Cantor Ulises Aquino exige "mudanças ideopolíticas profundas" em Cuba diante da crise sistêmica sem soluções visíveis

O diretor da Ópera da Rua critica a incapacidade do governo para resolver os problemas do país e clama por uma transformação radical sem "morosidade" nem restrições conservadoras.

O medo de perder o controle e o poder por parte do governo coloca o país em um estado de inércia, afirma AquinoFoto © Facebook/Ulises Aquino

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O cantor lírico Ulises Aquino Guerra, fundador e diretor do projeto comunitário Ópera de la Calle, destacou "a impossibilidade e a incapacidade do governo" cubano para resolver os graves problemas que afetam o povo, como a crise econômica, os apagões e a desesperança generalizada.

"Ainda que responsabilizemos o Bloqueio (estadunidense) ou todas as manobras contra o Governo de Cuba, nossa situação é tão grave e delicada que não se vislumbram soluções nem a curto nem a médio prazo se não ocorrer uma profunda mudança ideopolítica na nação", opinou o artista em uma publicação em seu perfil no Facebook intitulada "Falemos sobre SOLUÇÕES".

A seu juízo, é imprescindível uma liberação total das forças produtivas, sem as restrições impostas pelos setores mais conservadores e sem a "timidez" das reformas parciais realizadas até agora, em alusão ao imobilismo da hierarquia do partido comunista.

Captura de Facebook/Ulises Aquino Guerra

O reconhecido barítono alertou que a situação atual transcende o econômico, com impactos muito negativos na demografia, na sociologia e na psicologia dos cubanos, que "não têm um presente" e "muito menos poderão se ver no futuro de nossa terra".

Segundo Aquino, o medo de perder o controle e o poder com as mudanças necessárias e profundas "coloca o país em estado de inércia, em um profundo marasmo do qual as consequências resultarão na total perda da identidade cubana".

Também criticou a demagogia estatal, ao se referir às análises oficiais transmitidas em programas como a "Mesa Redonda", que, segundo ele, reduzem as soluções a "jarritas" e "almacenes de projetos", enquanto em lugares como Holguín a população sofre com apagões e todo tipo de limitações.

Lo anterior está relacionado con a comparecência televisiva no dia 25 de abril do governador de Holguín, Manuel Francisco Hernández Aguilera, que afirmou em um episódio digno da "ciência ficção revolucionária" que em Cuba a realidade não é medida em números ou fatos, mas sim em propaganda, slogans e entusiasmo voluntarista.

O artista exigiu "verdade" e "audácia" para enfrentar a crise, advertindo que a cada dia de imobilismo agrava-se a dívida com o povo e coloca em perigo a identidade cubana. Afirmou que "ninguém nem nada" pode estar acima do direito à vida.

Finalmente, demandou uma "revolução do pensamento" para eliminar a burocracia e os estigmas que impedem o desenvolvimento do país, e defendeu o direito à liberdade "para construir, para criar, para negociar, para investir, para desenvolver, sem limites, não com insegurança e medos".

"Todos temos o direito de não estarmos conformados e de manifestar isso, pois já tiveram tempo suficiente para encontrar soluções. Atrincherar-se para atirarmos uns contra os outros não trará soluções", concluiu.

Ulises Aquino Guerra (La Habana, 1963) é um destacado barítono, promotor e diretor teatral reconhecido como uma das mais importantes vozes do canto lírico no mundo. A execução de óperas, zarzuelas e operetas confirma sua versatilidade e qualidades vocais e interpretativas.

No dia 28 de abril de 2006, fundou a Ópera de la Calle, um projeto artístico comunitário que chegou a contar com cerca de 80 membros e uma ópera infantil composta por 120 crianças, com as quais realizavam apresentações conjuntas.

Segundo Ecured, a companhia contava com diversas fontes de renda; a parte artística era subvencionada pelo Estado, através do Conselho Nacional das Artes Cênicas, e outra área de renda correspondia à sua autonomia como empresa.

Es um dos artistas cubanos que mais abertamente criticou as medidas do regime que, nos últimos anos, aceleraram o empobrecimento da população na ilha e o êxodo migratório.

Em agosto de 2012, o governo de Havana cancelou as licenças de Aquino para operar o restaurante El Cabildo, sede da Ópera de la Calle, onde apresentava seu espetáculo musical e de dança, com uma mistura de ópera, zarzuela, rock e ritmos cubanos.

Perguntas frequentes sobre a situação política e econômica em Cuba

Por que Ulises Aquino critica o governo cubano?

Ulises Aquino critica o governo cubano por sua incapacidade de resolver os graves problemas que afetam o povo, tais como a crise econômica, os apagões e a desesperança generalizada. O cantor enfatiza que sem uma profunda mudança ideopolítica, não se vislumbram soluções nem a curto nem a médio prazo, e exige uma liberação total das forças produtivas e o fim das restrições impostas pelos setores mais conservadores do partido comunista.

O que Ulises Aquino propõe como solução para a crise em Cuba?

Ulises Aquino propõe uma "revolução do pensamento" que elimine a burocracia e os estigmas que impedem o desenvolvimento do país. Defende o direito à criatividade, ao comércio e ao investimento sem limites, e critica a insegurança e os medos que predominam no sistema atual. Aquino insiste que a verdade e a audácia são necessárias para enfrentar a crise e proteger a identidade cubana.

Qual é o impacto da crise energética em Cuba segundo o contexto?

A crise energética em Cuba levou a apagões prolongados que afetam gravemente a qualidade de vida dos cubanos. Relatórios indicam que o déficit de geração elétrica supera os 1.500 MW, o que gera mal-estar e desespero entre a população. As condições extremas normalizaram uma vida de privações, enquanto o governo continua sem oferecer soluções eficazes, o que aumenta a frustração social.

Como se relaciona a crítica de Ulises Aquino com a situação de outros artistas em Cuba?

A crítica de Ulises Aquino se relaciona com as denúncias de outros artistas cubanos como Ulises Toirac, que também expressaram seu descontentamento com a situação em Cuba. Ambos os artistas destacam a necessidade de mudanças estruturais no país para superar a crise econômica e social. Toirac, por exemplo, critica a falta de geração de riqueza e o ciclo vicioso da economia, enquanto Aquino sublinha a importância de liberar as forças produtivas.

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