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A Empresa de Telecomunicações de Cuba (ETECSA) surpreendeu nesta quinta-feira os usuários cubanos ao oferecer uma nova explicação para as constantes quedas do serviço móvel: um fenômeno meteorológico chamado “duto atmosférico”.
Em um post publicado em sua página oficial no Facebook, a empresa estatal explicou que esse fenômeno é uma camada da atmosfera que atua como um “túnel” para as ondas de rádio, permitindo que elas viajem longas distâncias com mínima perda de sinal, mas que “pode ser prejudicial para as redes modernas, criando interferência que degrada o serviço e causa problemas de gestão da rede”.
Segundo a ETECSA, o duto atmosférico pode ocasionar interrupções nas chamadas, diminuição da velocidade de dados, congestionamento na rede e quedas de cobertura. A empresa acrescentou que se trata de um desafio natural “para as redes de comunicações sem fio”.
Onda de burlas e críticas nas redes
A publicação gerou uma avalanche de reações nas redes sociais, onde centenas de usuários responderam com ironias, sarcasmos e zombarias diante do que consideram uma nova desculpa da empresa estatal.
“Agora, quando disserem que é por causa do bloqueio, saímos para a rua para pedir que tirem o duto atmosférico”, comentou um usuário. Outro escreveu: “Quando não há mais culpados, é óbvio que a natureza tem que pagar. O que vem a seguir, uma interferência alienígena?”.
Os comentários, em sua maioria negativos, qualificaram a explicação de “ficção científica”, “falta de respeito” e “escarniço ao povo”, enquanto muitos lembraram dos altos preços e da baixa qualidade do serviço. “Isso só acontece em Cuba. Não sei o que mais vão inventar para encobrir que o serviço é uma mi****”, apontou um internauta. Outro ironizou: “Vivo em um duto atmosférico, por isso não tenho Nauta Hogar”.
Inclusive alguns usuários com conhecimentos técnicos refutaram a versão da ETECSA, argumentando que o duto troposférico não gera os efeitos descritos e que as verdadeiras causas são a falta de manutenção, a escassez de energia e a obsolescência tecnológica.
Antecedentes: desculpas, restrições e censura
O comunicado da ETECSA surge apenas dois dias depois que a empresa cortou o serviço de internet da jovem Anna Sofía Benítez, que denunciou que foi desconectada após criticar o regime nas redes sociais e se recusar a entregar seu telefone “para ser revisado”.
Não é a primeira vez que a empresa estatal se torna o centro da polêmica. Em julho, ETECSA negou a existência de uma suposta manutenção programada para o dia 11 de julho, aniversário dos protestos de 2021, embora numerosos ativistas tenham denunciado interrupções e bloqueios de internet nessa data.
Em maio, a estatal restringiu o acesso à internet móvel, encarecendo os planos em pesos cubanos e obrigando os usuários a pagar em dólares pelos pacotes mais básicos. Segundo denúncias de cidadãos, conectar-se em Cuba pode custar até quatro vezes o salário mínimo mensal.
Além disso, no início de outubro, funcionários da empresa denunciaram pressões para agir como “ciberclarias”, afirmando que perdem 10% de seu salário se não divulgarem propaganda oficial nas redes sociais.
ETECSA, alvo do descontentamento cidadão
Com sua explicação sobre o “duto atmosférico”, a ETECSA parece ter reavivado o descontentamento entre os cubanos, que consideram a publicação mais uma demonstração do desprezo com que o monopólio estatal trata seus clientes.
“Já encontraram o substituto do bloqueio para justificar o mau serviço: o duto atmosférico”, escreveu um usuário. Outro acrescentou: “Deve ser um duto imperialista financiado pela CIA.”
Em um país onde as quedas de conexão, os preços abusivos e a censura digital fazem parte do cotidiano, muitos concordam que o verdadeiro problema não está na atmosfera, mas na estrutura de uma empresa que continua funcionando sob controle político e a falta de competição.
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