Conseguir um passagem para sair de Sancti Spíritus se tornou um verdadeiro suplício, onde a legalidade é o caminho mais lento e quase sempre inútil. Enquanto os viajantes enfrentam filas eternas, falhas na aplicação Viajando e listas de espera que geram desespero, aqueles que têm dinheiro suficiente para pagar “por fora” conseguem acessar os bilhetes sem problemas.
Um artigo publicado pelo meio oficial Escambray denunciou o caos e a corrupção que persistem no transporte interprovincial na província onde, assim como no resto do país, a demanda por passagens supera amplamente a oferta. A consequência é um terreno fértil perfeito para a ilegalidade e o suborno como moeda de troca.
“Ao contrário do que quase ninguém faz acusações com nome e sobrenome, o vox populi afirma que quando alguém interessado tem dinheiro suficiente para subornar, rapidamente encontra um bilhete”, destacou o texto.
Embora as autoridades das empresas de Ómnibus Nacionales e Viajeros admitam “algumas sanções administrativas e até separações definitivas tomadas contra motoristas e trabalhadores das terminais, assim como determinados reordenamentos de seus serviços para evitar a revenda de passagens”, a realidade “não pode ser escondida com um dedo”, admitiu o meio oficialista.
As denúncias dos cidadãos são escassas, não por falta de vítimas, mas pelo medo de retaliações e a desconfiança na eficácia institucional. A esse respeito, o meio interpelou diretamente a empresa estatal Viajeros, “que deve organizar e controlar melhor a venda de suas capacidades”.
A corrupção vai desde a venda ilegal de passagens dentro das terminais até a revenda de espaços nos porta-malas, cobranças por assentos inexistentes, corredores lotados de passageiros sem assentos e paradas arbitrárias para favorecer interesses pessoais.
Segundo o relatório, motoristas que se sentem “donos e senhores” dos ônibus “e praticam múltiplas invenções” são parte do problema.
A situação técnica do parque também não ajuda. Dos 28 ônibus dos quais a província dispõe, apenas a metade está em atividade devido à falta de pneus, peças, baterias e óleos. Apesar disso, as autoridades asseguram que nenhuma viagem foi suspensa, embora 8% das saídas tenha registrado atrasos.
Como alternativa, acrescentou, mantém-se o serviço da Viazul para turistas e cubanos com acesso a cartões internacionais respaldados em divisas em duas rotas: Trinidad-Varadero e Trinidad-Sancti Spíritus.
CiberCuba confirmou recentemente com funcionários da empresa que esta só aceita pagamentos em euros e através de cartões bancários, como Visa ou MasterCard. O método, que não é novo, deixa sem possibilidade de reservar viagens os cubanos que dentro da ilha optam por Viazul que, embora com numerosas deficiências, conta com um serviço mais regular do que a rede de ônibus interprovinciais.
Esta opção, apontou Escambray, reporta anualmente mais de 450.000 pesos em moeda livremente conversível, cuyo uso é decidido pela empresa em nível nacional e durante os últimos tempos, afirmou, tem permitido melhorar os ônibus que cobrem as rotas interprovinciais.
“O país prioriza este serviço”, assegura a retórica oficial, mas na prática, a maioria dos espirituanos continua presa no círculo vicioso da espera, da desesperação ou do suborno.
A inícios de 2025, o Ministério de Transporte reduziu a quantidade de bilhetes que um usuário pode adquirir através do aplicativo Viajando durante 30 dias: de 30 para 15, com o suposto objetivo de aprimorar o processo de comercialização de passagens em ônibus e trens para viagens interprovinciais.
Historicamente, houve a revenda de bilhetes nas terminais cubanas, alimentada pela escassez de transporte interprovincial. Além disso, os viajantes podem pernoitar por dias e dormir no chão das terminais de espera.
A crise energética também atinge as terminais de ônibus nacionais, pois sólo três delas contam com geradores que garantem o fornecimento elétrico: a Estação Central e a de Villanueva em Havana, assim como a de Guantánamo. O restante das estações do país carece desse suporte energético.
Além disso, vários incidentes relacionados a roubos no transporte interprovincial de Cuba geram preocupação com a segurança.
Em março, três indivíduos tentaram executar um roubo em um ônibus da rota Havana–Camagüey. Um deles se escondeu em uma mala no compartimento do veículo, enquanto os outros dois agiam como passageiros. O motorista percebeu comportamentos suspeitos e parou o ônibus. Os passageiros confrontaram os supostos ladrões e, antes da chegada da polícia, deram-lhes uma surra.
A Empresa de Ônibus Nacionais concluiu 2024 com uma redução acentuada em sua operatividade, já que se mantém apenas 36 % das viagens que eram realizadas em 2019.
Perguntas frequentes sobre a corrupção e o transporte em Sancti Spíritus
Como a corrupção afeta a venda de passagens em Sancti Spíritus?
A corrupção na venda de passagens em Sancti Spíritus permite que aqueles que têm dinheiro suficiente para subornar consigam bilhetes sem problemas, enquanto outros enfrentam longas filas e falhas no aplicativo Viajando. Isso gera um ambiente onde a ilegalidade e o suborno são a norma, afetando a maioria dos cidadãos que não podem se permitir pagar "por fora".
Qual é a situação técnica do transporte público em Sancti Spíritus?
A situação técnica do transporte público em Sancti Spíritus é crítica, pois somente metade dos 28 ônibus estão ativos devido à falta de pneus, peças, baterias e óleos. Isso aumenta os atrasos nas saídas e piora a já deficiente oferta de transporte interprovincial, intensificando a desesperação dos passageiros.
Quais são as alternativas para os viajantes em Sancti Spíritus?
Como alternativa ao transporte público interprovincial, oferece-se o serviço do Viazul, que é acessível para turistas e cubanos com cartões internacionais em divisas. No entanto, esta opção exclui a maioria dos cubanos que não têm acesso a essas formas de pagamento, limitando ainda mais suas possibilidades de mobilidade.
Quais medidas as autoridades tomaram para melhorar a situação do transporte?
As autoridades implementaram sanções administrativas e separações definitivas para alguns motoristas e trabalhadores de terminais, assim como reordenamentos de serviços. No entanto, essas medidas têm sido insuficientes para resolver os problemas estruturais e a corrupção na venda de passagens continua a ser um problema grave.
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