Ulises Toirac sobre a crise migratória e liderança mundial: "Estou vendo a lei do cabelo no local."

O humorista critica a insensibilidade diante da crise migratória e adverte que as decisões dos EUA afetam o mundo: "As economias se reacomodam para não depender do peo".


O comediante cubano Ulises Toirac, com o senso de humor que o caracteriza, analisou a crise migratória que afeta milhares de seus compatriotas e questionou a liderança política global utilizando uma metáfora peculiar: comparou a situação com “a lei do peo no local”, em referência ao modo como as pessoas se reacomodam quando alguém perturba o ambiente.

Esta reflexão foi compartilhada no Facebook nesta quarta-feira, em um extenso texto em que aborda as consequências de certas decisões de política internacional, particularmente aquelas adotadas pela atual administração de Donald Trump.

Captura Facebook / Ulises Toirac

“Estou vendo a lei do peo no local”, escreveu Toirac, aludindo a como os países e empresas tendem a modificar suas alianças e estratégias quando percebem que depender de uma nação com políticas instáveis pode ser prejudicial.

“Isso significa, em uma perspectiva global, que as economias e empresas irão reacomodar suas alianças e objetivos, vão evitar depender tanto de ‘o do cabelo’, uma vez que essa dependência pode ser prejudicial. E isso é, a longo prazo, uma perda de liderança”, apontou.

Toirac deixou claro desde o início que sua análise parte de uma postura externa: “Não é meu país, não é meu presidente, não é meu problema”, afirmou, sublinhando que respeita a decisão de cada nação de escolher seus líderes e de quem os apoia.

No entanto, ele ressaltou que as consequências globais de certas decisões não podem ser ignoradas: também deixou claro que prefere não opinar publicamente sobre Trump por respeito a amigos que o consideram um bom presidente, mesmo quando alguns o insultaram por não compartilhar esse ponto de vista. “Coloco a amizade acima do desacordo político”, escreveu.

Em sua mensagem, o humorista lamentou a tragédia humana que vivem milhares de migrantes cubanos: “Milhares de compatriotas estão sendo colocados na situação de sair de um país ao qual acudiram desesperadamente em busca de uma vida melhor. De vida. Porque a que tinham não era. Para muitos […] esse passo significou queimar as naus”.

Criticou, além disso, a insensibilidade daqueles que reagem com sarcasmo diante do sofrimento alheio: “Muitos […] fazem piadas e deixam aflorar todo sentimento desumano que possuem na crença de uma superioridade inexistente, de uma posição segura que lhes permite julgar e rejeitar. Primeiro está a alma. Ela fala.”

Embora tenha evitado se referir diretamente a Trump, foi contundente ao destacar que se um país como Cuba tivesse adotado as recentes medidas tarifárias tomadas pelos EUA, “ninguém ficaria sabendo do assunto”.

Em contraste, o que aconteceu “foi um terremoto que não afetou apenas a economia doméstica dos EUA, mas a de todo o mundo”. Segundo Toirac, a teia comercial internacional é como um organismo vivo, e quando uma de suas partes altera o equilíbrio, as demais se reacomodam para evitar riscos.

No plano mais íntimo, o ator pediu respeito aos seus seguidores, especialmente àqueles que simpatizam com Trump: “Amigos trumpistas, não admito reações extremistas. Tenho sido respeitoso ao dizer o que penso, mas não com a crudeza com que na verdade penso. Não vou nem discutir”, alertou, após esclarecer que tem passado semanas lendo e estudando antes de opinar.

O humorista fechou sua mensagem lembrando que os verdadeiros valores de uma nação se constroem a partir do respeito, da empatia e da coerência com os princípios que a fundaram: “Os fundadores […] projetaram, em sua Constituição, uma nação com valores que não estão sendo respeitados. Com a justificativa que for.”

Nos últimos meses, Toirac tem utilizado ativamente suas redes sociais para compartilhar, à sua maneira, agudas reflexões sobre a realidade cubana, combinando ironia, conhecimento técnico e uma dose de sensibilidade social.

Recentemente, o humorista —que é engenheiro eletroenergético por formação— dedicou uma publicação aos trabalhadores do setor elétrico cubano, saindo em sua defesa após fortes críticas recebidas durante os apagões.

Afirmou que não são responsáveis pelo colapso energético, mas sim aqueles que ainda conseguem mantenê-lo diante de condições extremas. “Eles não têm culpa, têm coragem”, destacou, ressaltando seu sacrifício em meio ao deterioração estrutural do sistema.

D dias antes, Toirac compartiu uma visão ainda mais ampla sobre a situação nacional, apontando que “Cuba está se destruindo”. Sem dramatismos, mas com crueza, refletiu sobre o desgaste emocional, a falta de liderança, a decadência moral da sociedade e a perda do horizonte do país.

Questionou o papel das autoridades e a atitude passiva de aqueles que se refugiam na nostalgia ou na inércia para não agir. Afirmou que muitos já não buscam melhorar, mas sim sobreviver, enquanto o tecido social se desintegra sem uma direção clara.

Em janeiro, o comediante enviou uma mensagem direta ao regime cubano: “Arrume sua casa e depois exija respeito do vizinhança”, escreveu em um post onde reclamou que parem de usar as agressões externas como desculpa para ocultar os problemas internos.

Denunciou a desigualdade, a repressão judicial e a falta de direitos como parte de uma estrutura anquilosada que não permite mudanças reais. Além disso, ressaltou que muitas das restrições externas terminam afetando diretamente o cidadão comum, e não o poder estatal.

Perguntas frequentes sobre a crítica de Ulises Toirac à situação política e social em Cuba

O que Ulises Toirac pensa sobre a crise migratória cubana?

Ulises Toirac lamenta a tragédia humana que vivem milhares de migrantes cubanos e critica a insensibilidade de quem reage com sarcasmo diante do sofrimento alheio. Considera que muitos cubanos são obrigados a deixar o país em busca de uma vida melhor devido a uma situação insustentável em Cuba.

Por que Ulises Toirac critica a liderança mundial e a política dos Estados Unidos?

Ulises Toirac questiona a liderança mundial, especialmente as políticas internacionais dos Estados Unidos, às quais se refere como uma "lei do peo no local". Critica como essas políticas afetam a estabilidade econômica global e considera que as decisões de alguns líderes têm repercussões negativas em todo o mundo.

Como Ulises Toirac utiliza o humor para abordar temas sérios em Cuba?

Ulises Toirac utiliza o humor como uma ferramenta crítica para abordar temas sérios em Cuba, como a crise econômica e social. Por meio de metáforas e analogias, denuncia a falta de liberdades e a ineficácia do governo na gestão de recursos e políticas. Seu humor destaca as contradições do regime e busca gerar reflexão entre seus seguidores.

Qual é a postura de Ulises Toirac em relação ao governo cubano?

Ulises Toirac adota uma postura crítica em relação ao governo cubano, apontando sua incompetência e a falta de vontade para implementar mudanças reais. Critica a opulência dos descendentes da elite governante e denuncia a falta de liberdade e justiça no país, o que considera uma traição aos valores fundacionais da nação.

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Equipe Editorial da CiberCuba

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