O presidente eleito Donald Trump surpreendeu a comunidade de defesa e política dos Estados Unidos ao anunciar a nomeação de Pete Hegseth, uma figura amplamente conhecida por seu papel como apresentador na Fox News, para o cargo de secretário de Defesa.
A escolha de Hegseth, veterano militar sem experiência anterior em cargos de alto nível no Pentágono, coloca uma personalidade da mídia em uma posição chave no gabinete para o segundo mandato do presidente republicano.
A nomeação gerou opiniões divergentes e amplas reações, especialmente devido à falta de experiência de Hegseth na área da política de defesa em nível global.
“Pete é duro, inteligente e um verdadeiro crente no princípio de 'Estados Unidos em primeiro lugar'. Com Pete no comando, os inimigos dos Estados Unidos ficam avisados: nossas forças armadas voltarão a ser grandiosas e os Estados Unidos nunca se renderão”, afirmou Trump em um comunicado no qual destacou a personalidade e a lealdade de Hegseth.
Trajetória Militar e Carreira na Mídia
Hegseth é um ex-militar que serviu no Afeganistão e no Iraque e manteve uma relação próxima com Trump ao longo de vários anos, atuando como conselheiro informal do presidente em questões de defesa.
Embora no primeiro mandato do republicano tenha sido considerado para alguns cargos, não foi selecionado para nenhum deles.
Sua experiência em combate foi mencionada por alguns como uma vantagem, embora outros tenham destacado sua preparação limitada na formulação e implementação de políticas de defesa.
Desde 2014, Hegseth tem sido colaborador da Fox News e, em 2017, tornou-se coanfitrião do programa “Fox & Friends Weekend”.
A Fox News emitiu um comunicado no qual expressou sua gratidão ao agora ex-colaborador, afirmando: “Suas ideias e análises, especialmente sobre o exército, ressoaram profundamente com nossos telespectadores e transformaram o programa no grande sucesso que é hoje.”
A rede afirmou que estava “extremamente orgulhosa de seu trabalho na Fox News Media e desejava a melhor das sortes em Washington”.
Hegseth também possui credenciais acadêmicas notáveis, tendo estudado em Princeton e Harvard.
Além disso, foi CEO da Concerned Veterans for America, uma organização de defesa dos direitos dos veteranos.
Em 2017, publicou um livro intitulado In the Arena, no qual expôs seus pontos de vista sobre política e defesa.
Reações do Pentágono e da Comunidade de Defesa
A nomeação de Hegseth surpreendeu muitos dentro do Pentágono, onde seu nome não havia sido mencionado entre os possíveis candidatos.
Um alto funcionário da defesa comentou à CNN: "Todos estão simplesmente surpresos."
Outro funcionário afirmou que apenas horas antes do anúncio soube da possibilidade de Hegseth ser nomeado, e muitos deles não sabiam como reagir.
A relação de Trump com a liderança do Pentágono durante seu primeiro mandato foi tensa, e a escolha de Hegseth é vista como uma tentativa de ter um líder no Departamento de Defesa que compartilhe sua visão e lealdade incondicional.
Trump manteve disputas notórias com seus dois secretários de Defesa anteriores.
O general James Mattis renunciou em 2018 em protesto contra a decisão de Trump de retirar as tropas americanas da Síria sem uma estratégia clara. Por sua vez, Mark Esper, o segundo secretário de Defesa confirmado por Trump, foi demitido em 2020 e, desde então, tem expressado publicamente suas preocupações sobre a liderança do presidente eleito em questões de segurança nacional.
Alguns republicanos no Congresso demonstraram reservas em relação à nomeação de Hegseth.
O senador Thom Tillis, da Carolina do Norte, classificou a eleição como "interessante", enquanto o senador Todd Young, de Indiana, ex-membro do Corpo de Fuzileiros Navais, destacou que não sabia muito sobre a visão de Hegseth, mas estava aberto a conhecer mais sobre seu histórico.
O senador John Hoeven, de Dakota do Norte, foi um dos poucos que apoiou abertamente a nomeação, afirmando que Hegseth é “extremamente capaz e um excelente comunicador”.
O presidente da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, também demonstrou seu apoio ao candidato, afirmando que Hegseth traria "uma mentalidade reformista nas áreas que necessitam".
Controvérsias e Posturas Conservadoras
Ao longo de sua carreira na mídia, Hegseth tem se destacado por seu apoio a políticas conservadoras e por sua postura contrária ao que ele e Trump consideram "ideias progressistas" no âmbito militar.
Tem sido crítico dos programas de equidade e inclusão nas forças armadas e questionou o papel das mulheres em combate, sustentando que a diversidade em termos de gênero poderia complicar situações de combate e levar a um aumento no número de baixas.
No podcast “The Shawn Ryan Show”, Hegseth comentou que “a complexidade no combate significa que as baixas são piores”, e acrescentou que a diversidade no exército é uma força apenas na medida em que “os homens pertencentes a minorias e os brancos podem se desempenhar de maneira similar”, algo que, segundo ele, não ocorre no caso das mulheres.
Além disso, Hegseth tem defendido publicamente o perdão para militares acusados de crimes de guerra.
Em 2019, incentivou Trump a conceder perdão a militares acusados de atos questionáveis no campo de batalha, uma decisão que Trump implementou, restaurando inclusive o posto do SEAL da Marinha Eddie Gallagher.
Essa medida foi altamente controversa e recebeu críticas de líderes do Pentágono e altos funcionários, que apontaram que o perdão presidencial poderia comprometer a integridade do sistema judicial militar.
Se o seu nomeamento for confirmado pelo Senado, Hegseth enfrentará numerosos desafios. O Departamento de Defesa opera com um orçamento superior a 800 bilhões de dólares e conta com aproximadamente 1,3 milhões de soldados em serviço ativo, além da Guarda Nacional, das reservas e do pessoal civil em todo o mundo.
Sua responsabilidade incluirá gerenciar conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia, a crescente aliança entre a Rússia e a Coreia do Norte, e a competição cada vez mais intensa com a China.
Além disso, a modernização do aparelho de defesa antimísseis e nuclear dos Estados Unidos será uma prioridade na agenda de defesa.
O representante Adam Smith, democrata de maior destaque no Comitê de Serviços Armados da Câmara dos Representantes, expressou suas preocupações a respeito: “Há motivos para se preocupar que esta não seja uma pessoa séria o suficiente na formulação de políticas, nem na implementação de políticas, para realizar um trabalho bem-sucedido”.
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