Circula em Cuba versão mais letal do "químico": Contém fentanilo, formol e anestésicos para animais

Cerca de 90% das pessoas que experimentam a substância química em Cuba acabam se viciando na primeira dose, segundo fontes oficiais do regime, que admitem sua rápida expansão e alta letalidade.


O regime cubano reconheceu oficialmente a presença e circulação em Cuba de uma versão muito mais letal do “químico”, uma droga sintética que é distribuída em papéis atomizados e cuja composição, segundo admitem peritos do Ministério do Interior (Minint), inclui substâncias altamente perigosas como fentanil, formol, anestésicos para animais, benzodiazepinas e fenobarbital.

Este reconhecimento oficial representa uma mudança no discurso que até agora havia minimizado a gravidade do fenômeno, segundo um reportágio da oficialista Cubadebate.

Longe de ser um problema isolado ou controlado, como tentaram apresentar em outras ocasiões, as autoridades admitem que foram detectadas hospitalizações por overdoses, aumentos nos processos penais relacionados ao tráfico de drogas e um padrão de consumo crescente entre os jovens cubanos.

Em declarações a meios estatais, a capitã Leidy Laura Aragón Hernández, especialista em Toxicologia do Laboratório Provincial de Criminalística, explicou que a nova versão do “químico” é fabricada em laboratórios clandestinos fora do país e chega a Cuba camuflada principalmente em papel, em bolsas com bijuteria ou entre plantas aromáticas como o orégano, o que dificulta sua detecção.

Cada lote, além disso, pode diferir drasticamente do anterior, o que aumenta o risco de intoxicações fatais.

“O químico produz efeitos devastadores. É entre 50 e 100 vezes mais potente que o THC da maconha. Uma única dose pode provocar taquicardias severas, hipertensão aguda e crises psicóticas. Em alguns casos, os consumidores sofreram episódios de desinibição extrema, chegando a se despir em via pública sem ter consciência de seus atos”, afirmou a perita.

Os testemunhos de vítimas e familiares refletem com crueza o impacto desta droga na sociedade cubana.

Ismael, de 21 anos, relata que começou a consumir "por curiosidade, na esquina do bairro", mas o que se seguiu foi uma queda vertiginosa na dependência: "Vendi até minhas roupas. Eu me sentia bem, mas depois era apenas desespero. Pensei que ia morrer."

No caso de Javier, de 24 anos, o “químico” significou um ano de isolamento, violência e ruína: “Me deixou sem dinheiro, sem dignidade, sem família. Eu chorava jogado no chão, sem conseguir parar. Minha esposa me implorava para que eu parasse, mas eu já não controlava nada”, confessa.

Hoje, após vários meses limpo, sua mensagem é clara: “A droga não é um jogo. É uma bomba que destrói famílias, saúde, sonhos. Nem sequer experimentem.”

Os operativos do Minint confirmam que o “químico” já não é um fenômeno marginal, mas sim uma ameaça generalizada que afeta todos os setores sociais e que o regime não conseguiu controlar.

Em Sancti Spíritus, uma das províncias mais envelhecidas de Cuba, agentes encobertos conseguiram prender em maio de 2024 uma jovem oriunda de Havana que transportava mais de 400 doses da substância.

A droga, impregnada em orégano, seria distribuída entre jovens da região, e juntamente com ela foi preso um jovem espirituano responsável pela sua venda.

O chefe provincial da unidade antidrogas, tenente-coronel Iván Ruiz Mata, precisou que a droga detectada provém majoritariamente da capital do país e que seu baixo custo, entre 200 e 300 pesos por dose, a torna uma opção acessível para muitos adolescentes.

“Antes, os espirituanos evitavam as drogas pesadas, mas isso mudou. Hoje, 90 por cento daqueles que experimentam a substância química ficam viciados após a primeira dose”, assegurou.

O fiscal chefe de Processos Penais da província, Yoan Leonel Pereira Bernal, informou que no primeiro trimestre de 2025 foram abertos cinco processos penais relacionados a drogas, em comparação a apenas um no mesmo período do ano anterior, outro sintoma evidente de alarme.

As penas variam entre quatro e trinta anos de prisão, dependendo do papel e da gravidade do crime.

