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O maior banco dos Estados Unidos prevê uma contração do PIB, alta inflação e aumento do desemprego, em um ambiente de estagflação impulsionado pela nova política comercial do presidente Donald Trump.
JPMorgan Chase & Co., o maior banco de investimento do mundo, acionou os alarmes ao prever uma recessão econômica nos Estados Unidos na segunda metade de 2025.
A advertência foi emitida em uma nota dirigida a seus clientes por Michael Feroli, economista chefe da firma nos EUA, que responsabilizou diretamente a nova onda de tarifas impulsionada pela administração de Donald Trump.
Projeção negativa: Queda do PIB e mais desemprego
O diagnóstico da Feroli é contundente, conforme revela o meio americano Bloomberg em uma análise detalhada.
O analista estima que o produto interno bruto (PIB) real dos EUA vai contrair-se 1% no terceiro trimestre de 2025 e 0,5% no quarto, o que implica uma queda anual de 0,3%.
Isso representa uma mudança brusca em relação à projeção anterior de crescimento de 1,3%.
“Agora esperamos que o PIB real se contraia sob o peso das tarifas, e para todo o ano (4T/4T) buscamos um crescimento do PIB real de -0,3 %, em comparação com os 1,3 % anteriores”, apontou Feroli.
Além disso, espera-se um deterioramento do mercado de trabalho. Segundo Feroli, a taxa de desemprego poderá subir para 5,3%, em comparação com os 4,2% registrados em março, à medida que a atividade econômica desacelera.
"Acreditamos que a fragilidade substancial do mercado de trabalho prevalecerá no final, sobretudo se resultar em um menor crescimento salarial, o que dará ao comitê maior confiança de que não está se consolidando uma espiral de preços e salários."
Aranceles generalizados e risco de estanflação
A origem do deterioramento econômico está na política tarifária de Trump, que anunciou na última quarta-feira um novo pacote de tarifas que afeta 180 países e territórios, com um imposto mínimo de 10% sobre as importações.
Alguns parceiros comerciais enfrentarão impostos significativamente mais altos: Vietnã (46%), Tailândia (36%), China (34%), Indonésia (32%), Japão (24%) e a União Europeia (20%).
O impacto do aumento de preços pode ser ainda maior do que o experimentado durante o pico inflacionário pós-pandêmico”, advertiu Feroli.
"Diferentemente de antes, agora o crescimento da renda nominal está se moderando, o que deixa os consumidores em uma posição mais vulnerável", acrescentou.
Segundo Feroli, essas medidas não apenas frearão o crescimento, mas também exercerão pressão sobre os preços.
A inflação medida pelo índice de gastos com consumo pessoal (PCE) subjacente, o indicador preferido pelo Federal Reserve, pode encerrar o ano em 4,4%, bem acima dos 2,8% registrados em fevereiro.
Este cenário - baixo crescimento e alta inflação - configura um ambiente de estagflação, um dos contextos mais desafiadores para os responsáveis pela política econômica.
“Se materializar, nosso prognóstico estanflacionário apresentaria um dilema para os responsáveis pela política monetária da Reserva Federal”, escreveu Feroli.
Resposta do Federal Reserve e cautela de Powell
Diante da perspectiva de uma recessão, Feroli prevê que o Federal Reserve inicie um ciclo de cortes nas taxas de juros a partir de junho, com uma redução de 25 pontos base por reunião até alcançar um intervalo de 2,75 % a 3 % no começo de 2026.
Esta projeção se mantém apesar da atitude prudente do presidente do organismo, Jerome Powell.
"Parece que não precisamos nos apressar" para ajustar as taxas, afirmou Powell na sexta-feira.
Forte reação dos mercados
O impacto imediato dos anúncios não demorou a ser sentido em Wall Street.
O índice S&P 500 despencou para seu nível mais baixo em 11 meses, com uma perda de 5,4 trilhões de dólares em apenas duas sessões de bolsa.
O Dow Jones caiu cerca de 8% (cerca de 3.300 pontos), entrando em território de correção, enquanto o Nasdaq, com forte peso tecnológico, perdeu 10% e entrou oficialmente em um mercado de baixa após uma queda acumulada de 20% desde seu último recorde histórico.
Outras entidades também reduzem projeções
A advertência do JPMorgan se soma a uma onda de revisões pessimistas por parte de outras entidades financeiras.
Barclays Plc reduziu sua previsão de crescimento, antecipando uma contração do PIB “em consonância com uma recessão”.
