"De milagre não matou alguém": Varanda cai sobre um carro em Havana



O desprendimento parcial de um balcão em La Habana Vieja causou danos materiais a um veículo e gerou grande alarme entre os transeuntes.

Desabamento parcial de balcão em HavanaFoto © Facebook / Cubanet

Os desabamentos em edifícios antigos de La Havana Velha continuam colocando em risco a vida dos moradores diante da negligência estatal e do deterioro estrutural. Uma sacada do edifício Macera, localizado na rua Tenente Rey 118, entre Cuba e San Ignacio, na Havana Velha, despencou parcialmente nesta terça-feira, caindo sobre um veículo estacionado em frente a vários caixas eletrônicos. O incidente, ocorrido em uma das áreas mais movimentadas do centro histórico, não deixou feridos, embora tenha causado grande alvoroço entre os pedestres.

De acordo com um relatório de CubaNet, o edifício —construído em 1931 e sob a administração das instituições responsáveis pelo chamado “Plano mestre para a restauração do centro histórico de Havana”— apresentava sinais visíveis de deterioração. Segundo um colaborador desse meio, que registrou em vídeo o momento do colapso, os vizinhos tentaram reparar, por conta própria, as partes mais danificadas, mas as autoridades impediram essas obras, aplicando multas entre 10.000 e 20.000 pesos, alegando que, por se tratar de imóveis patrimoniais, não podem intervir sem autorização oficial.

"De milagre não matou um"

No vídeo divulgado nas redes sociais, ouve-se um testemunha exclamar: “Esse balcão acabou de cair, olha, caiu em cima do carro. Por milagre isso não matou ninguém”. O homem avisa o motorista do veículo danificado: “Quem vai te pagar isso agora? Você tem seguro pago e tudo mais?”. Ao que o condutor responde: “Sim, claro, o carro é novo”.

A varanda ficava justo acima de um caixa eletrônico frequentado diariamente por dezenas de pessoas. Segundo denunciaram os moradores, os deslizamentos anteriores na mesma fachada haviam causado ferimentos a pedestres e danos a veículos estacionados. “Essas varandas, em várias ocasiões, desabaram e fracturaram a cabeça de pessoas que estavam passando ou esperando na fila dos caixas”, contou o colaborador que gravou o incidente.

Indignação nas redes sociais

A publicação do vídeo provocou centenas de comentários nas redes sociais, muitos deles expressando medo e indignação pelo estado dos edifícios habaneros e pela falta de ação das autoridades. “Está tudo caindo aos pedaços, exceto o que deveria cair”, escreveu um usuário. Outro comentou: “Por milagre ninguém morreu; isso está sempre cheio de gente por causa dos caixas eletrônicos.” As críticas se concentraram na desídia estatal: “Em Havana já não se sabe se deve usar a calçada ou a rua, é um perigo total e se você conserta por conta própria, logo aparecem os inspectores com suas multas.”

Outras mensagens refletiram resignação e sarcasmo: “Isso é pago pelo seguro Canel insurance”, “Em Cuba o único seguro é correr a tempo” ou “O comunismo não cobre esses danos, isso é dano colateral”. Apesar do tom de zombaria de alguns, a maioria concordou que o fato poderia ter terminado em tragédia. “Se você anda pela rua os carros te matam e se anda pelas calçadas os desabamentos te matam”, escreveu outra pessoa.

Na Havana Velha, os desabamentos de varandas, fachadas e edificações são frequentes. Segundo dados oficiais de 2019, mais de 850 edifícios em Cuba estavam em estado crítico, dos quais 696 se encontravam na capital. Os colapsos têm causado dezenas de vítimas nos últimos anos.

Em novembro passado, uma mulher e seu filho morreram esmagados após o desabamento de sua casa na rua Compostela, também em Havana Velha. Dias depois, vizinhos pesquisavam entre os escombros “por necessidade”, reflexo da pobreza e do abandono institucional. Em setembro, outra pessoa perdeu a vida em um desabamento na rua Sol, também em Havana Velha.

Esses fatos se somam a tragédias anteriores, como a do dia 27 de janeiro de 2020, quando o desabamento de uma sacada matou três meninas no bairro Jesus María, tornando-se um símbolo do abandono do fundo habitacional habanero. Os moradores do edifício Macera afirmam que alertaram em diversas ocasiões sobre o risco que representam as sacadas deterioradas naquela área, sem que as autoridades tomem medidas preventivas.

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