Documentário sobre Candyman e as origens do reguetón em Cuba ganha Prêmio Gabo 2025

“Não é um segredo que Cuba está vivendo o pior momento de sua história, o mais sombrio, o mais desesperançador”, disse o diretor Fabien Pisani ao receber o prêmio.

Fotograma de Candyman (i) e Fabien Pisani (d)Foto © Collage/Facebook/Fabien Pisani e Mónica Baró

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O documentário “En la caliente – Historias de un guerrero del reguetón”, centrado na vida do pioneiro musical cubano Candyman, foi premiado neste sábado com o Prêmio Gabo 2025 na categoria Imagem, um reconhecimento à sua poderosa narrativa audiovisual sobre a censura, a identidade e a resistência cultural em Cuba.

Dirigido pelo cubano Fabien Pisani e produzido entre Cuba e os Estados Unidos pela The Cuban Joint, Zafra Media, Cacha Films e Caffeine Post, o filme reconstrói o surgimento do reguetón na ilha nos anos noventa através de Candyman, um de seus fundadores, marginalizado por anos pelas instituições oficiais.

Captura do Facebook/Fundação Gabo

“Uma história brilhante e autêntica sobre expressão através do reguetón em Cuba”, avaliou o júri, conforme registrado na página oficial da Fundação Gabo. “Destaca-se especialmente sua narrativa equilibrada, que se apoia de maneira assertiva na música como recurso para explorar o autoritarismo, a liberdade e a censura”.

Além do beat e do ritmo contagiante, “En la caliente” mostra como a música urbana se tornou uma forma de sobrevivência em uma ilha marcada pela crise e pela repressão. Candyman, com seu estilo irreverente e letras incômodas para o poder, é retratado como um símbolo de resiliência que desafiou os limites impostos pelo regime cubano.

Para a jornalista colombiana María Alejandra Villamizar, o artista representa “essa luta silenciosa que caracteriza muitos cubanos: o que fazem é sobreviver, e sempre encontram caminhos. Neste caso, a composição se tornou uma forma muito poderosa de construir identidade”.

O jornalista chileno Daniel Matamala, membro do júri, considerou que a obra “é uma grande demonstração de jornalismo”, na qual cada personagem está “dignamente apresentado” e oferece uma visão lúcida sobre o contexto cubano, onde o autoritarismo e a censura continuam a marcar a vida cotidiana.

Captura do Facebook/Mónica Baró Sánchez

Um retrato de Cuba em sua hora mais difícil

Durante a gala do Festival Gabo em Bogotá, Pisani dedicou o prêmio a Candyman e ao Movimento do Cinema e do Jornalismo Independente em Cuba, que, segundo ele, “soube encontrar uma voz e um espaço para contar, informar, conversar com o povo cubano”, informa a agência EFE.

Reconhecido pelo seu trabalho como produtor em projetos como “7 dias em Havana” e “Para Viver: O Implacável Tempo de Pablo Milanés”, Pisani alertou que contar histórias como a de Candyman é uma forma de iluminar a escuridão que permeia o país.

“Quero pensar que contar essas histórias que podem ser difíceis e desconfortáveis é fundamental para imaginar um futuro diferente”, expressou.

Captura de Facebook/Rafa G. Escalona

Embora ancorada em uma realidade muito cubana, “En la caliente” se conecta com temas universais: a repressão, a busca por liberdade, a criação cultural a partir das margens. A rigorosidade estética do documentário e a riqueza de suas vozes permitem compreender “múltiplas camadas do contexto político, social e cultural de Cuba”, segundo a produtora brasileira Mariana Oliva.

A obra foi selecionada entre outros dois finalistas: A Raposa, de BBC News Brasil, e Os olhos da revolução, de Rádio e Televisão de Portugal. Com este reconhecimento, Cuba volta a ocupar um lugar de destaque no jornalismo narrativo ibero-americano, graças a uma história contada de forma autêntica, com música, dignidade e coragem.

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