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A União Europeia está finalizando uma profunda reforma de sua política migratória que endurece os processos de asilo, acelera as deportações e reforça os centros de detenção, em uma mudança de rumo que lembra o modelo restritivo promovido pelo presidente Donald Trump nos Estados Unidos.
Segundo reportou a agência Associated Press, os ministros europeus reunidos em Bruxelas concordaram em criar uma lista de “países seguros” de origem e trânsito, o que permitirá negar solicitações de asilo e deportar com maior rapidez aqueles que venham de nações consideradas sem risco.
Também foi avaliado o conceito de “terceiro país seguro”, que permite aos Estados-membros enviar migrantes para países fora do bloco, onde possam solicitar asilo.
O ministro dinamarquês Rasmus Stoklund explicou que as novas normas visam "rejeitar aqueles que não têm motivo para solicitar asilo na Europa" e garantir retornos mais ágeis, alegando que "não devem ser os traficantes quem controlam o acesso ao continente".
O pacto inclui também um fundo comum denominado “piscina de solidariedade”, dotado com 430 milhões de euros, para compensar os países mais afetados pela pressão migratória, entre os quais Itália, Grécia, Chipre e Espanha.
No entanto, nações como Hungria e Polônia mantêm sua oposição a financiar a recepção de migrantes ou aceitar cotas obrigatórias.
A Comissão Europeia defende que o novo sistema “devolverá aos cidadãos a sensação de controle” sobre as fronteiras, mas organizações humanitárias e partidos progressistas consideram-no uma renúncia aos valores fundacionais da União.
A advogada da Amnistía Internacional, Olivia Sundberg Diez, comparou diretamente a reforma com as medidas da administração Trump, alertando que “infligirá um dano profundo aos migrantes e às comunidades que os acolhem”.
O texto, que será negociado com os 720 eurodeputados do Parlamento Europeu, conta com amplo apoio de partidos de direita e ultradireita, que celebram o endurecimento da política migratória como uma vitória política.
Entre os elementos mais polêmicos está a criação de “centros de retorno” —uma denominação que oculta sua verdadeira função de centros de deportação—.
Esses espaços poderiam ser localizados fora do território europeu, por meio de acordos com países terceiros dispostos a receber migrantes rejeitados, seguindo uma lógica semelhante aos acordos migratórios que os Estados Unidos firmaram com o México e a Guatemala durante o mandato de Trump.
Especialistas do Migration Policy Institute Europe alertam que esse tipo de medida externaliza as responsabilidades europeias em relação aos direitos humanos e pode reproduzir cenários de abuso. “É uma versão europeia do muro de Trump, mas burocrática e legal”, apontou um dos analistas citados por meios comunitários.
A reforma busca encerrar um ciclo de divisões internas na UE desde a crise migratória de 2015, quando mais de um milhão de refugiados, principalmente sírios e iraquianos, chegaram ao continente.
No entanto, o novo pacto reflete uma mudança política em direção à contenção e ao controle, mais alinhada com as tendências restritivas que marcaram a política americana nos últimos anos.
O giro migratório da União Europeia tem sido interpretado por muitos analistas como uma adoção da abordagem impulsionada por Donald Trump durante seu mandato.
Já em setembro, o ex-presidente defendeu na ONU sua política de menos asilo e mais deportações, e criticou abertamente a Europa por permitir uma “invasão” migratória, ao mesmo tempo em que chamava para terminar com o “experimento fracassado das fronteiras abertas”.
Esse enfoque também se refletiu na ofensiva migratória interna dos Estados Unidos. Ao longo de 2025, as decisões de Trump tiveram consequências diretas sobre o mercado de trabalho, com a cancelamento do parole humanitário e operações em massa que afetaram setores-chave como a agricultura, a construção e o cuidado de pessoas.
O endurecimento das políticas migratórias resultou na escassez de mão de obra e no aumento dos custos para consumidores e empregadores.
Além da questão migratória, Trump tem mantido uma postura de confronto em relação à União Europeia no âmbito econômico, denunciando publicamente o que considera uma relação desigual.
Em diversas declarações, acusou a UE de abusar comercialmente dos Estados Unidos, antecipando a imposição de tarifas como resposta ao déficit bilateral e ao acesso limitado de produtos americanos no mercado europeu.
As tensões aumentaram ainda mais no final de 2024, quando o mandatário advertiu que seriam aplicadas novas tarifas se a UE não aumentasse suas compras de petróleo e gás americanos.
Essas ameaças estão inseridas em uma estratégia protecionista que não apenas pressiona o bloco europeu, mas também condiciona suas relações comerciais a interesses migratórios, energéticos e políticos.
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