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O reconhecido ator cubano Héctor Noas criticou severamente as recentes declarações da já ex-ministra do Trabalho e Segurança Social, Marta Elena Feitó Cabrera, que negou a existência de mendigos em Cuba e os acusou de serem pessoas "disfarçadas" e "bebuns".
Em um post publicado no Facebook, Noas expressou sua incredulidade ao ouvir as palavras da funcionária durante uma sessão do Parlamento cubano.
"Pensei que era um vídeo criado por Inteligência Artificial ou simplesmente um meme, mas não! Tão certo quanto aconteceu em uma Plenária da Assembleia Nacional", escreveu indignado.
O histriônico lamentou que o órgão legislativo do país - onde se supõe que se discutam os problemas reais da população - tenha se tornado um espaço onde se negam as evidências mais dolorosas da crise social.
"Isto nos deixou em um estado de frustração, indignação e impotência difícil de digerir", afirmou.
Noas acusou os líderes cubanos de demonstrar uma "absoluta falta de conhecimento e empatia" em relação ao povo, o que os leva a "elaborar políticas erráticas que apenas aumentam a pobreza e a desigualdade".
Com um tom direto, criticou a falta de conexão do governo com a realidade vivida pelo povo cubano.
"Quando vão descer das alturas e olhar nos olhos desesperados deste povo? Sim, não é suficiente baixar os vidros dos carros. Caminhem pelas ruas (não em visitas dirigidas), falem com o povo mais sofrido e que não está nas primeiras filas, vejam as condições cada vez mais paupérrimas e não justifiquem mais a desolação", detalhou.
O popular artista questionou também por que nenhuma voz na Assembleia desmentiu as palavras de Feitó.
"Como pode um funcionário desse nível dizer coisas assim e não sentir vergonha? Ou são ingênuos ou mentem sem pudor, e acreditem que tanto uma coisa quanto a outra os torna ineptos para presidir um projeto tão delicado", escreveu o ator, exigindo respeito pelos mais desfavorecidos.
As declarações de Feitó Cabrera, feitas na segunda-feira diante das comissões do Parlamento, geraram uma onda de reprovação.
A funcionária afirmou que em Cuba "não há mendigos" e que as pessoas que pedem esmolas ou reviram o lixo o fazem por escolha, não por necessidade.
"Estão disfarçados de mendigos", disse, qualificando o fenômeno como uma "vida fácil" para evitar trabalhar.
A polêmica não demorou a gerar consequências: poucas horas após suas declarações, a ministra apresentou sua renúncia, que foi "aceita" pelo Buró Político do Partido Comunista de Cuba e pelo Conselho de Estado.
Em um comunicado oficial, foi reconhecido que Feitó agiu com "falta de objetividade e sensibilidade".
Movido pelo escândalo, o governante Miguel Díaz-Canel pareceu aludir ao caso, embora sem nomeá-la diretamente, ao declarar: "Nenhum de nós pode agir com soberania […] desconectado das realidades que vive nosso povo".
Héctor Noas se junta assim à lista de intelectuais, artistas e cidadãos que levantaram a voz em defesa dos mais vulneráveis.
Em sua mensagem final, deixou claro seu descontentamento: "O que mais precisa acontecer para que se pare de denegrir os menos favorecidos e uma nação destruída de todas as formas?".
Seu post foi amplamente compartilhado e comentado nas redes, evidenciando que, para muitos cubanos, o verdadeiro problema não são as pessoas na rua, mas aqueles que, no poder, se negam a vê-las.
Outros artistas também demonstraram sua indignação.
Para o reconhecido ator Luis Alberto García, além da gravidade das palavras da ministra, o mais preocupante foi o silêncio cúmplice, a falta de reação dos presentes.
"Nem um único deputado ou participante do CÓNCLAVE se opôs à ministra. E acaba saindo a fumaça branca pela chaminé do Palácio de Convenções. Do que se conclui que absolutamente todos os que estavam ali pensam da mesma maneira e têm a mesma percepção sobre o que nos rodeia", observou.
O comediante Ulises Toirac foi além ao se autodefinir como um mendigo mais, e revelou que é um entre muitos que mal conseguem escapar da mendicidade graças à ajuda de familiares ou amigos, dentro ou fora do país.
"Não chegaria ao fim do mês se não me ajudassem. Em Cuba, muito poucos podem. Teremos roupas que não são de mendigos e mãos que não são de mendigos, mas do nosso suor a maioria não vive," escreveu.
Por sua vez, o humorista cubano Rigoberto Ferrera se mostrou irônico em um breve vídeo publicado em sua conta no Instagram: "Dizem que em Cuba não há mendigos, que são pessoas disfarçadas de mendigos... Será que também há pessoas disfarçadas de ministros e ministras?", questionou.
O post foi acompanhado por uma frase contundente que ressoou entre seus seguidores: "Não têm vergonha".
Perguntas frequentes sobre as declarações da ministra cubana e a situação da pobreza em Cuba
O que afirmou a ministra do Trabalho de Cuba sobre os mendigos?
A ministra do Trabalho e Segurança Social, Marta Elena Feitó Cabrera, afirmou que em Cuba não há mendigos, mas sim pessoas "disfarçadas" que buscam evitar trabalhar. Suas declarações negaram a existência de pobreza extrema e geraram uma forte reação pública dentro e fora de Cuba.
Qual foi a reação de Héctor Noas e de outros artistas cubanos diante das declarações da ministra?
Héctor Noas, junto com outros artistas cubanos como Luis Alberto García e Ulises Toirac, criticaram duramente as palavras da ministra. Noas expressou sua indignação pela falta de empatia do governo em relação ao povo, enquanto Toirac se autodefiniu como um "mendigo" para sublinhar as condições precárias em que vivem muitos cubanos.
Quais foram as consequências das declarações da ministra Feitó Cabrera?
Após o escândalo gerado, a ministra Feitó Cabrera apresentou sua renúncia, a qual foi aceita pelo Burô Político do Partido Comunista de Cuba e pelo Conselho de Estado. A renúncia ocorreu em meio a uma onda de críticas e memes nas redes sociais que ridicularizavam suas declarações.
Como o governo cubano respondeu às declarações da ministra?
O governante Miguel Díaz-Canel qualificou de "muito questionável" a falta de sensibilidade na abordagem da vulnerabilidade durante as Comissões da Assembleia. No entanto, ele não mencionou diretamente a ministra em sua declaração, o que tem sido interpretado como uma tentativa de se distanciar do escândalo sem assumir responsabilidade política direta.
Qual é a situação real da pobreza em Cuba segundo estudos e testemunhos?
Segundo o Observatório Cubano de Direitos Humanos, 89% das famílias cubanas vivem em pobreza extrema. Depoimentos de artistas, jornalistas e cidadãos têm mostrado imagens e relatos que evidenciam a presença de pessoas em situação de rua e pobreza extrema, contradizendo as afirmações da ministra sobre a inexistência de mendigos no país.
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