"Ayer não houve tanto apagão": A frase de Díaz-Canel 72 horas antes do novo colapso do sistema elétrico em Cuba

O autor da famosa frase "estamos salaos" tentou minimizar a crise elétrica em Cuba durante uma visita na quarta-feira a Matanzas, mas nesta sexta-feira o sistema colapsou, evidenciando sua ineficiência em resolver a crise energética e generalizada que o país enfrenta.

Migueñ Díaz-Canel cumprimenta os vizinhos de Martí, em MatanzasFoto © X / @PresidenciaCuba

Vídeos relacionados:

Apenas três dias antes do novo colapso do Sistema Elétrico Nacional (SEN) nesta sexta-feira, que deixou quase todo o país às escuras, o governante cubano Miguel Díaz-Canel tentou minimizar a crise energética com uma frase que, em retrospectiva, apenas contribuiu para reforçar a percepção da desconexão do regime cubano com a realidade do povo.

"Ontem não houve tanto apagão", assegurou com otimismo em Matanzas, durante um percurso em que o também primeiro secretário do Partido Comunista de Cuba (PCC) tentou justificar as deficiências do sistema elétrico, justo quando essa província chegava a acumular dias de mais de 20 horas sem luz, chegando a sofrer 32 horas seguidas sem fornecimento elétrico.

Durante sua visita na última quarta-feira ao município de Martí, o governante reconheceu a gravidade da situação, admitindo que os matanceros haviam enfrentado cortes de energia de até "32 horas consecutivas", embora não tenha demorado a recorrer ao seu discurso habitual, responsabilizando o embargo estadunidense e as limitações econômicas do país.

Em sua intervenção, que foi transmitida ao vivo pelo governo provincial de Matanzas, Díaz-Canel afirmou que "a unidade do povo cubano é fundamental para superar os desafios atuais", convocando à resistência e à compreensão em meio à crise.

Como solução para a crise elétrica, o Dr. Díaz-Canel voltou a apostar em promessas para o futuro em vez de medidas concretas e imediatas. Segundo explicou, o governo está instalando parques fotovoltaicos em diferentes regiões do país, incluindo dois em Matanzas, que "contribuirão com mais de 170 megawatts para metade do ano e até mil megawatts para o final de 2025".

Três dias depois de sua fala em Martí, o governante voltou a estar no centro da atenção dos internautas cubanos, que lhe criticam sua ineficiência para resolver a crise energética e generalizada que se vive no país.

Captura de tela X / @DiazCanelB

"Trabalha-se intensamente para recuperar a estabilidade do SEN. Desde a noite passada e durante a madrugada, temos mantido comunicação permanente com o ministro Vicente de la O Levy. Várias províncias já montaram seus microsistemas e as unidades de geração começam a se sincronizar", informou neste sábado Díaz-Canel no X (antigo Twitter).

O contraste entre as palavras pronunciadas pelo governante e a realidade do país 72 horas depois não passou despercebido nas redes sociais. “Não precisamos de mais ‘trabalho incansável’. Precisamos de resultados, de pessoas que resolvam mais, mesmo que trabalhem menos. Um burro não faz em 20 horas o que um trator faz em cinco. Por favor, vão embora”, observou um usuário da rede social.

“Mas você tem energia elétrica. Quem vai pagar pelos equipamentos danificados devido a tantas oscilações e pelos alimentos estragados? Precisamos que você se pronuncie sobre isso. É vergonhoso”, criticou outro cubano nos comentários. Um terceiro considerou que “somente mudanças políticas, econômicas e sociais profundas poderão deter o deterioro e a desintegração do tecido nacional”.

Aqueles que se expressam de forma crítica nas redes sociais sobre sua gestão, Díaz-Canel dedicou um momento em sua aparição em Matanzas, qualificando-os como "odiadores". No entanto, 72 horas depois de demonstrar seu desprezo pelas vozes independentes que apontam a manifesta incapacidade de sua liderança e do governo da chamada "continuidade", o SEN volta a deixar o rei em situação vulnerável com o quarto colapso em menos de seis meses.

Enquanto o regime continua apostando em promessas vazias e justificativas técnicas sobre a "oscilação do sistema", a população enfrenta um cenário de precariedade absoluta.

A falta de eletricidade obrigou à suspensão de atividades laborais e escolares, além de colocar em risco o acesso a bens básicos como água potável e a conservação de alimentos. Mas, o Ministério do Turismo rapidamente se apressou a garantir que o setor hoteleiro tem um "apoio energético sólido", deixando claro quais são as verdadeiras prioridades do regime.

Em cada crise elétrica, as autoridades repetem o mesmo roteiro: promessas de recuperação rápida, apelos à resistência e discursos que minimizam a gravidade do problema. No entanto, cada novo colapso expõe ainda mais as fissuras de um sistema obsoleto e incapaz de garantir um serviço estável.

Arquivado em:

Equipe Editorial da CiberCuba

Uma equipe de jornalistas comprometidos em informar sobre a atualidade cubana e temas de interesse global. No CiberCuba, trabalhamos para oferecer notícias verídicas e análises críticas.