ICEBlock, o app de iPhone que alerta os usuários sobre a presença próxima de agentes do ICE

Lançada em abril de 2025, a ICEBlock está disponível para iPhone de forma gratuita e em 14 idiomas, incluindo o espanhol.

Foto © Collage X/ICE

Em meio a uma crescente tensão migratória nos Estados Unidos, um aplicativo móvel tem se destacado na cena pública e política: ICEBlock, uma ferramenta que permite aos usuários relatar em tempo real a presença de agentes do Serviço de Imigração e Controle de Aduanas (ICE).

Projetada com o objetivo de proteger as comunidades migrantes, o ICEBlock se encontra no epicentro de um debate que combina direitos civis, vigilância estatal, segurança pública e resistência digital.

Um aplicativo para proteger e alertar

Lançado em abril de 2025, ICEBlock está disponível para iPhone gratuitamente e em 14 idiomas, incluindo o português. Sua funcionalidade é simples, mas poderosa: com apenas dois toques na tela, um usuário pode reportar uma observação de agentes do ICE, especificar o tipo de atividade detectada e compartilhar sua localização.

Os relatórios são eliminados automaticamente após quatro horas para garantir a atualização constante das informações.

Além disso, o aplicativo limita os alertas a um relatório a cada cinco minutos por usuário em um determinado raio, para evitar abusos ou spam.

O lema do aplicativo é direto: "Se você vê algo, clique em algo", uma reformulação do conhecido slogan nova-iorquino “If you see something, say something”.

ICEBlock busca oferecer às comunidades migrantes uma ferramenta imediata para evitar encontros indesejados com as autoridades migratórias, encontros que podem ter consequências devastadoras, como detenções, deportações ou a separação de famílias.

Quem está por trás do ICEBlock?

Detrás do ICEBlock está Joshua Aaron, um músico e desenvolvedor autodidata que se inspirou em seu ambiente e em sua história familiar como judeu para criar uma plataforma que, segundo afirma, ajuda a “evitar encontros traumáticos com agentes migratórios”.

Aaron declarou que sua motivação foi “fazer algo para lutar” contra o que considera práticas opressivas da atual administração, comparando-as até mesmo com experiências históricas de perseguição.

Desde o seu lançamento, o aplicativo acumulou mais de 30.000 downloads e subiu posições na App Store, chegando à 32ª posição na categoria de redes sociais.

Seu sucesso foi impulsionado pelo aumento das operações de imigração e pelas manifestações em cidades como Los Angeles e Nova York.

Reação institucional: Entre condenações e advertências

A irrupção do ICEBlock não passou despercebida pelas autoridades. A reação foi rápida e contundente.

A secretária do Departamento de Segurança Nacional, Kristi Noem, condenou nesta terça-feira, a partir de Alligator Alcatraz, que a rede CNN tenha divulgado o aplicativo e esteja fazendo publicidade sobre ele.

A subsecretária do Departamento de Segurança Nacional, Tricia McLaughlin, condenou a aplicação.

“Nossos agentes do ICE estão enfrentando um aumento de 500% nas agressões contra eles... Não ataquem nossos agentes do ICE. É repugnante. Está errado e é antiamericano”, afirmou.

Por sua parte, o diretor interino do ICE, Todd Lyons, foi ainda mais direto, qualificando o aplicativo de “repugnante” e acusando seus desenvolvedores de “colocar os agentes da lei federal em risco” e de “incitar à violência”.

Estas declarações foram apoiadas pela procuradora geral Pam Bondi, que, no programa "Hannity", da Fox News, alertou Aaron para que “tenha cuidado” e afirmou que o Departamento de Justiça está “observando” ele.

"Ele está enviando uma mensagem aos criminosos sobre onde estão nossos agentes federais. E ele não pode fazer isso. Estamos vigiando-o, estamos de olho nele, e é melhor que ele tenha cuidado, porque isso não é uma expressão protegida. Isso está ameaçando a vida dos nossos agentes da lei em todo o país", alertou Bondi.

ICEBlock inclui uma isenção de responsabilidade onde se alerta: “Este aplicativo é usado apenas para fins informativos e de notificação. Não deve ser utilizado para incitar à violência nem interferir na aplicação da lei.”

Se trata de uma clarificação que não tem sido suficiente para conter as críticas vindas da Casa Branca e de agências federais.

Resistência digital em tempos de operações de busca e apreensão

ICEBlock não é uma exceção. Faz parte de um fenômeno mais amplo de aplicações e plataformas digitais desenvolvidas por e para comunidades migrantes.

Frente ao endurecimento das políticas migratórias nos últimos meses, essas ferramentas se multiplicaram.

Em Los Angeles, a plataforma People Over Papers permite relatórios detalhados, com fotos e vídeos, da atividade migratória.

Sua fundadora, Celeste, explicou ao LAist que o site duplicou seu tráfego nos últimos dias e que contam com uma equipe de verificação de voluntários que filtra relatórios falsos ou incorretos. Em junho, passaram de 6,1 para 7,1 milhões de usuários únicos em um único fim de semana.

