivo", uma afirmação contestada por analistas e cidadãos que enfrentam precariedade e limitações de direitos.

As sessões de dezembro ocorrerão sob a vigilância de um aparelho estatal que controla cada aspecto da vida política e social em Cuba. O Parlamento cubano continuará a ser um cenário de validação governamental, distante dos problemas reais enfrentados pela população.

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