O escultor da rocha de Fidel garante que o vê “todos os dias”

Na véspera do 99º aniversário do nascimento do líder da chamada "revolução cubana", a imprensa oficial não economiza em clichês.

Antonio Matos Díaz diante da "rocha eterna"Foto © Captura de vídeo YouTube / Canal Caribe

Em Santiago de Cuba, entre samambaias e mármore importado, repousa o que talvez seja o monumento funerário mais comentado da Ilha: uma rocha de granito com um nicho, batizada como “monolito”, e rodeada de uma cerimônia que parece importada da Praça Vermelha para Santa Ifigenia.

O escultor Antonio Matos Díaz, responsável por esculpir o bloco onde descansam as cinzas do ditador Fidel Castro, não economiza em devoção. Segundo confessou às câmeras da Televisão Cubana, ele “vê” o líder histórico “todos os dias”.

“Eu vejo o Fidel todos os dias, vitorioso, exatamente como ele se referiu naquele primeiro de janeiro de 59, quando entrou em Santiago de Cuba e mencionou a fortaleza que a revolução tem nesses dois pilares que são a Sierra Maestra e Santiago de Cuba”, disse emocionado, como se a pedra fosse uma espécie de bola de cristal em vez do grão de milho que dizem representar.

O fervor não é menor: para ele, a massa de 24 toneladas é um “altar sagrado da pátria” e trabalhar nela foi uma “missão histórica” confiada a dois “filhos humildes”, a ele, um filho de Sagua de Tánamo, “cidade mártir”, e ao seu assistente. Às vésperas do 99º aniversário do nascimento do líder da chamada "revolução", a imprensa oficial cubana não economiza em sentimentalismos.

A obra, ordenada por Raúl Castro e supervisionada por figuras como Juan Almeida e Eusebio Leal, permaneceu em segredo durante anos. Matos esteve seis deles isolado em uma área de acesso restrito, esculpindo o bloco extraído da Gran Piedra. Nem sua família sabia o que ele fazia. Segundo a narrativa oficial, o resultado “perdurará para toda a vida”.

O ritual em torno da "rocha eterna" inclui guardas de honra, revezamentos a cada meia hora e a música solene composta por Almeida. Tudo isso acontece em um cemitério que também abriga as sepulturas de Martí e outros heróis, mas onde a pedra de Fidel se tornou protagonista de peregrinações, lágrimas e discursos que misturam a independência do século XIX com a Revolução de 1959.

Matos relatou que a morte de Castro o surpreendeu convalescente de uma operação de hérnia, mas ele foi igualmente para selar a tampa de mármore verde guatemalteco com o nome “Fidel” em letras douradas.

O conjunto é complementado com mármore creme de Bayamo, pedras de rios associadas à guerrilha e jardineiras com café e samambaias da Sierra Maestra, em uma exibição simbólica que, segundo a imprensa oficial, “preserva para futuras gerações” o legado do comandante.

Enquanto isso, para o escultor, o diálogo com o ausente permanece vivo: “Comandante, o que mais tenho que fazer?”, pergunta-se mentalmente a cada vez que termina uma tarefa. E assim, entre pedra, solenidade e culto à personalidade, a rocha continua ali: inamovível, como a narrativa que a circunda.

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