Apontam o beco de Havana como ponto de assaltos e venda de drogas



O local fica no município de San Miguel del Padrón.

Foto © Facebook/Nio Reportando um Crime

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Vecinos do bairro San Francisco de Paula, no município habanero San Miguel del Padrón, denunciaram a crítica situação que enfrentam diariamente no conhecido "callejón del Chenal".

Segundo relataram em denúncia enviada ao repórter de ocorrências, Niover Licea, este passeio se transformou em um cenário cotidiano de assaltos violentos, consumo de drogas sintéticas - especialmente o chamado “químico” - e presunta operação de um negócio ilegal vinculado à venda dessas substâncias.

Uma das imagens enviadas mostra uma pessoa caída no chão, completamente fora de si, sob os efeitos do químico.

Este potente estupefaciente—que é consumido na forma de cigarro adulterado—está devastando há meses a juventude cubana e contribuindo para a descomposição social de bairros inteiros.

Além disso, os vizinhos afirmam que no beco funciona uma espécie de Mipyme clandestina dedicada ao comércio ilegal de drogas.

"Chamam-na de MIPYME do químico porque lá todo mundo sabe o que acontece e ninguém faz nada", alerta um residente.

As autoridades, denunciam, têm feito ouvidos moucos às reiteradas queixas da comunidade. O medo, a impotência e a frustração levaram os cidadãos a recorrer à imprensa independente em busca de uma reação.

“Estamos cansados. Queremos segurança, queremos justiça. Não queremos que este beco continue cobrando vítimas”, escreveu um dos denunciantes.

Consumo, violência e impunidade

O beco do Chenal se tornou, segundo múltiplos testemunhos, um foco de consumo aberto de drogas, principalmente de substâncias químicas, com jovens - muitos deles menores de idade - vagando pela área.

“Ficam como zumbis, jogados na calçada, com espuma na boca, sem poder se mover”, denunciou uma vizinha.

O perigo é constante, especialmente para os estudantes que atravessam a área para chegar à escola secundária do bairro.

Além do consumo, a violência também faz parte do cenário. Reportam-se assaltos à luz do dia e roubos em plena via pública, sem que a polícia intervenha.

“Os criminosos agem com total impunidade, como se soubessem que nada vai acontecer com eles”, expressou outra residente.

“Onde está a polícia?”

No espaço destinado a comentários, vários internautas concordaram em apontar a inação das autoridades como parte do problema.

“A polícia não está para isso. Só aparece quando alguém grita ‘Pátria e Vida’”; “Aqui em Cuba a polícia não protege o cidadão, a reprime. Você os chama por um assalto e eles não vêm. Mas se você diz que há um opositor protestando, eles chegam em cinco minutos”, opinaram dois internautas.

Alguns vizinhos sugerem que por trás do negócio do químico há complicidades mais profundas.

“Se não o pararam é porque há alguém importante por trás”, especulou uma internauta.

Outros afirmam que “isso não acontece apenas em San Francisco, em toda a Havana há pontos de venda e ninguém faz nada”.

Muitos dos comentários também se centraram em refletir sobre como a Cuba atual contrasta com a que lembram de décadas passadas.

Embora existam diferenças de critério político, o consenso é unânime quanto à gravidade da situação neste momento.

“Antes você podia sair à noite, mesmo sendo menor de idade. Agora dá medo até atravessar a rua”, lamentou uma mulher.

“Crianças eram sagradas, os estudos eram sagrados... agora o que há é um inferno”, “Não há controle de nada. Estamos à deriva”, acrescentaram outros dois usuários.

También emergem vozes de mães que vivem com angústia a dependência de seus filhos a essas substâncias: “Muitas mães estão sofrendo por causa do químico. Nossos filhos se perdem e ninguém faz nada.”  A juventude como vítima silenciosa

O químico —como droga de rua acessível e devastadora— tornou-se um dos rostos mais visíveis do colapso social que atravessa a Ilha.

“São jovens de bairros disfuncionais, sem orientação, sem futuro. O Estado não lhes oferece nada, e as drogas os consomem”, escreveu um comentarista. O resultado: uma juventude presa entre a marginalidade, o crime e o esquecimento institucional.

A comunidade de San Francisco de Paula clama por proteção. Exigem uma presença policial efetiva, desarticulação dos pontos de venda de drogas e ações concretas para proteger seus filhos, seus lares e seu entorno.

A denúncia do beco do Chenal não é uma história isolada. É o retrato de uma Cuba machucada, aprisionada em um ciclo de marginalidade, drogas e violência que cresce sob a égide da indiferença oficial. A voz de seus cidadãos, embora desesperada, não perde a esperança de que alguém escute. E aja. Porque se não for agora, quando?

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