Apagão geral em Cuba: 10 formas antigas de conservar comida sem eletricidade

A maioria dessas técnicas os cubanos também não poderão usá-las porque não têm os produtos necessários para conservar alimentos. Os taínos tinham mais comida para sobreviver do que o cubano de hoje.

Apagón en Cuba © Captura de video de YouTube
Apagão em CubaFoto © Captura de vídeo do YouTube

Nos três dias de apagão geral em Cuba, um dos problemas que mais afeta os cubanos é a perda de alimentos, devido ao calor que há no país e à falta de refrigeração para os produtos, especialmente carnes e laticínios.

Um dos comentários recorrentes nas redes sociais é que se vive em Cuba como nos tempos dos taínos, mas o certo é que o cubano atual está menos preparado para sobreviver sem eletricidade do que na época da colônia, quando se usavam diversas técnicas para a conservação de alimentos sem refrigeração.

A eletricidade chegou a Cuba no século XIX, mas até meia do século XX nos campos usavam-se muitas dessas técnicas para conservar os alimentos a fim de evitar sua decomposição.

Estas são algumas das mais usadas no mundo, embora provavelmente se você estiver em Cuba não conseguirá usá-las para salvar sua comida nesses dias de apagão geral, porque você precisa de sal, vinagre e banha, três coisas difíceis de conseguir no país.

1. Salazón

A salmoura é uma técnica milenar que consiste em cobrir os alimentos, especialmente carnes e peixes, com sal. O sal desidrata os alimentos ao extrair a água, inibindo o crescimento de bactérias e fungos que precisam de umidade para proliferar.

Usos: Era comumente utilizado com carnes (porco, cordeiro) e peixes (bacalhau, sardinha).

Exemplos históricos: O "bacalhau salgado" é um clássico, muito utilizado na Europa e na América Latina.

2. Ahumado

O defumado implica expor os alimentos à fumaça de madeira durante um período prolongado, o que não apenas lhes confere sabor, mas também desidrata e esteriliza a superfície, criando uma barreira protetora contra bactérias.

Usos: Era utilizado com carnes, peixes e embutidos. Alimentos como presuntos, salsichas e peixes eram pendurados em defumadores ou em chaminés.

Exemplos históricos: O presunto serrano na Espanha e o salmão defumado em culturas nórdicas.

3. Secagem ou Desidratação

Esta técnica aproveitava a exposição ao sol e ao vento para eliminar a água dos alimentos. Ao se desidratar, os alimentos podiam durar muito tempo sem se decompor.

Usos: Carne (cecina ou charqui na América Latina), frutas (figos, uvas que se convertiam em passas) e vegetais.

Exemplos históricos: Em regiões secas como o Oriente Médio e o Mediterrâneo, a secagem ao sol foi uma técnica crucial para conservar alimentos como frutas e peixes.

4. Conservação em Gordura (Confitado)

Nesta técnica, a carne era cozida lentamente em gordura (como banha de porco ou óleo) a baixa temperatura. Era armazenada submersa nessa gordura, o que criava um ambiente livre de oxigênio e, portanto, evitava a proliferação de bactérias.

Usos: Comum com carnes como o pato ou o porco, na culinária francesa e em outras culturas rurais europeias.

Exemplos históricos: O "confit de pato" na França ou a "matança" na cultura rural espanhola, onde se conservava carne de porco em banha, como nos campos de Cuba.

5. Encurtidos e Conservação em Vinagre

Os alimentos eram mergulhados em uma solução ácida, como o vinagre, o que impedia o crescimento de bactérias. Este método era amplamente utilizado para conservar vegetais e também carnes.

Usos: Verduras (pepinos, cebolas, cenouras) e alguns tipos de carnes.

Exemplos históricos: A conserva era muito popular na culinária mediterrânea, onde se conservava carne e peixe em vinagre, junto com especiarias.

6. Fermentação

A fermentação controlada é um processo em que as bactérias ou leveduras decompõem os açúcares dos alimentos, produzindo ácidos, gases ou álcoois que conservam o alimento. Isso não apenas aumenta a duração dos alimentos, mas muitas vezes melhora seu sabor.

Usos: Era utilizado para conservas de vegetais (como chucrute ou repolho fermentado), produtos lácteos (iogurte, queijo) e carnes (salames e chouriços fermentados).

Exemplos históricos: A fermentação de repolho em chucrute na Alemanha ou kimchi na Coreia são clássicos.

7. Conservação em Mel

O mel, graças à sua alta concentração de açúcares e propriedades antibacterianas, era usado como meio para conservar alimentos. Ao submergir carnes, frutas ou ervas em mel, preservavam-se por meses ou até mesmo anos.

Usos: Era comum conservar frutas como figos ou marmelos, e também algumas carnes.

Exemplos históricos: Foram encontrados restos de mel com alimentos dentro de tumbas egípcias, conservados por mais de 3.000 anos.

8. Enterramento em Poços Frios

Em regiões frias, os alimentos eram enterrados em poços profundos onde a temperatura do solo se mantinha baixa. Essa técnica utilizava a frescura natural da terra para evitar a decomposição.

Usos: Enterravam alimentos como raízes, tubérculos e também algumas carnes, para preservá-los durante meses.

Exemplos históricos: Na Rússia e na Escandinávia, usava-se esta técnica para conservar carne durante os longos invernos.

9. Salmoura

Se mergulhavam alimentos em uma mistura de água e sal (salmoura). Isso criava um ambiente que impedia o crescimento de bactérias. Essa técnica era particularmente útil para conservar carne e peixe.

Usos: Conservação de carnes, peixes e alguns vegetais.

Exemplos históricos: O arenque em salmoura nas culturas do norte da Europa.

10. Conservação em Álcool

Mergulhar alimentos em álcool como conhaque, vinho ou aguardente evitava que se estragassem. O álcool é um agente antibacteriano natural e ajudava a preservar frutas ou carnes.

Usos: Era usado para conservar frutas como cerejas e pêssegos, e às vezes carne.

Exemplos históricos: Frutas em licor, uma tradição comum em várias regiões da Europa.

Essas técnicas eram fundamentais para a sobrevivência, especialmente em épocas anteriores à refrigeração, e muitas delas continuam a ser utilizadas hoje em dia, tanto por tradição quanto pelos sabores únicos que oferecem.

Em Cuba, essas técnicas deixaram de ser usadas há décadas. Atualmente, não fazem parte da cultura culinária, desapareceram da sabedoria popular, poucas pessoas as aplicam em suas casas e aqueles que as conhecem, muitas vezes não possuem os recursos para colocá-las em prática.

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Gretchen Sánchez

Redatora de Conteúdo da CiberCuba. Doutora em Ciências pela Universidade de Alicante e Licenciada em Estudos Socioculturais.


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