Um vídeo publicado no TikTok pela usuária kary_y_jonyyoutuber gerou uma onda de reações ao evidenciar a precária situação econômica em Cuba. Na gravação, a autora, Kary Sánchez, denuncia que seu esposo, um advogado, recebe um salário mensal de 4.700 pesos cubanos (CUP), o que equivale a aproximadamente 14 dólares na taxa de câmbio informal, e mostra como todo o seu salário é consumido em uma compra básica de alimentos, não sendo suficiente para cobrir as necessidades do mês.
No vídeo, Sánchez (@kary_y_jony) explica: "Meu marido é formado em direito e recebe 4.700 pesos cubanos por mês, que equivalem a aproximadamente 14 dólares. Com esse dinheiro, compramos 2 kg de arroz por 1.400 pesos, 1 kg de açúcar por 600 pesos, além de termos comprado 1 litro de óleo por 990 pesos. Os legumes não eram da melhor qualidade, então compramos um picadinho de frango por 360 pesos, 1 kg de fígado de frango também por 850 pesos, 4 cabeças de alho por 280 pesos, 2 libras de tomate por 120 pesos e um pote de ají cachucha por 150 pesos, ficando com um sobregiro de 50 pesos cubanos. Diga-me, você acha que com esses alimentos é possível sobreviver um mês inteiro? Você sabia que esse era o salário de um advogado em Cuba?"
O vídeo se viralizou rapidamente, alcançando mais de 22.000 'curtidas', 1.200 comentários e 1.000 compartilhamentos em poucos dias. As reações nos comentários mostram uma mistura de indignação, ceticismo e comparações com a situação em outros países. Um usuário comentou: "Gasto 14 dólares em um café da manhã". Outro apontou: "Aqui no Peru, um almoço para uma pessoa custa 14 dólares". De Venezuela, um usuário informou: "Ganho mais do que aqui na Venezuela, sou médico e ganho 3 dólares a cada quinzena". Outro expressou incredulidade: "E como sobrevivem? Não têm anemia, bom estado físico, como fazem?". Um comentário da República Dominicana destacou: "14 dólares na República Dominicana se vão em um único dia".
Alguns questionaram a conversão do salário cubano para dólares. Um usuário indicou: "Isso é mentira, 4.700 CUP são 195 dólares, não 14". Outro perguntou: "Se não têm dinheiro, como pagam roupas, óculos e o celular?". Também houve críticas ao sistema de governo: "Continuem votando no comunismo", comentou um usuário. Outro escreveu: "É preciso acabar com o comunismo que tem um povo vivendo indignamente". Em contraste, alguns defenderam a política oficial e culparam os EUA: "A culpa é das autoridades cubanas ou do bloqueio que eles possuem?", perguntou um usuário.
O vídeo não apenas reflete a percepção popular, mas também é respaldado por análises econômicas recentes. Um estudo do economista Omar Everleny Pérez Villanueva revelou que o custo mensal da alimentação básica para duas pessoas em Havana atingiu em dezembro de 2024 os 24,351 CUP (202 dólares), o que equivale a 12 vezes o salário mínimo cubano de 2,100 CUP. Em contraste, em 2020, quando o governo cubano estabeleceu esse salário mínimo, o valor do peso cubano estava avaliado em 24 CUP por cada dólar americano. No entanto, a inflação e a desvalorização do CUP no mercado informal reduziram drasticamente seu valor real.
Além disso, o próprio regime cubano reconheceu a inviabilidade do atual nível salarial. Em fevereiro de 2025, o vice-presidente Salvador Valdés Mesa reconheceu publicamente que "com um salário de 6.000 CUP não é possível viver", embora não tenha oferecido soluções concretas para a crise. Isso se soma à crise em setores chave como a saúde e a educação, onde o governo tentou conter o êxodo de profissionais com aumentos salariais em 2024, destinando mais de 25 bilhões de CUP a esses setores. No entanto, especialistas alertam que esses aumentos não são suficientes para compensar a inflação nem para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores.
As denúncias sobre a precariedade dos salários estatais em Cuba têm sido constantes. Profissionais da saúde, docentes e outros setores têm manifestado nas redes sociais que precisam destinar meses de salário para adquirir um único produto básico, como leite em pó ou alimentos frescos. No caso dos médicos, por exemplo, um especialista com mais de 30 anos de experiência mal ultrapassa os 6.000 CUP, uma quantia insuficiente diante do custo de vida atual. O aumento salarial anunciado em 2020 fixou o salário mínimo em 2.100 pesos cubanos e estabeleceu um sistema de faixas para distintos setores. No entanto, a medida não conseguiu conter a depreciação do CUP nem a inflação, o que levou a uma crise de poder aquisitivo ainda mais grave.
Apesar de tentativas recentes de melhorar a renda em setores-chave como a educação e a saúde, o regime cubano destinou fundos para aumentos salariais sem que isso se traduza em melhorias reais no poder de compra dos trabalhadores.
O vídeo viral é uma demonstração do crescente descontentamento na sociedade cubana diante da crise econômica. A impossibilidade de sobreviver com os salários estatais tornou-se uma realidade inegável, refletida em estudos econômicos e reconhecida até mesmo pelo governo. Enquanto os preços continuam a subir e os salários permanecem congelados, os cubanos enfrentam uma luta diária pela sobrevivência em um sistema que não oferece soluções imediatas.
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