DOGE investiga as finanças do condado de Miami-Dade: Estas são as causas

DOGE solicita documentos e explicações sobre a gestão de um orçamento que, embora tenha crescido consideravelmente em receitas, enfrenta um déficit superior a 400 milhões de dólares.

Daniella Levine Cava (i) e Ron DeSantis (d)Foto © Collage Facebook/Daniella Levine Cava- X/Ron DeSantis

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O Departamento de Eficiência Governamental da Flórida (DOGE), criado pelo governador Ron DeSantis para fiscalizar os gastos públicos em nível local, iniciou uma auditoria minuciosa sobre o uso de recursos no condado de Miami-Dade.

Segundo carta enviada em 4 de agosto à prefeita Daniella Levine Cava, o DOGE solicita documentos e explicações sobre a gestão de um orçamento que, embora tenha crescido consideravelmente em receitas, enfrenta um déficit superior a 400 milhões de dólares.

O condado, o mais populoso e com o maior orçamento na Flórida, administra cerca de 13.000 milhões de dólares, o que o torna um alvo prioritário para a equipe DOGE.

As razões por trás do interesse em DOGE

DOGE justificou sua auditoria apontando uma paradoxo financeiro: enquanto as receitas do condado cresceram de forma significativa entre 2020 e 2024, o governo local projeta um déficit de mais de 400 milhões para o ano fiscal de 2025-2026.

Alguns dos dados chave mencionados pelo DOGE incluem:

Um aumento de 29% na receita de impostos sobre propriedade, o que representa mais de 430 milhões de dólares adicionais.

Um aumento de 56% nos impostos sobre alimentos e bebidas, somando quase 3 bilhões de dólares adicionais.

-Investimentos em programas como o Green New Deal e políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI), que a DOGE considera prioritário revisar.

- Detalhes técnicos sobre dispositivos para acalmar o tráfego, como lombadas ou rotatórias, e projetos de bicicletas e pedestres, com solicitações de documentação específica sobre seus custos e justificativas.

Na sua carta, o DOGE também solicitou informações sobre salários, arrendamentos, vendas de bens imóveis e itens relacionados à sustentabilidade e equidade social.

O condado tem até 13 de agosto para responder, sob pena de possíveis sanções econômicas em caso de descumprimento.

A postura da prefeita Levine Cava

A prefeita Daniella Levine Cava respondeu à notificação do Departamento de Eficácia Governamental da Flórida (DOGE) sobre as finanças do condado.

Em sua declaração, a prefeita defendeu a transparência de seu governo.

“Eu governei com uma sólida responsabilidade fiscal e me certifiquei de que Miami-Dade funcione sob um dos sistemas locais mais transparentes e bem governados do país”, disse.

Destacou que o condado se submete a auditorias externas de forma regular e que as informações financeiras estão disponíveis online em tempo real para o público.

Adicionou que reduziram despesas administrativas e conseguiram "a menor taxa de impostos combinada desde 1982" durante dois anos consecutivos, sem afetar os serviços essenciais.

"Estamos abrindo as portas para a transparência com o estado e com nossa comunidade, e confiamos na integridade de nossas operações", acrescentou.

A prefeita mostrou-se disposta a cooperar com o DOGE se a revisão for útil e não interferir na governança local, mas advertiu:

"Não há necessidade de duplicações nem de investigações com motivações políticas que possam desviar o tempo do pessoal que oferece serviços essenciais."

Finalizou afirmando que seu enfoque continua a ser servir os residentes por meio de investimentos-chave e evitando distrações políticas.

"Nossas prioridades continuam centradas em oferecer resultados aos residentes... sem cair no teatro político", concluiu.

Divisões políticas: apoio, críticas e tensões locais

A revisão do DOGE gerou um intenso debate político no condado.

Enquanto Levine Cava denuncia motivações partidárias, vozes republicanas, como o comissário Roberto González, apoiam a auditoria estatal.

González chegou a reconhecer que solicitou pessoalmente a intervenção do DOGE.

“O que temos que fazer é entender o que está acontecendo, como chegamos a esse déficit e como podemos corrigí-lo, mas sem analisar linha por linha como está sendo gasto o dinheiro dos contribuintes, não conseguiremos fazê-lo”, indicou em declarações registradas pela imprensa local.

Por sua parte, o congressista federal e ex-prefeito do condado, Carlos Giménez, celebrou publicamente a auditoria nas redes sociais.

"Em apenas alguns anos, o prefeito Levine transformou nossa boa administração em um déficit maciço", escreveu no X.

Esses apoios reavivam a disputa política entre a administração local democrata e o governo estadual republicano, em um contexto onde a fiscalização se entrelaça com interesses eleitorais e rivalidades partidárias.

O que está em jogo?

A investigação do DOGE chega em um momento crítico.

Miami-Dade enfrenta decisões difíceis para fechar o déficit: o orçamento proposto pela prefeita inclui cortes em subsídios sociais, programas para idosos e fundos para organizações sem fins lucrativos, além de aumentos nas tarifas de transporte e estacionamento, e no imposto sobre a gasolina do condado.

Além disso, como reportou o Miami Herald, em recentes audiências públicas a prefeita pediu apoio da população para manter estável a taxa do imposto sobre propriedade, e advertiu que reduzi-la em 2026 obrigaria a "cortar mais serviços".

Enquanto isso, o alcance da auditoria estatal continua a se expandir: outros condados como Broward, Jacksonville e Manatee também estão sob revisão, o que indica que o DOGE opera como parte de um plano mais amplo de fiscalização estatal.

A auditoria do DOGE sobre Miami-Dade não é apenas um exercício administrativo: é também uma batalha pelo relato político sobre a eficiência, a transparência e o controle do gasto público em um dos condados mais complexos e politicamente relevantes da Flórida.

A administração de Levine Cava insiste que a contagem de votos é desnecessária e responde a “um teatro político”.

No entanto, com um déficit que supera os 400 milhões de dólares e um clima de polarização crescente, a revisão do DOGE não apenas colocará à prova as finanças do condado, mas também a solidez institucional e a legitimidade política daqueles que hoje o governam.

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