O Citi revisou sua projeção para 0,1%, enquanto o UBS a ajustou para 0,4%.
Jonathan Pingle, economista-chefe do UBS nos EUA, antecipa um forte ajuste comercial:
“Prevemos que as importações norte-americanas provenientes do resto do mundo cairão mais de 20% durante nosso horizonte de previsão, principalmente nos próximos trimestres, o que devolverá a proporção das importações ao PIB aos níveis anteriores a 1986”, indicou.
“A contundência da política comercial implica um ajuste macroeconômico substancial para uma economia de 30 trilhões de dólares”, acrescentou.
O que Trump diz sobre uma possível recessão?
Em março, Trump admitiu -antes de anunciar seu polêmico pacote de tarifas globais- que o país poderia enfrentar um "período de transição" econômica como resultado da guerra tarifária que impulsiona contra diversas potências internacionais.
No entanto, o presidente prometeu que -superado esse momento- no final os Estados Unidos terão tanto dinheiro que nem saberão o que fazer com ele.
Em uma entrevista concedida à Fox News, à pergunta “você espera uma recessão este ano?”, Trump respondeu:
"Odiar prever coisas assim. Há um período de transição, porque o que estamos fazendo é muito grande... Leva um pouco de tempo, leva um pouco de tempo."
No obstante, ao mesmo tempo em que reconheceu a possibilidade de uma recessão temporária, insistiu que os benefícios a longo prazo justificarão os sacrifícios atuais: "Estamos trazendo a riqueza de volta para os EUA".
Um desafio global com raízes internas
JPMorgan Chase & Co. é uma das instituições financeiras mais influentes do mundo.
Com sede em Nova Iorque, opera em mais de 100 países e emprega centenas de milhares de pessoas.
Através de suas divisões J.P. Morgan (banco de investimento e gestão de ativos) e Chase (serviços para consumidores), a empresa desempenha um papel central na economia mundial.
Devido ao seu tamanho e importância, a entidade é considerada uma “instituição financeira sistemicamente importante”, o que implica uma supervisão regulatória rigorosa para garantir a estabilidade global do sistema financeiro.
Em resumo, a previsão da JPMorgan reflete uma visão sombria para a economia dos Estados Unidos em 2025.
Com políticas comerciais mais agressivas, queda do PIB, inflação elevada, aumento do desemprego e uma Fed presa entre decisões difíceis, os Estados Unidos parecem estar se encaminhando para uma nova fase de incerteza econômica. Para Wall Street, a recessão já não é apenas uma possibilidade: é uma previsão com nome, números e consequências claras.
Perguntas frequentes sobre a recessão econômica nos EUA e as políticas tarifárias de Trump
Por que se prevê uma recessão econômica nos EUA para 2025?
A recessão econômica nos EUA é prevista devido às políticas tarifárias agressivas do presidente Donald Trump, que aumentaram os custos de importação, provocando uma contração do PIB, alta inflação e um aumento do desemprego. Essas medidas geraram um ambiente de estagflação, que é especialmente desafiador para as políticas econômicas do país.
Como afetarão as tarifas de Trump o consumidor americano?
As tarifas de Trump causarão um aumento médio de mais de 2.100 dólares anuais por lar americano, segundo um relatório da Tax Foundation. Os consumidores enfrentarão preços mais altos em produtos essenciais como eletrônicos, roupas e automóveis, já que os custos adicionais de importação serão repassados aos preços de venda ao público.
Quais setores da economia americana serão mais afetados pelos tarifas?
O setor automotivo, o de eletrônicos de consumo e o de produtos têxteis serão gravemente afetados pelos impostos alfandegários. Esses setores dependem em grande parte das importações e, portanto, experimentarão um aumento significativo nos custos operacionais, o que pode levar a uma diminuição da demanda e à perda de empregos.
Como a Reserva Federal reagiu diante da possível recessão?
A Reserva Federal sinalizou que poderia iniciar um ciclo de cortes nas taxas de juros para estimular a economia, apesar da cautela do presidente Jerome Powell. O Fed tenta gerenciar o risco de estagflação e manter as expectativas inflacionárias a longo prazo sob controle.
Quais poderiam ser as consequências globais das tarifas de Trump?
Os tarifas de Trump podem desencadear uma guerra comercial em grande escala, provocando represálias de outros países e afetando negativamente as cadeias de suprimento internacionais. Isso pode levar a uma desaceleração no crescimento econômico global e aumentar a instabilidade econômica em diversas regiões do mundo.
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