Carlos Varela sonha com uma Cuba próspera e democrática: “Muitos dinossauros devem desaparecer”

O artista defende em uma entrevista à rede pública PBS News que não é um cantautor político, apesar de ser censurado pelo regime de Díaz-Canel e de que em seus shows se ouvem gritos de "Liberdade"

O cantautor cubano é Carlos VarelaFoto © Foto: Facebook / Carlos Varela

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O cantautor cubano Carlos Varela compartilhou em uma entrevista com a rede pública americana PBS News que sonha com uma Cuba democrática, que ele considera "possível" e "necessária", embora reconheça que para alcançar esse sonho "muitos dinossauros têm que desaparecer", referindo-se ao que os comunistas cubanos chamam de "geração histórica", liderada por Raúl Castro, de 93 anos.

"Claro que a democracia em Cuba é possível. Pode ser. Tenho fé e sonho que o será, e espero que seja muito em breve", disse o cantor de "Muros e Puertas", ao jornalista Jeffrey Brown.

"Amo profundamente meu país e amo profundamente as gerações que viveram comigo em meu país. Me dói profundamente ver como tantos amigos partem a cada dia, em busca de um futuro possível e incerto. Sobre isso também falam minhas músicas. Este poderia ser um país maravilhoso e próspero simplesmente abrindo as portas e permitindo a alma e a liberdade individual de todos os cubanos para que desenvolvam todo o seu talento em sua própria terra. Para que isso aconteça, muitos dinossauros devem desaparecer", sentenciou.

Pese a que nunca ha rejeitado falar sobre política, apesar de que o regime de Miguel Díaz-Canel o censura; a que em seu último concerto em Cuba, após as manifestações massivas do 11J, em 2022, o público gritou "Liberdade", Varela defende nesta entrevista que ele não é um cantautor político.

"Não, eu não gosto de política e também não gosto de políticos. Todos os políticos deveriam estar no Animal Planet. Mas tenho preocupações sociais. Portanto, são políticas. E é por isso que, durante 43 anos, escrevi canções que incomodam os políticos em Cuba e fora dela. Estou de acordo com Bob Dylan quando diz que não se interessa em difundir uma única mensagem. É assim que penso", insistiu, após esclarecer que não pediu a ninguém que gritasse Libertad, mas também não pediu aos seus seguidores que não o fizessem.

Em suas declarações à PBS News, Varela também se mostrou severo com o que ele chama de "a indústria do ódio", ao destacar que "todos sabemos que nestes 60 e poucos anos (de castrismo), muitas pessoas se aproveitaram da indústria do ódio para ganhar dinheiro. O pior é que o povo é quem paga toda a culpa", respondeu quando o entrevistador fez alusão ao fato de que, da mesma forma que tem compartilhado palco com grandes artistas, também tem se visto preso no fogo cruzado entre políticos dos Estados Unidos e Cuba.

Carlos Varela (Havana, 1963) é uma das vozes mais influentes da canção de protesto cubana. Iniciou sua carreira nos anos 80 e se tornou uma figura chave da cena musical da Ilha, embora muitas de suas músicas tenham sido censuradas pelo regime, principalmente no rádio. Conhecido como "o Bob Dylan cubano", colaborou com artistas internacionais como Jackson Browne, Dave Matthews e Sting. Entre seus álbuns mais destacados estão 'Jalisco Park' (1989), 'Como os Peixes' (1994) e 'Não é o Fim' (2009).

Varela não se esconde para apoiar causas que incomodam o regime. Em março de 2020, o cantautor que naquele momento estava preso e aguardando julgamento na Ilha, por tentar participar de um beijo coletivo em protesto contra a censura de uma cena gay em um filme transmitido pela televisão cubana.

Em setembro de 2022, Varela pediu uma Cuba melhor, sem presos políticos nem artistas censurados, em um concerto na sala La Salá, em Valência (Espanha).

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