Em Nova Iorque, a organização Islip Forward lançou um aplicativo que oferece alertas geolocalizados em tempo real.

Segundo seu fundador, Ahmad Pérez, a prioridade é fornecer "10 a 15 minutos de aviso prévio" para que as famílias possam tomar decisões imediatas sobre sua segurança.

Desde janeiro, o aplicativo registrou mais de 60.000 utilizações.

Comunidades organizadas: Além dos aplicativos

Além do componente tecnológico, foi gerado um ecossistema de apoio e organização comunitária.

Redes como a Boyle Heights Immigrant Rights Network, a Southern California Rapid Response Network e a União del Barrio organizam patrulhas, oficinas de prevenção e linhas diretas para responder a operações de imigração.

Também se concentram na proteção emocional dos menores e na orientação legal das famílias.

Outras organizações, como CHIRLA e Legalization For All, fornecem orientações para documentar de forma segura as batidas sem colocar em risco aqueles que reportam.

Essas redes funcionam como escudos comunitários contra a vigilância e as operações migratórias.

Dilemas legais e éticos: Entre o direito à informação e a segurança pública

Estas ferramentas não estão isentas de desafios ou questionamentos. Do ponto de vista legal, operam em uma área cinza.

ICE não demonstrou interesse em dialogar com os desenvolvedores, e os relatos de falsos alarmes ou desinformação são uma preocupação constante.

As plataformas devem equilibrar entre alertar sem causar pânico e verificar sem desacelerar seu funcionamento.

Desde a outra margem, as autoridades denunciam que esses aplicativos comprometem operações federais e colocam os agentes em risco.

Mas os defensores dos direitos dos imigrantes argumentam que o ICEBlock e similares são mecanismos de proteção legítima em um ambiente que consideram hostil e até mesmo ilegal em suas práticas.

"Nos últimos anos, o ICE enfrentou críticas por supostos abusos dos direitos civis e descumprimento dos princípios constitucionais e do devido processo, por isso é crucial que as comunidades se mantenham informadas sobre suas operações", lê-se no site do ICEBlock.

A polêmica em torno do ICEBlock é um microcosmo do debate nacional sobre imigração, direitos civis e o papel da tecnologia na resistência social.

À medida que o ICE incorpora inteligência artificial, reconhecimento facial e biometria, as comunidades também encontram nos smartphones um espaço para se proteger, se informar e se organizar.

Perguntas frequentes sobre o aplicativo ICEBlock e seu impacto na comunidade migrante

O que é o ICEBlock e como funciona?

ICEBlock é um aplicativo móvel gratuito para iPhone que permite aos usuários relatar em tempo real a presença de agentes do Serviço de Imigração e Controle de Aduanas (ICE). Seu objetivo é proteger as comunidades migrantes e evitar encontros indesejados com as autoridades. Os relatórios são automaticamente excluídos após quatro horas para manter a informação atualizada, e o aplicativo está disponível em 14 idiomas, incluindo o espanhol.

Por que a aplicação ICEBlock gerou controvérsia?

A aplicação foi criticada pelas autoridades, que afirmam que ICEBlock coloca em perigo os agentes da lei federal e pode incitar a violência contra eles. No entanto, os defensores dos direitos dos imigrantes argumentam que é uma ferramenta legítima de proteção para as comunidades migrantes em um contexto de políticas migratórias cada vez mais rígidas e hostis.

Qual tem sido a resposta institucional à aplicação ICEBlock?

As reações institucionais foram de condenação, com a subsecretária do Departamento de Segurança Nacional e o diretor interino do ICE qualificando a aplicação de "repugnante". Eles também alertaram seu desenvolvedor, Joshua Aaron, de que está sendo monitorado pelo Departamento de Justiça. Essas críticas refletem a tensão entre a segurança pública e os direitos civis em torno das políticas migratórias atuais.

Quais outras ferramentas tecnológicas estão sendo utilizadas pelas comunidades migrantes?

Além do ICEBlock, existem outras plataformas como People Over Papers e o aplicativo Islip Forward, que permitem reportar atividades migratórias e receber alertas geolocalizadas. Essas ferramentas fazem parte de um fenômeno mais amplo de resistência digital contra políticas migratórias rígidas, fornecendo informações em tempo real para que as comunidades migrantes possam tomar decisões informadas sobre sua segurança.

Qual é o papel da tecnologia na proteção dos direitos dos imigrantes?

A tecnologia se tornou uma ferramenta crucial para a proteção e organização das comunidades migrantes. Aplicativos como ICEBlock permitem que os imigrantes evitem encontros com o ICE e se mantenham informados sobre as operações das autoridades. Simultaneamente, essas ferramentas digitais fomentam a organização comunitária, oferecendo um espaço para a resistência e a proteção de direitos em um contexto de vigilância estatal crescente.

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