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Em meio à onda de protestos estudantis que hoje abala várias faculdades universitárias contra as tarifas da ETECSA, a defensora dos animais Beatriz Batista recordou a repressão que sofreu na Universidade de Havana, quando tinha apenas 21 anos e cursava o quarto ano na Faculdade de Comunicação (FCOM).
Através de um testemunho revelador, Batista se solidarizou com os universitários e enviou uma mensagem direta à nova geração: "Não tenham medo. Esta luta é pela dignidade, pelo direito de discordar. É pela liberdade."
Doutrinação a partir das salas de aula
A jovem relata que seu ativismo pacífico começou em 2019, com uma única demanda: uma Lei de Proteção Animal.
Sem ter pronunciado uma única palavra contra o regime, foi apontada pelas autoridades acadêmicas e vigiada pela Segurança do Estado. O primeiro interrogatório ocorreu dentro da própria faculdade, na presença do decano e de um professor de Jornalismo.
Desde então, seu nome foi marcado como "aluna com problemas ideológicos", e suas amizades foram pressionadas a se afastar dela.
"Meu professor de Publicidade até alertou minha melhor amiga para se afastar de mim se quisesse evitar problemas com sua cidadania espanhola. Um chantagem emocional, grosseira e mesquinha", denunciou em .
Uma tese sob punição política
Apesar das tentativas de sabotar sua carreira, Beatriz conseguiu se formar. Ela relata que sua tutora, embora a tenha ajudado, recebeu pressões para que sua tese fosse avaliada com um 4 como punição política.
"Mas saiu errado. Me formei com um 5. E não só isso: meses depois queriam apresentar minha tese em um evento acadêmico porque era 'inovadora'. Que cinismo", expressou.
Entre as figuras que mencionou como responsáveis pela sua repressão estão o decano Raúl Garcés, o professor de Jornalismo Armando Franco e o professor de Publicidade Raydel Gracia, que agora reside em Miami.
Sobre sua tutora, preferiu não revelar o nome, embora tenha indicado que foi ela quem lhe informou que sua nota deveria ser rebaixada por "razões políticas".
"Todo está podre. Todo está combinado."
Em uma mensagem carregada de amargura e lucidez, a jovem aponta diretamente o grau de doutrinação que reina na Faculdade de Comunicação.
"Vi desfilar Díaz-Canel pelos corredores, de mãos dadas com o decano. Vi como sua sucessora foi elogiada recentemente no perfil oficial do 'presidente'. Tudo está podre. Tudo está acertado", enfatizou.
Lamentou que a Faculdade de Comunicação (FCOM) ainda não tivesse aderido à greve universitária, como outras áreas como Matemática, Biologia e Humanidades.
A publicação de Batista foi anterior à declaração da FCOM de que não aceitará o pacote de 6 GB oferecido pela ETECSA aos universitários até que sejam apresentadas "soluções mais eficazes que considerem toda a população".
Solidariedade com os estudantes: "Não deixem que os quebrem"
A ativista fez um apelo direto às novas gerações: "Mantenham-se firmes, fortes e unidos. Não se deixem quebrar. Que os professores se juntem, que parem de olhar para o outro lado."
Reitero que a luta atual não se limita ao acesso à Internet ou a uma reclamação pontual contra a ETECSA: "Esta luta é pela dignidade. É pelo direito de dissentir. É pelo futuro. É pela liberdade."
Uma história marcada pela repressão e pelo exílio
Batista tem sido vítima de múltiplas formas de assédio por seu ativismo. No dia 19 de fevereiro de 2021, ele se manifestou junto a outros defensores dos animais em frente ao Ministério da Agricultura para exigir a aprovação de um decreto sobre o Bem-Estar Animal.
Por aqueles dias, denunciou ter recebido ameaças de supostos criadores de galos e uma campanha de descrédito impulsionada por perfis falsos associados à Segurança do Estado.
Também foi uma das jovens que saiu para protestar em 11 de julho de 2021 e presenciou a repressão direta contra manifestantes. "Eu vi como o governo queria matar as pessoas. Ninguém me contou. Eu vi com meus próprios olhos".
Poco depois, Batista saiu do país rumo à Espanha para fazer alguns estudos.
Após vários meses, decidiu comprar uma passagem para o México e em janeiro de 2022 atravessou o Rio Bravo para pedir asilo nos Estados Unidos. Foi detida durante 50 dias em um centro de imigração, mas relatou que foi tratada com respeito e humanidade.
Hoje reside nesse país, onde continua seu trabalho como defensora dos animais e dos direitos humanos.
Um testemunho que desafia o silêncio
As palavras de Beatriz Batista ressoam com força em um momento de tensão sem precedentes nas universidades cubanas.
Sua história confirma o que muitos jovens começam a visualizar: a repressão não começa nas ruas, mas nos corredores das instituições educacionais.
E sua mensagem, longe de ser uma de resignação, é um grito de esperança para aqueles que hoje se atrevem a levantar a voz: "Ninguém começa radicalizado. O sistema te empurra".
Perguntas frequentes sobre a repressão na Universidade de Havana e os protestos estudantis em Cuba
Quem é Beatriz Batista e por que seu testemunho é relevante?
Beatriz Batista é uma defensora dos animais e ativista cubana que enfrentou repressão por seu ativismo pacífico em favor de uma Lei de Proteção Animal. Seu testemunho é relevante porque expõe a repressão ideológica na Universidade de Havana e envia uma mensagem de resistência aos estudantes atuais que protestam contra as políticas do governo, como as tarifas da ETECSA.
Qual é a mensagem de Beatriz Batista para os estudantes cubanos?
O recado de Beatriz Batista aos estudantes cubanos é claro: "Mantenham-se firmes, fortes e unidos. Não se deixem quebrar." Ela enfatiza que a luta não se limita ao acesso à Internet, mas sim à dignidade, ao direito de discordar e à liberdade. Seu apelo é para que não tenham medo e para que os professores se juntem aos protestos, em vez de virar as costas.
Que papel a Federação Estudantil Universitária (FEU) desempenhou nos protestos contra a ETECSA?
A Federação Estudantil Universitária (FEU), especialmente sua liderança nacional, tem sido criticada por sua aliança com o governo e sua falta de representação das demandas estudantis. Faculdades como Biologia e Humanidades exigiram a renúncia do presidente da FEU, Ricardo Rodríguez González, por não defender adequadamente os interesses do corpo estudantil na crise com a ETECSA.
Como as universidades cubanas estão respondendo às protestas estudantis?
Várias faculdades da Universidade de Havana, como Matemática e Computação, Biologia e Humanidades, têm apoiado os protestos estudantis e algumas até declararam greves acadêmicas em rejeição às tarifas da ETECSA. As universidades estão passando por uma crise de representação estudantil e exigem uma liderança que defenda seus direitos e demandas de forma mais eficaz.
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