A comediante cubana Tigresa Tóxica, que afirma ter sido também médica em sua vida profissional, viralizou um vídeo no Instagram em que ironizou sobre os salários dos médicos na Ilha.
No seu vídeo, a artista começa dizendo: “Sou doutora em Cuba e vou te mostrar que com o meu salário vivo como uma rainha… Sim, vivo como uma panela de pressão: sob pressão e prestes a explodir”. Em seguida, com humor ácido, comparou o salário de um médico com “o pênis do seu ex: uma pilinha pequena que não serve para nada”.
A doutora se referiu à vocação de seus colegas e afirmou que “o reconhecimento social” por si só não cobre o custo de vida: “Quantas dúzias de ovos eu posso comprar com os 20.000 aplausos que me restam da pandemia?”.
Em seu monólogo, a Tigresa Tóxica lançou uma frase lapidar que criticou diretamente o discurso oficial, especialmente as recentes declarações da ex-ministra do Trabalho, Marta Elena Feitó Cabrera, que negou a existência de mendigos em Cuba, afirmando que estavam “disfarçados”.
“Você e eu o que somos? Médicos disfarçados de mendigos? Uau! Quem disse isso!?” disse a médica em tom zombeteiro.
Sua sátira chega em meio a um contexto onde, segundo o Observatório Cubano de Direitos Humanos (OCDH), 89% das famílias em Cuba vive em situação de extrema pobreza, uma situação que não impediu que Feitó Cabrera afirmasse que as pessoas que buscam comida na rua ou no lixo “não são mendigos”, mas sim “deambulantes” que encontraram um “modo de vida fácil”.
Com seu característico tom irreverente, Tigresa Tóxica desmontou, risada após risada, a narrativa oficial, lembrando que a vocação dos médicos não paga o abacate a 200 pesos nem o óleo a 1.000, e que muitos de seus colegas abandonaram a profissão para sobreviver.
Frijoles com vocação: O carrinho de compras de um médico em Cuba
A sátira de Tigresa Tóxica se fundamenta em realidades documentadas por outros cubanos. Em meados de março, um vídeo no TikTok da usuária @sheyreyes03 mostrou o que se pode comprar com o salário mensal de um médico, que gira em torno de 10.000 pesos.
Com essa quantia em mãos, a jovem se preparou para comprar alimentos e isso foi o que encontrou: 10 quilos de arroz, alguns quilos de pimentões e tomates, um pote de pasta de bocadito, dois pacotes de salsichas, uma garrafa de óleo de girassol e 10 quilos de carne moída. A carne ficou fora da lista devido ao seu alto preço.
O contraste entre a utilização da saúde pública e seus profissionais na propaganda do regime e a evidência de sua precariedade diante da inflação descontrolada do país causa um mal-estar crescente entre a classe médica cubana e alimenta a indignação de muitos cidadãos que vêem como os salários estatais são incapazes de cobrir suas necessidades mais básicas.
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