“Quem transporta, introduz, fabrica ou comercializa drogas enfrenta sanções severas. Mas também há um agravante claro quando menores de idade são utilizados no processo. Nesses casos, se acrescenta o crime de corrupção de menores”, explicou o promotor.

Além disso, alertou sobre o fenômeno do "consumo compartilhado", quando um dependente adquire a droga e a distribui entre amigos, o que já é considerado tráfico de drogas.

A história de Kenia, de 23 anos, evidencia essa realidade. Condenada a sete anos de prisão por tráfico de drogas, foi detida quando tentava distribuir papel impregnado com química.

“Me deixei levar por amizades equivocadas. Achei que nada iria acontecer. Agora estou presa, meus pais adoeceu e minha vida ficou em pausa”, conta desde sua cela.

O regime, pressionado pela proliferação do consumo e pela preocupação social, começou a implementar ações preventivas em bares privados, discotecas e centros educativos.

O diretor de Educação em Sancti Spíritus, Andrei Armas Bravo, reconheceu que, embora não tenham sido detectados casos de tráfico dentro das escolas – segundo seu depoimento –, há sim alunos envolvidos em situações de consumo fora da sala de aula.

"É preciso trabalhar com a família. É o núcleo onde começa a prevenção. Nós identificamos onde estão os focos principais e lá estamos reforçando o trabalho preventivo, sobretudo no ensino fundamental e pré-universitário”, explicou o funcionário.

Pero além de operações, controles ou campanhas escolares, o problema exige um olhar profundo: o químico já está em Cuba e está cobrando vidas, saúde mental e projetos de futuro, tudo isso em meio ao colapso institucional e à ausência de políticas públicas eficazes em matéria de saúde e reabilitação.

A admissão do regime sobre a composição real e o alcance do “químico” constitui um sinal de alarme.

Já não se trata de um fenômeno estrangeiro ou anedótico: é uma crise nacional que está enraizando em bairros, centros recreativos e lares cubanos, diante do olhar atônito de uma sociedade cada vez mais desgastada.

Perguntas frequentes sobre o consumo de "El Químico" em Cuba

O que é "El Químico" e por que é tão perigoso?

"El Químico" é uma droga sintética pertencente ao grupo dos cannabinoides sintéticos, projetada para imitar os efeitos da maconha, mas com uma potência e perigosidade muito maiores. É produzida de maneira clandestina, utilizando compostos tóxicos como fentanilo, formol e anestésicos para animais, o que aumenta o risco de intoxicações e overdoses. Seus efeitos são devastadores e podem incluir taquicardia, hipertensão, convulsões, alucinações e danos neurológicos irreversíveis.

Como se expandiu o consumo de "El Químico" em Cuba?

O consumo de "El Químico" se expandiu rapidamente em Cuba devido à sua produção clandestina e seu baixo custo, o que o torna acessível para muitos jovens. A droga é distribuída em papéis atomizados ou camuflada em objetos como bijuterias ou plantas aromáticas. Sua acessibilidade e o impacto social transformaram "El Químico" em uma crise nacional, afetando especialmente adolescentes e jovens de setores vulneráveis.

Que medidas está tomando o governo cubano contra o tráfico de "El Químico"?

O governo cubano intensificou as operações policiais e as sanções penais contra o tráfico de "El Químico". Foram realizados prisões em massa e julgamentos exemplarizantes, com penas de até 30 anos de prisão. Além disso, foi criado o Observatório Nacional de Drogas para monitorar o consumo e o tráfico de substâncias entorpecentes. No entanto, muitos consideram que as estratégias atuais, focadas principalmente na repressão, são insuficientes e demandam uma abordagem mais integral que inclua a prevenção e a reabilitação.

Quais são os efeitos a longo prazo do consumo de "El Químico"?

O consumo prolongado de "El Químico" pode causar danos irreversíveis à saúde mental e física. A longo prazo, os usuários podem desenvolver transtornos como ansiedade, psicose e alucinações, bem como sofrer insuficiência renal, hepática e cardíaca. A droga tem um alto potencial de dependência, o que agrava seus efeitos destrutivos na vida dos consumidores.

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